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2007-03-22
“Morte lenta” é a definição de especialistas de todo o mundo para o gradual e persistente avanço dos desertos em vastas áreas do planeta. O processo é de difícil detecção e apresenta poucas chances de reversão. Por esse motivo, especialistas de 40 organismos internacionais e ONGs, além de representantes de 170 dos 191 países que integram a ONU, participam da 5ª Sessão de Revisão da Convenção das Nações Unidas de Luta contra a Desertificação (CRIC-5).

O encontro, que está sendo realizado na capital argentina, analisa as causas da desertificação e da seca e avaliam medidas para impedir ou amenizar os fenômenos. Os especialistas apresentarão um pacote de recomendações à Conferência de Partes que será realizada em Madri, em setembro. A cada ano, em todo o planeta, 5 milhões de hectares agrícolas e 35 milhões de hectares de pastagens tornam-se improdutivas por causa da desertificação. O prejuízo econômico decorrente desse processo é de US$ 42 bilhões por ano, segundo o Banco Mundial.

Entre as recomendações debatidas em Buenos Aires está o pedido aos países desenvolvidos e organismos internacionais para que garantam ajuda financeira necessária para o combate mundial à desertificação. Entre as outras recomendações está o intercâmbio de know-how e a necessidade de destacar claramente a estreita relação entre a pobreza e as questões ambientais.

A desertificação, no entanto, não somente afeta africanos, sul-americanos e asiáticos, mas também países como os Estados Unidos e a Espanha. No total, 250 milhões sofrem diretamente os problemas da desertificação. Outros 750 milhões de pessoas padecem de forma parcial. A área na qual habitam produz 22% dos alimentos de todo o mundo. Os especialistas indicam que a desertificação provocará ondas imensas de “refugiados ambientais”.

Segundo o secretário-executivo da Convenção, Hama Arba Diallo, 400 milhões de chineses residem em uma área de risco de desertificação. Diallo relata que, há 35 anos, quando era embaixador na China, ocorriam grandes tempestades de areia uma vez por ano. “Hoje, são trinta”, relata. “Antes iam desde a região oriental da China até a ocidental. Atualmente chegam até Coréia, Japão, Canadá e Estados Unidos.”

Na Argentina, país anfitrião do CRIC-5, o processo de desertificação afeta 75% do território. O diretor de Conservação do Solo e Luta contra a Desertificação do país, Octavio Pérez Pardo, lembra que a desertificação causa perda da lucratividade das lavouras, o que gera migração da área rural para as grandes cidades e agrava a situação de pobreza.

Quase 16% do Brasil - No Brasil, de acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, 32 milhões de pessoas residem em áreas com potencial de tornarem-se desérticas. No total, as áreas em perigo equivalem a 1,3 milhão de km2, ou 15,7% do território brasileiro. Diallo pediu aos países desenvolvidos que sejam “generosos” com os países subdesenvolvidos para combater a desertificação. Segundo ele, o fenômeno precisa ser combatido de forma conjunta e, se não forem tomadas medidas urgentes, as conseqüências serão “gravíssimas”.
(Por Ariel Palácios, Estadão Online, 22/03/2007)
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