Faltam 8 mil lixeiras em Porto Alegre. Pela ação de vândalos ou falta de conservação, as
ruas da cidade sofrem com poucos locais para descartar o lixo. A ausência é sentida
principalmente onde há maior concentração de pessoas, como nas avenidas Borges de
Medeiros e Salgado Filho, no Centro.
Para atender as milhares de pessoas que caminham por dia pela Salgado Filho, a avenida
conta com apenas uma papeleira. Sozinho ao longo dos cerca de 500 metros da via que
concentra diversos pontos de ônibus e suas filas, o cesto quase não é percebido.
Na falta de local adequado para jogar o lixo, muitos acabam deixando a sujeira no chão. A
situação não é pior porque alguns itens são cobiçados por catadores, para reciclagem. Mas
tocos de cigarro, papéis de bala e folhetos vagam entre o asfalto e a calçada.
No dia 14 de março, Zero Hora percorreu a Salgado Filho e outras duas das principais vias
da região e encontrou cenários parecidos: os equipamentos, quando existem, estão
quebrados, pichados ou retorcidos. Em muitos pontos, hastes de ferro identificam que no
espaço havia uma lixeira.
Quem trabalha nessas vias tenta mantê-las limpas improvisando. Na Salgado Filho, a
vendedora de sorvetes Nara Fernandes dos Santos de Vargas, 28 anos, oferece uma cesta aos
clientes, disputada por todos que passam pela avenida.
- Se não cuidar, jogam até em cima de mim - brinca ela, que trabalha no local há 13
anos.
A situação revolta a enfermeira Alciones Friedrich, 36 anos, que já se habituou a esperar
o ônibus rodeada por papéis, copos e garrafas.
- Às vezes, levo o lixo para casa para não jogar no chão - protesta.
Também faltam papeleiras na Borges de Medeiros, especialmente no trecho entre a Loureiro
da Silva e a Salgado Filho. Com exceção da Praça Daltro Filho, em 1,3 quilômetro há
apenas seis recipientes para o descarte de lixo.
Um deles só existe por iniciativa dos taxistas do ponto ao lado do Viaduto Otávio Rocha,
que amarraram um cesto a uma placa.
- Nós trazemos sacolas de casa e trocamos umas três vezes ao dia, porque a lixeira fica
cheia - conta o taxista Cleiton Almeida, 38 anos.
A prefeitura reconhece a falta de equipamentos na cidade, mas credita o problema ao
vandalismo. Desde 2003, não são feitas reposições de lixeiras, com exceção de algumas
substituições pontuais.
- As três lixeiras em frente à prefeitura têm de ser reparadas a cada 15 dias devido à
depredação - observa o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU),
Mário Fernando dos Santos Moncks.
A compra das 8 mil lixeiras que reabastecerão a cidade deve ser realizada em cerca de
quatro meses, afirma Moncks. O edital de licitação está em fase final e deverá ser
apresentado em audiência pública à comunidade no dia 29 de março.
A reunião com a população é uma exigência do processo licitatório. Servirá para ouvir as
demandas dos moradores quanto à falta de lixeiras e a opinião sobre o novo sistema de
limpeza mecanizada que deve ser implantado na cidade.
- Após o lançamento do edital, a compra deve ser realizada em até 90 dias - afirma o
diretor do DMLU.
Comércio mantém cestos na Andradas
Quem caminha pelo Centro pode se surpreender ao passar pelo calçadão da Rua dos Andradas,
em direção à Rua Senhor dos Passos. Diferentemente das ruas do entorno, lixeiras são
conservadas no espaço.
O que talvez explique a manutenção dos equipamentos são as marcas publicitárias de
lojistas do entorno coladas à lixeira. O problema é que a prática não tem autorização do
Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).
Na esquina com a Borges de Medeiros, já é possível notar a diferença. Em apenas uma
quadra, há seis papeleiras. Tampas soltas e hastes vazias indicam que o vandalismo também
destrói os equipamentos na avenida. O diferencial, afirma o comerciante Venceslau
Rodrigues, 46 anos, é que, a cada vez que uma lixeira é danificada, o reparo é
providenciado em seguida:
- Cuido de duas há uns cinco anos. A gente mantém limpa porque nosso nome está ali. Além
disso, beneficia quem passa pela rua.
A exploração de espaço publicitário em lixeiras não é permitida pelo DMLU. O último
contrato que concedia o direito de comercialização dos espaços foi encerrado em 2003.
Conforme o diretor-geral do órgão, Mário Fernando dos Santos Moncks, a concessão não foi
renovada por falta de interessados.
Moncks afirma que o DMLU deve contratar uma empresa para realizar a compra e a instalação
das lixeiras. Mas não prevê a exploração dos espaços publicitários.
- Isso é complicado. Nem todas as ruas têm interesse comercial e são poucos os
comerciantes que querem ver a sua marca associada a esse tipo de equipamento -
disse.
Número de lixeiras
> Avenida Borges de Medeiros (entre Avenida Loureiro da Silva e o Mercado Público) -
6
> Avenida Salgado Filho - 1
> Rua dos Andradas (entre a Avenida Borges de Medeiros a Rua Senhor dos Passos) - 13
> Segundo o DMLU, faltam 8 mil lixeiras na cidade
(Por Michele Silva,
Zero Hora, 26/03/2007)