Ministros de Meio Ambiente da Europa se comprometem a melhorar qualidade das águas do rio Danúbio
2007-03-23
O compositor austríaco Johann Strauss compôs a valsa Danúbio Azul em 1867, atraído pela exuberância do rio. Mas 140 anos depois, esta corrente fluvial apenas inspira dó. Com seus 2.888 quilômetros, o Danúbio é o segundo rio mais longo da Europa, depois do Volga, na Rússia. Esta via de navegação pagou um alto preço pela industrialização e contaminação que veio a reboque. Os ministros de Meio Ambiente dos 16 países europeus de sua bacia se comprometeram por escrito a elevar a cooperação para melhorar a qualidade de suas águas.
O documento assinado pelos ministros reconhece a importância da região do Mar Negro e do Danúbio, o prejuízo histórico que sofreu o rio e alguns sinais de recuperação como resultado de “ações conjuntas”. Mas afirma que “são necessários mais esforços e cooperação entre os 16 países e a União Européia para melhorar o meio ambiente”. O Danúbio nasce na Floresta Negra alemã, flui para o Mar Negro morre em um delta que constitui uma rica e exótica reserva ecológica de 4.500 quilômetros quadrados.
As nações que compartilham a bacia (Alemanha, Áustria, Bósnia-Herzegovina, Bulgária, Croácia, Eslováquia, Eslovênia, Federação Russa, Geórgia, Hungria, Moldovia, República Checa, Romênia, Servia, Turquia e Ucrânia) somam 148 milhões de habitantes. Oito dessas nações (Alemanha, Áustria, Bulgária, Eslováquia, Eslovênia, Hungria, República Checa e Romênia) integram a UE. Outros cinco (Bósnia-Herzegovina, Eslovênia, Geórgia, República Checa e Turquia) não têm acesso direto ao rio, mas o alcançam através de outras vias fluviais ou do Mar Negro.
Todos esses países subscreveram ao menos uma das convenções de proteção ambiental da área, uma delas referente ao Danúbio a outra ao Mar Negro, mas são necessários mais esforços para melhorar seus ecossistemas. Um dos principais problemas é a contaminação por nutrientes que começa nas nascentes do rio e desembocam no Mar Negro. O problema se deve ao despejo de nutrientes (fertilizantes e resíduos orgânicos) na água, que consomem o oxigênio sufocando os peixes e outras formas de vida aquática, o que criar virtuais “zonas mortas”.
Quase todo o Danúbio flui por vales de grande produção agrícola, que o expõem a esse tipo de contaminação. Processar e reduzir a contaminação por nutrientes é uma das tarefas a que se propõem na região o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF). Já foram implementados projetos que incentivam a agricultura não contaminante em países como Croácia e Servia. Mas o problema persiste.
“A contaminação por nutrientes está longe de terminar”, disse o diretor regional do programa do Pnuma, Ivan Zavadsky, m Bucareste, na Romênia, onde aconteceu o encontro de ministros. “Há 15 anos que trabalhamos para comprender melhor o problema e encontrar soluços. Chegou a hora de tomar medidas conjuntas em toda a bacia, entre elas melhor tratamento do esgoto e utilização de detergentes sem fosfatos”, acrescentou. Nos últimos anos foram solucionados alguns dos principais problemas que surgiram nos 600 quilômetros do Danúbio que passam pelo território sérvio, afirmaram especialistas.
“Se fez muito. Os problemas na Sérvia foram preocupantes, e parecia que iriam persistir por anos”, disse à IPS a ativista e ex-ministra de Meio Ambiente desse país, Andjelka Mihajlov. A Sérvia teve de limpar o rio nos arredores da cidade de Novi Sad, cerca de 60 quilômetros ao norte de Belgrado, onde três gigantescas pontes foram destruídas pelo bombardeio realizado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em 1999. Os restos das pontes bloquearam a circulação do Danúbio. Cerca de sete mil toneladas de escombros ficaram em seu leito. Somente m 2003 se conseguiu retirá-los totalmente, ao custo de US$ 30 milhões, doados pela comunidade internacional.
Os aviões da Otan também destruíram 18 depósitos da refinaria de Novi Sad e outras cinco em Pancevo, outra cidade ribeirinha a apenas 10 quilômetros de Belgrado. Milhares de toneladas de petróleo inundaram o rio e mancharam a terra. Várias organizações internacionais haviam gasto no final de 2006 mais de US$ 16 milhões para tratar as águas contaminadas. “Foi um desastre ecológico”, disse à IPS o professor Dusan Reljin, de Novi Sad. “Esse tipo de contaminação não tem limites”, acrescentou. Como se não bastasse tudo isso, o Danúbio deve enfrentar outras dificuldades crônicas.
Uma das obstruções do rio é o gigantesco sistema composto por duas centrais hidrelétricas compartilhadas por Sérvia e Romênia, Djerdap I e Djerdap II, construídas no começo da década de 70 cerca de 250 quilômetros a leste de Belgrado. Esse sistema é considerado um “ponto negro ambiental”, devido ao acúmulo de sedimentos tóxicos nos lagos artificiais criados para a construção das usinas.
“As conseqüências ambientais não eram uma preocupação quando foram construídas”, disse à IPS um ex-funcionário sérvio que participou do projeto. “Um estudo a respeito foi mantido no mais absoluto segredo e enterrado em algum caixão de um de nossos chefes do partido”. Tanto a Romênia quanto a Sérvia tinha, na época, regimes comunistas. “A diferença em relação àquela época é que agora o ambiente é algo que preocupa a todos nos”, afirmou.
(Por Vesna Peric Zimonjic, IPS, 22/03/2007)
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