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2007-03-23
O mês sagrado muçulmano do Ramadã é um período em que os fiéis se dedicam ao jejum, à harmonia e à oração. Mas no ano passado, na cidade saudita de Jedah, os devotos estiveram a ponto de se violentarem quando souberam que haviam ficado sem água durante as festividades. Este tipo de situação reflete o crescente problema da escassez desse vital recurso no Golfo. As poucas chuvas mais os altos índices de evaporação e consumo causam um grande déficit nos “orçamentos da água”. Além disso, o aumento populacional a rápida urbanização agravam o problema.

Estatísticas revelam que os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo têm um nível de urbanização de 85%. Assim, Emirados Árabes Unidos, por exemplo, é o segundo maior consumidor de água por habitante em nível mundial, depois dos Estados Unidos. Sua média de consumo doméstico é de 353 litros diários por pessoa, contra 425 litros dos norte-americanos. O Conselho é integrado por Arábia Saudita, Bahreim, Emirados, Omã, Kuwait e Qatar. Iraque e Irã, os outros países com litoral no Golfo Pérsico ou Arábico, não são membros do grupo.

Um informe do Banco Mundial divulgado em março alertava os países do Golfo e de todo o Oriente Médio que, até 2050, sua disponibilidade de água por habitante cairá pela metade. As “conseqüências econômicas, sociais e orçamentárias poderão ser enormes” se os governos não acelerarem reformas para enfrentar a escassez de água, diz o documento. Às vésperas do Dia Mundial da Água, comemorado hoje, o ambientalista Mohamed Raouf, do Centro de Pesquisa do Golfo, com sede em Dubai, disse à IPS que “a principal estratégia para o uso sustentável da água é proteger e conservar os recursos disponíveis”.

Isto implica “aproveitar cada gota através da coleta de água de chuva, protegendo as represas naturais e as feitas pelo homem, bem como os aqüíferos”, acrescentou Rouf. Este especialista também destacou a importância de proteger os sistemas hídricos tradicionais, uma idéia recomendada em uma conferência de ambientalistas regionais em Omã no ano passado. Isto implica a continua operação de “aflaj” (sistema tradicional de transporte de água desde sua fonte através de canaletas inclinadas até os pontos de irrigação), a reciclagem da água usada e criação de estações de dessalinização.

A privatização dos serviços de água está sendo adotada para melhorar a capacidade e eficiência do fornecimento. Por exemplo, o emirado de Abu Dhabi, com um consumo anual 26 vezes maior do que seus recursos naturais renováveis de água, anunciou no ano passado a privatização de cinco projetos energéticos e hídricos. Em dezembro, a Arábia Saudita começou a estudar um projeto para criar um “banco de água” na localidade de Tihama, no valor de US$ 5,3 bilhões, para cobrir a demanda desse país durante 21 anos. O plano prevê a construção de represas.

As estações de dessalinização são de capital intensivo e têm vida útil relativamente curta devido aos altos custos de manutenção, por isso os governos exploram soluções mais eficientes e duradouras. Apesar das muitas desvantagens, essas centrais parecem ser a melhor opção no momento. A Arábia Saudita é o maior produtor mundial de água dessalinizada, seguida dos Emirados. Ao países do Golfo têm mais da metade dessas 11 mil estações no planeta, mas, calcula-se que necessitarão um investimento superior a US$ 100 bilhões para construir novas nos próximos 10 anos e assim, atender a demanda de água dessalinizada, que cresce, em média, 6% ao ano.

A dependência da “água dessalinizada pode ser uma política de risco, considerando a natureza volátil dos preços do petróleo e seus lucros”, disse Raouf. “O uso sustentável dos recursos hídricos subterrâneos deve ser considerado em uma administração integral da água em cada país”, acrescentou. Os esforços para aumentar a conscientização e encontrar soluções alternativas são tão intensos que chegam a entrar em terrenos religiosos. O governo do Qatar anunciou planos para instalar contadores de água nas mesquitas para controlar o consumo durante o “wazu”, ou limpeza do corpo antes das orações.

Em 2004, os Emirados anunciaram planos para empregar energia nuclear e solar com o fim de reduzir os custos da dessalinização da água. Em setembro passado, Omã anunciou sua intenção de construir a maior represa do Golfo. As obras serão completadas em dois anos. Um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas propõe garantir a sustentabilidade ambiental e reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso à água potável e sem saneamento.

Esses Objetivos também incluem reduzir pela metade o número de pessoas na indigência e que passam fome, bem como conseguir educação primária universal, promover a igualdade de gênero, reduzir a mortalidade infantil em dois terços e a materna em três quartos. Além disso, também propõe combater o HIV/aids, a malária outras doenças, bem como criar uma sociedade mundial para o desenvolvimento.
(Por Meena Janardhan, IPS, 22/03/2007)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=29496&edt=1

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