Mundo deve dividir água para evitar guerras, diz FAO
2007-03-23
Os países do mundo todo precisam aprender a dividir a água de forma justa a fim de evitarem conflitos em torno desse imprescindível recurso natural no momento em que o crescimento populacional e as mudanças climáticas o tornam ainda mais raro, afirmou nesta quinta-feira (22/03) o chefe da agência de agricultura das Nações Unidas.
O setor agrícola consome 70% da água doce tirada dos lagos, rios e lençóis freáticos do mundo, e essa demanda deve aumentar em 14% nos próximos 30 anos, afirmou Jacques Diouf, chefe da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
"Os conflitos em torno da água podem se intensificar nas áreas com poucos recursos hídricos, e envolveriam tanto comunidades locais quanto países", afirmou Diouf em uma entrevista coletiva concedida no Dia Mundial da Água.
"A falta de instrumentos institucionais e legais adequados para compartilhar a água pode piorar condições de vida já difíceis. Na falta de regras claras e sedimentadas, o caos tenderá a dominar, e os jogos de poder desempenharão um papel excessivo", afirmou.
Segundo a FAO, enquanto os seres humanos bebem entre 2 e 5 litros de água por dia, são necessários entre 1.000 e 2.000 litros para produzir um quilo de trigo e até 15 mil litros para produzir 1 quilo de carne tirado de uma vaca alimentada com grãos. "O verdadeiro consumo diário de água por pessoa é mil vezes maior do que o consumo aparente calculado segundo a ingestão direta", afirmou Diouf.
Atualmente, 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso a recursos hídricos adequados e, em virtude da previsão de que a população mundial passe dos atuais 6,5 bilhões de pessoas para, até 2025, 8 bilhões, espera-se que 1,8 bilhão de moradores do planeta lutarão contra a falta de água naquele ano, estima a FAO.
E o aquecimento global deve aprofundar ainda mais o problema, especialmente nas regiões áridas e pobres, afirmou Diouf. A fim de ampliar a cooperação além fronteira no uso da água, os dez países banhados pelo rio Nilo negociam um acordo de compartilhamento de água que, segundo a FAO, poderá servir de modelo para outras áreas onde os escassos recursos naturais poderão, assim, ser divididos de forma pacífica.
(Reuters, 22/03/2007)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2007/mar/22/166.htm