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2007-03-26
No comando do polêmico processo de liberação comercial de produtos transgênicos no país, o médico bioquímico Walter Colli, 68 anos, atravessa um momento de turbulência à frente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Questionado por ONGs e pelo Ministério Público Federal, pode perder o cargo numa ação de anulação de sua nomeação.

Em entrevista ao Valor, o professor da USP, avisa que vai brigar para permanecer: "Não desisto. Nunca desisti de nada. Eu sou tirado, demitido como fui do Butantan, mas não peço demissão. Vão ter que me agüentar, me engolir". Em 1999, foi demitido pelo então governador Mário Covas porque criticou a falta de verbas do instituto.

Envolvido em todas as controvérsias da área, Colli parece disposto a ampliá-las. Na semana passada, suspendeu a reunião da CTNBio porque o Greenpeace queria participar da sessão. Ele afirma que a resistência à biotecnologia embute interesses industriais.

"Por que as empresas que são acusadas de ter interesse de que o Brasil plante transgênicos não fazem nada? Não vejo se manifestarem em combate a essas ONGs. Uma pessoa me respondeu: porque eles vendem os transgênicos para os argentinos e os agrotóxicos para os brasileiros", provoca. "É evidente que a indústria de agrotóxicos, no momento em que os transgênicos começaram a aparecer, se assustou. Mas como o business deles é ganhar dinheiro e não vender agrotóxicos, migraram para os transgênicos".

Colli acredita que a oposição aos transgênicos será menor quando empresas brasileiras entrarem no mercado. "Dizem que nós discutimos apenas interesse de multinacionais. Não é verdade. O problema é que as empresas brasileiras, e aí incluída a Embrapa, ainda não chegaram a ter produtos para a liberação comercial. Como vão reagir esses grupos contrários aos transgênicos feitos no Brasil?", diz.

A oposição aos transgênicos, segundo ele, é ideológica. "Na verdade, porque os transgênicos foram feitos por multinacionais existe gente que combate. Nasceu assim e de repente virou uma bola de neve". E os defende: "O pequeno agricultor não vai se beneficiar se plantar o melhor milho possível? Que não precisa carpir, usar roçadeira, gastar energia, com uma espiga maior, que dá mais por hectare? Todos vão se beneficiar. Não é só a multinacional, o grande fazendeiro". Colli diz que o milho transgênico não altera a biodiversidade. "Altera se constrói uma hidrelétrica. Mas uma planta geneticamente modificada, que não cruza com o meio ambiente no entorno?"

Colli critica a postura das empresas na CTNBio: "Que as empresas não ganharam a batalha da comunicação, que pareciam arrogantes porque nunca se adiantaram quando solicitações foram feitas, tudo isso é verdade". E analisa: "A postura das empresas é passiva. Não saem a público para expor suas idéias. Só vieram à audiência, algumas empresas, porque tiveram que expor seus milhos".

No caso do milho tolerante a herbicidas com glufosinato de amônio Liberty Link, da Bayer, afirma que a empresa "respondeu às três perguntas" da CTNBio. "Neste processo deste milho, a formação de convicção já está muito cristalizada". Mas diz não ter um lado na polêmica. "Eu, pessoalmente, não tenho interesse nenhum em aprovar milho transgênico ou 'destransgênico'. Estou na comissão como cientista. Estou preocupado que os pedidos de pesquisa não sejam prejudicados. Parar o país nesta área é um crime contra a nação".

Ao mesmo tempo, Colli admite a pressão por rapidez: "Não estou sendo pressionado somente por ambientalistas. Estou sendo pressionado também por uma parcela ponderável da sociedade. Não são as multinacionais. Pode ser que as multinacionais estejam por detrás, mas quando tem 30 mil assinaturas de pequenos agricultores querendo plantar, não devo levar isso em consideração?". Para ele, a rejeição de uma vacina contra a doença de Aujeszky precipitou a mudança no quórum. "Contribuiu para provocar o apressamento da medida provisória", diz.

Na sua opinião, a lei ajudou a complicar a situação: "Talvez, a crítica maior seja à própria Lei de Biossegurança, que transformou a CTNBio num palco de batalhas, quando, na verdade, o palco devia ser o outro órgão [CNBS]". E defende regras para liberação só quando for votar: "Sou contra legislar antes do problema. Legislaria antes de aprovar o milho. Não estamos aqui para fazer leis. Não somos legisladores. Temos que legislar à medida que os problemas aparecem". Ele acha que a redução do quórum vai ajudar. "É evidente que vai facilitar a aprovação. (...) Mas já tinha falado que não é porque ele aprovou isso [a MP] que vamos sair correndo e aprovar tudo".

E ataca os membros ideológicos. "O outro grupo, o majoritário, não tem esse engajamento ideológico do grupo minoritário. E há uma postura mais estrita ou menos estrita, dependendo do engajamento de cada um". Colli rebate críticas à condução das reuniões. "Nunca vi pessoa mais democrática do que eu. Poderia cassar a palavra. Não faço isso. É uma crítica injusta. Não sou impermeável".
(Por Mauro Zanatta, Valor Econômico, 26/03/2007)

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