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2007-03-23
Edson Brum *

As notícias incômodas sobre o futuro da água no mundo ocupam de forma permanente a mídia, mas são compensadas por duas informações muito favoráveis para os brasileiros e gaúchos: mais de 13% da água doce do mundo estão no Brasil, onde vivem apenas 3% dos habitantes da Terra, e cerca de 10% da imensa reserva de água doce do Brasil estão no Rio Grande do Sul, onde vivem apenas 6% dos brasileiros. Essas seriam, em princípio, notícias tranqüilizadoras, uma vez que nós, gaúchos e brasileiros, contamos com quantidade suficiente de água não apenas para sustentar indústrias e geradores de energia, mas também para produzir alimentos e saciar a sede das comunidades, condições básicas para garantir a própria sobrevivência humana.

Mas, quando se trata de água doce, porém, não existe tranqüilidade absoluta. A água, sendo um bem vital, é insubstituível e, dessa forma, mais valiosa potencialmente que o petróleo, o ouro e os diamantes, que são alguns dos bens de maior valor nos mercados. Não se pode pensar em vida sem refletir sobre a importância da água. Atualmente, o maior desafio de todos os governantes é garantir o fornecimento de água para a sobrevivência do planeta. Em 2006, comemorou-se o Ano Mundial das Águas Doces, mostrando que a crise de água doce afeta cerca de 2,13 bilhões de pessoas. Os mananciais de água doce disponíveis para consumo humano, agrícola e industrial necessitam de um permanente monitoramento em face da degradação ambiental, que aos poucos compromete o aproveitamento dessas reservas.

As questões ligadas ao aproveitamento de água doce devem merecer das autoridades urgentes providências. É importante frisar que recentemente foram realizados estudos técnicos no sentido de pesquisar a disponibilidade de água doce subterrânea nos chamados aqüíferos, observando-se que o Guarani é um dos maiores do planeta, com mais de 45 mil quilômetros cúbicos de água, abrangendo uma extensão de 1,2 milhão de quilômetros quadrados.

Do Aqüífero Guarani, 840 mil quilômetros quadrados estão no Brasil. No Rio Grande do Sul, ele se espalha por uma área de 152 mil quilômetros quadrados, com uma reserva hídrica estimada em 5 mil quilômetros cúbicos, capaz de saciar a sede de 10,8 milhões de habitantes, inclusive de 1,3 milhão de pessoas que não recebem água potável. O desequilíbrio da natureza tem colocado em risco a própria manutenção da captação e do fornecimento de água doce para consumo humano. Basta ver que a água que a maioria dos gaúchos consome é tratada e canalizada, representando 80,2%. A água envasada, os poços artesianos, as fontes e vertentes, as cacimbas e a água da chuva representam, segundo dados, quase 18%.

A má utilização dos recursos hídricos, especialmente pela ação do homem, tem colocado em risco o próprio abastecimento. A degradação ambiental, aliada à destruição das principais fontes de captação, tem contribuído também para que essa mesma água se torne poluída. Temos, por exemplo, os municípios do Vale do Gravataí, que têm no rio a sua principal fonte de captação e tratamento de água para consumo humano, bem como para utilização industrial e comercial. O rio Gravataí, nos períodos de estiagem, quase seca, tem deixado mais de 1 milhão de pessoas sem abastecimento. Recentemente, estudos técnicos demonstraram que o rio está, além de poluído, atulhado de dejetos sólidos, o que o impede de manter uma quantidade de água capaz de garantir o abastecimento. O Gravataí é só um dos exemplos.

O desafio que se nos apresenta é não desperdiçar os recursos hídricos, utilizando-os erroneamente ou literalmente destruindo-os e, com eles, também a vida. A inclusão do ensino de educação ambiental no currículo das escolas de ensino fundamental e médio deve merecer dos profissionais e dos governos especial atenção. Ainda não temos maturidade suficiente para entender que as questões ambientais precisam ser tratadas com base num processo didático-pedagógico que leve o aluno, desde o ensino fundamental até o superior, a conviver com essa questão. A educação ambiental se utilizada, de forma adequada, como ferramenta de baixo custo e com efeito duradouro e incluída como obrigatória no ensino fundamental e médio, com certeza, por meio de ações de ensino e aprendizagem, produzirá resultados.

* Deputado estadual (RS), líder da Bancada do PMDB na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul
(Agência de Notícias AL-RS, 22/03/2007)
www.al.rs.gov.br

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