Árvores, culturas agrícolas e animais já podem conviver em uma mesma área para otimizar o uso do solo e maximizar os retornos econômicos do produtor e, ao mesmo tempo, garantir a sustentabilidade do sistema produtivo. Essa é a nova aposta da Embrapa Transferência de Tecnologia, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em Brasília (DF).
Segundo o supervisor da Gerência de Planejamento e Negócios da entidade, Luiz Carlos Balbino, o sistema de integração lavoura-pecuária, que consiste basicamente na recuperação de pastagens degradadas por meio da plantação de culturas agrícolas, vêm sendo utilizado com freqüência por produtores de todo o país nas últimas décadas, com vários artigos científicos publicados sobre o assunto.
“No entanto, como a floresta também é um componente importante para a sustentabilidade dos ecossistemas, resolvemos definitivamente inseri-la nesse tipo de sistema produtivo com a criação de um novo conceito, a integração lavoura-pecuária-floresta”, disse Balbino.
Segundo ele, estudos de campo realizados no interior de Minas Gerais comprovaram a eficácia do novo sistema: em um primeiro momento, o solo é preparado para o plantio de árvores, como o eucalipto. Nos três primeiros anos de crescimento das árvores, culturas agrícolas como milho e soja são plantadas no espaçamento entre os troncos, que devem ter uma distância de pelo menos oito metros.
Após a primeira colheita agrícola, a pastagem de animais como bovinos pode ser inserida até a retirada do eucalipto para a revenda da madeira, que ocorre a partir do sétimo ano após o plantio, quando o mesmo ciclo começa novamente.
“As culturas agrícolas são inseridas apenas nos primeiros anos do sistema até que o eucalipto atinja uma altura média. Após o terceiro ano, ao mesmo tempo em que os animais podem ser inseridos, já que não alcançam mais a copa das árvores e por isso não conseguem mais danificá-las, as culturas devem ser retiradas, pois as sombras que as árvores formam começam a atrapalhar a produtividade agrícola”, explica Balbino.
A principal vantagem é que esse sistema permite a produção de culturas agrícolas, o reflorestamento de áreas degradadas com espécies nativas ou o plantio de madeiras certificadas para revenda, que nos dois últimos casos contribuem para o bem-estar dos animais por propiciarem sombra e eventualmente fornecerem alimentos.
“O Brasil possui atualmente cerca de 45 milhões de hectares de pastagens no cerrado com baixa produtividade. Boa parte dessas terras estão extremamente degradadas, apesar de serem férteis e agricultáveis”, aponta Balbino. “Essas áreas estão disponíveis para o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta. Isso evidencia que não é mais preciso alterar a configuração original das florestas brasileiras para produzir soja, milho e culturas do biodiesel”, afirma.
Transferência tecnológica
O novo sistema de produção sustentável foi um dos assuntos tratados em uma reunião do Comitê Científico Internacional da Guiana Francesa, que ocorreu no começo de março naquele país. Os pesquisadores da Embrapa apresentaram informações sobre o sistema para produtores na cidade de Macouria.
Segundo o supervisor da Gerência de Planejamento e Negócios da Embrapa Transferência de Tecnologia, os produtores guianenses pretendem implementar o sistema em uma área de 3 mil hectares que ainda possui cobertura vegetal original. “Eles querem colocar essa área de floresta fechada em produção para gerar, de maneira sustentável, alimentos e novos empregos para a população local. Nesse caso, o desflorestamento parcial será inevitável”, observa Balbino.
“Mas se antes eles planejavam desflorestar 6 mil hectares, após conhecerem o novo sistema de integração eles resolveram desflorestar a metade, utilizando tecnologias apropriadas para obter o máximo de produtividade. E a plantação de espécies nativas começará logo em seguida ao desflorestamento”, afirma.
Os pesquisadores da Embrapa estão divulgando o novo sistema de produção sustentável para incentivar o plantio de espécies nativas em regiões ameaçadas, como a Amazônia, permitindo inclusive a formação de corredores ecológicos que ligam florestas em áreas isoladas. “Esses corredores facilitam tanto o trânsito de animais entre essas ilhas de florestas como também a dispersão das espécies vegetais”, conclui Balbino.
(Por Thiago Romero,
Agência Fapesp, 22/03/2007)