Atingidos pela UHE Barra Grande ocupam madeireira e denunciam desvio de toras
2007-03-22
Cerca de 350 moradores dos municípios atingidos pela Usina
Hidrelétrica Barra Grande ocuparam, na manhã desta quarta-feira (21/03), uma madeireira em Anita Garibaldi (SC), acusada de participar do esquema de desvio de madeira protagonizado pelas empresas Alcoa, Votorantim, Camargo Corrêa, CBA, DME e CPFL, construtoras de Barra Grande.
A ocupação teve por objetivo reforçar a denúncia do desvio de 10.785 árvores da supressão seletiva destinadas à construção de 400 casas populares na região. A construção dessas casas foi designada pela assinatura do Termo de Acordo, em dezembro de 2004, envolvendo as empresas do Consórcio Baesa, o Ministério Público Federal, Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Ibama, Fatma (órgão de licenciamento e fiscalização ambiental estadual de Santa Catarina), Cohab e Ministério de Minas e Energia.
Os agricultores estão indignados, pois na época a obra só pôde entrar em operação mediante a assinatura desse acordo. No ato desta quarta-feira, as pessoas usavam palavras de ordem, como “chega de roubo” e “viemos buscar a madeira para construir nossas casas”. Segundo as famílias, esta situação é inadmissível: “Existe um Termo de Acordo que concede essa madeira para a construção de casas para a população pobre, no entanto o que vemos são desvios e fraudes, exigimos o cumprimento desse termo e o fim de mais esta vergonha".
Eles denunciaram ainda que, além de em Anita Garibaldi, as madeireiras que integram o esquema estão em outros municípios, entre eles Pinhal da Serra, Muitos Capões e Vacaria, no lado gaúcho, e Lages, Cerro Negro e Rio do Sul, no lado catarinense. Os manifestantes permanecerão no local até que autoridades competentes tomem as providências para o fim do desvio da madeira.
O esquema orquestrado pela Baesa
Em nota formalizada nesta quarta-feira (21/03), os agricultores denunciam que para a Baesa desviar as toras, ela misturou a madeira da supressão seletiva (20 mil metros cúbicos) com a da supressão total e transportou via fluvial até os municípios de Vacaria/RS e Anita Garibaldi/SC. Para isto, utilizou-se de Autorizações de Transportes Florestais (ATPFs) emitidas pelo Ibama, como se
toda a madeira fosse de supressão total. Segundo os moradores, o
envolvimento de algumas madeireiras se deu em troca de pagamento de 6 mil dúzias de tábuas de araucárias centenárias ao madeireiro contratado para
a supressão das árvores. Os que fazem o transporte das toras e os
construtores de estradas, comunidades e casas na região atingida, também
estariam recebendo em madeira pelos serviços prestados. Além disso, a
madeira não desviada foi impedida pela Baesa de ser marcada com cordas e
bambonas para que, após o enchimento do lago, pudessem ser retiradas pelo
responsável pela supressão. Ou seja, a madeira que deveria ser utilizada para
construção de casas populares, ou foi desviada, ou está apodrecendo no fundo
da barragem.
(Assessoria de Comunicação do Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB, 21/03/2007)