O domingo (25/03) foi dia de labuta para a diretora-geral do Centro de Recursos Ambientais (CRA) da Bahia, Beth Wagner, que tem saído em campo desde a última sexta-feira (23/03) visitando as comunidades que sofrem os efeitos da maior contaminação química da Baía de Todos Santos, há 20 dias. Ela visitou, na manhã de ontem (25/03), a localidade de Acupe, que pertence ao município de Santo Amaro, onde cerca de 600 pessoas a aguardavam, e à tarde, a ilha de Bom Jesus dos Pobres, quando se reuniu com pescadores e marisqueiras em mais um encontro para explicar às comunidades in loco sobre o maior acidente ambiental ocorrido na Baía de Todos os Santos.
Com mais de quatro mil pessoas lotando completamente a quadra poli - esportiva do município de Salinas da Margarida a diretora Beth Wagner, do Centro de Recursos Ambientais, promoveu uma reunião na manhã de sábado (24/03), para olhar nos olhos dos pescadores e marisqueiras e dizer que o CRA está mobilizado, todos os funcionários, e em plantão permanente, para acompanhar o maior desastre ambiental da acontecido na Baía de Todos os Santos. Uma equipe multidisciplinar, compostas por vários técnicos, está monitorando e fiscalizando sistematicamente todas as praias do recôncavo baiano, atingidas pela mortandade de peixes, mariscos e crustáceos, há 20 dias.
Na tarde do último sábado Beth ainda esteve na Associação das Marisqueiras, em Bom Jesus dos Pobres, quando anunciou que o governo do Estado está atento ao desalento dos pescadores e marisqueiras e acionou a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza – SEDES e Defesa Civil para liberar cestas básicas e atender às comunidades pesqueiras dos municípios que já decretaram Estado de Emergência como Saubara, São Amaro e Salinas da Margarida.
Propondo frentes de atendimento emergenciais para as comunidades atingidas e que vivem basicamente da pesca, Beth Wagner pretende se reunir com os dirigentes dos empreendimentos localizados ao longo da Bahia de Todos os Santos, como Petrobras, Dow Química, entre outros, e solicitar ajuda. Todos podem fazer sua parte, todos têm responsabilidade social com estas pessoas, argumentou.
Uma reunião será agendada nesta semana no CRA com a participação de representantes das colônias de pesca e associações de pescadores e marisqueiras, prefeitos municipais e representantes dos órgãos públicos estaduais para viabilizar ações com o objetivo de minorar a situação de aflição das pessoas. Solicitações também serão encaminhadas à Embasa e Coelba para que isentem os pescadores e marisqueiras do pagamento das contas desses serviços do dia 6 de março, quando começou a mortandade até a pesca voltar a ser liberada na Baía de Todos os Santos. O Banco do Nordeste também será convidado a comparecer a este encontro para propor linhas de financiamento para atender às comunidades que estão aflitas com toda esta situação de calamidade.
Falando para milhares de pessoas, Beth Wagner disse que o CRA, ao conhecer os primeiros resultados da contaminação das águas, que pode ser química - por liberação de algum componente industrial - ou orgânica - causada por algas tóxicas que provocam a Maré Vermelha, recomenda que não se consuma em hipótese alguma peixes, mariscos e crustáceos provenientes da Baía de Todos os Santos. O CRA alerta ainda que seja evitado o banho de mar nas praias atingidas pela mortandade das espécies.
Ainda no domingo (25/03), Beth se encontrou com os pescadores de Acupe, na sede da Filarmônica do distrito santamarense e, às 15h, com representantes da Colônia dos Pescadores de Bom Jesus dos Passos, em Madre de Deus.
No final da tarde de sexta-feira (23/03), chegou ao Centro de Recursos Ambientais, ofício da Prefeitura Municipal de Santo Amaro, assinado pelo prefeito João Roberto Pereira de Melo, dirigido à diretora Geral Beth Wagner, informando que foi decretado no município Situação de Emergência - n° 09-2007, diante do desastre ambiental.
Contatos
Mesmo antes de participar da reunião agendada para as 9h, de sexta-feira (23/03), pela Colônia de Pesca Z-16 de Saubara, a diretora-geral do CRA fez questão de ouvir separadamente os representantes das associações de pescados e mariscos, além de ambientalistas da região, preocupada com o acidente ambiental nas praias do recôncavo baiano. Beth disse que todos do CRA estão de plantão permanente, não tem sábado ou domingo, monitorando esta tragédia que ocorreu na região. Ela destacou ainda a importância de que as entidades se organizem e encaminhem suas propostas aos órgãos competentes, porque todos têm que mensurar o sofrimento dos que vivem da pesca e estão impossibilitados de exercerem suas atividades e, consequentemente, alimentarem suas famílias.
Só depois Beth se dirigiu ao Espaço Ozório, onde mais de mil pessoas estavam presentes, segundo estimativa da Polícia Civil, acompanhada do diretor e da coordenadora de Fiscalização e Monitoramento Ambiental, respectivamente, Ronaldo Martins e Carla Fabíola, além do coordenador da Avaliação Ambiental, Wilson Rossi e por técnicos do CRA, que desde o dia 8 de março monitoram a maior mortandade de peixes, mariscos e crustáceos ocorrida na região, atingindo diretamente uma comunidade total de mais de sete mil pessoas que vivem da pesca.
