O sociólogo e demógrafo Daniel Hogan vê com preocupação a forma como a cidade de Campinas, no interior paulista tem crescido: nos últimos anos se tem observado a ocupação da área rural pelo crescimento urbano de forma radiocêntrica (do centro em direção à periferia).
“Tem sido criado um crescimento descontínuo. Processos naturais de reprodução da fauna e da flora precisam de grandes áreas, e esses pedaços do urbano dentro do rural interrompem as áreas de reprodução de espécies de plantas e animais”, disse o pesquisador nascido nos Estados Unidos. Radicado há 38 anos no Brasil, 25 dos quais como professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Hogan é chefe do Departamento de Demografia e pesquisador dos Núcleos de Estudos de População (Nepo) e de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam).
O problema, segundo ele, é que, em busca de uma melhor qualidade de vida, as pessoas têm se deslocado em direção ao campo e, com isso, criado outros problemas, com impactos sociais e ambientais. “Esse modelo de ordenamento do território gera o uso individual dos carros, isto é, leva mais carros à rua, aumentando as emissões de carbono”, disse.
Segundo Hogan, o padrão radiocêntrico de expansão da cidade foi configurado nos anos 70 – na década, a região metropolitana de Campinas cresceu mais de 6% ao ano. “É uma taxa incrivelmente alta, que gera problemas que estamos tentando resolver até hoje, como a questão do saneamento básico e tratamento de esgoto”, afirmou.
Hogan lembra que apenas 35% do esgoto da cidade recebem tratamento e que existe uma perspectiva de aumento para 50% até o fim de 2007. “Isso em uma das regiões mais desenvolvidas do Estado do São Paulo e do país. O problema é que o resto do esgoto, que não é tratado, ainda é despejado nos rios, em uma região não muito rica em água”, criticou.
A questão, para o pesquisador, vai ainda mais longe, e pode criar um conflito entre Campinas e a capital. “A região metropolitana de São Paulo, com 18 milhões de habitantes, precisa dessa água. Campinas está desviando uma água que não tem de sobra. Os rios principais da região estão poluídos pelo esgoto e isso é grave”, observou o sociólogo.
Formado em sociologia pela Universidade de Cornell, em 1972, Hogan afirmou não ser fácil para um cientista social do meio ambiente – como se denomina – levantar esse debate, mas espera que pesquisas sobre urbanização e uso da terra possam contribuir para a questão das mudanças climáticas e ambientais.
(Por Washington Castilhos,
Agência Fapesp, 23/03/2007)