A reunião foi agendada pelo presidente da Colônia de Pescadores de Saubara Z-16, que também é presidente da Federação dos Pescadores e Aqüicultores do Estado da Bahia, José Carlos Rodrigues, e ainda com representantes de órgãos como o Ibama, Coopa, Petrobras, Polícia Civil, Capitania dos Portos, Vigilância Sanitária, Secretaria de Desenvolvimento Social - SEDES, Secretaria Federal de Agricultura e Pesca- SEAP, Bahia Pesca, além dos prefeitos e secretários de Meio Ambiente de São Francisco do Conde, Santo Amaro e Saubara, pescadores, marisqueiras e moradores das localidades atingidas pela mortandade dos peixes.
O encontro foi marcado para avaliar as ocorrências e monitoramentos, divulgar os primeiros resultados das análises feitas pelo CRA e que teriam, além da pesca com bomba, causado as mortes dos peixes, mariscos e crustáceos. A reunião ainda foi proposta para anunciar providências no sentido de amenizar a situação de emergência decretada pela Prefeitura de Saubara há 10 dias. A orientação do CRA de não consumir pescados e não utilizar as praias para o banho de mar permanece até que os resultados finais indiquem as causas da contaminação química.
Na manhã da última quarta-feira (21/03), aconteceu uma reunião na Prefeitura de Saubara quando estiveram presentes o prefeito, Antônio Raimundo de Araújo, o secretário de Meio Ambiente do município, João Carlos; a secretária de Meio Ambiente de São Francisco do Conde, Maria Amélia Martins; o representante da Coordenação de Defesa Civil da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate a Pobreza - CORDEC, Antonio Rodrigues; a representante do Secretaria Federal de Agricultura e Pesca - SEAP, Iranildes Bahia além de uma equipe técnica do CRA e representantes das Colônias de Pescadores.
Na oportunidade, foi anunciado ao prefeito que o governo federal disponibilizou duas mil cestas básicas para serem distribuídas para a população como forma de amenizar a situação dos pescadores e marisqueiras que estão sem condições de trabalho desde que a mortandade de peixes começou, ou seja, há 15 dias, quando foi decretado estado de calamidade pública.
Primeiros resultados
O diretor de Fiscalização do Centro de Recursos Ambientais, engenheiro químico Ronaldo Martins, mais uma equipe multidisciplinar formada por coordenadores, assessores e técnicos do órgão estiveram reunidos na manhã da última quinta-feira (22/03), juntamente com a diretoria da Hydros - empresa de consultoria que recentemente realizou um diagnóstico para o CRA sobre a Baía de Todos os Santos - para analisar os primeiros resultados dos laudos técnicos que começaram a chegar ao CRA encaminhados pelo laboratório do Centro de Tecnologia Industrial Pedro Ribeiro (Cetind), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - Senai.
Nas fiscalizações realizadas pelo órgão ambiental foi verificada uma extensa mancha entre as cores vermelha e ferrugem, a 150 metros da praia - numa dimensão que vai da localidade de Bom Jesus dos Pobres até São Francisco do Conde, passando por Cabuçu, Saubara, Itapema e Acupe. De acordo com as observações de campo essa mancha é constituída por algas marinhas. Coleta dessas algas já foi efetuada para a identificação após espécies e sua toxicidade.
O CRA, entretanto, ainda não descarta a possibilidade de contaminação química decorrente dos empreendimentos localizados na área como gasodutos, fábrica de papel, fazendas de camarão, entre outros, e por isso mesmo tem realizado varreduras e monitoramentos diários, desde o dia 8 de março, quando a autarquia foi informada da mortandade de peixes, mariscos e crustáceos na região.
Coletas
Na sexta-feira (23/03), na preamar - maré alta, às 5h30 da manhã, mais uma coleta foi realizada, precisamente na faixa escura do oceano, quando amostras de algas e água foram recolhidas para serem analisadas sob novos parâmetros. Na madrugada de domingo para segunda-feira, ou seja, de 18 para 19 de março, também uma coleta de peixes e águas foi realizada e, desta vez, encaminhada ao laboratório do Instituto de Biologia, da Universidade Federal da Bahia, para que outros componentes de contaminação possam ser investigados.
Na matriz água foram analisados parâmetros que demandam um tempo de investigação como organoclorados, organofosforados, voláteis, semi - voláteis e bifenilas policloradas, detalhou o coordenador de Avaliação Ambiental do CRA, Wilson Rossi.
Apuração
Os danos que ocasionaram a morte dos peixes, em uma quantidade de mais de 30 toneladas, conforme dimensionou a Prefeitura de Saubara, não foram causados apenas pela pesca com bombas e explosivos, segundo já constataram o CRA e a Polícia Civil do município.
Na semana passada, foram identificados novos indícios de outros agentes do desequilíbrio ambiental, como a coloração avermelhado-ferruginosa de aspecto barrento, na localidade de Ponta de Saubara, o que constata a possibilidade de fonte contaminante. Este agravante sinalizou ao órgão de meio ambiente do Estado que são necessárias novas e mais investigações assim como monitoramentos de forma diária e sistematicamente.
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Assessoria de Comunicação - Centro de Recursos Ambientais (CRA-BA), 26/03/2007)