A Comissão de Economia e Desenvolvimento da Assembléia Legislativa realizou audiência
pública nesta quarta-feira (21/3), para discutir o zoneamento ambiental para o plantio de
lavouras de eucalipto e pínus no Rio Grande do Sul. Marcado por polêmicas e tumultos na
platéia, o encontro foi alvo de críticas, pela parcialidade da discussão e pela ausência
de debates sobre o tema da audiência.
Apesar de constar na pauta a discussão sobre o zoneamento ambiental, realizado por
técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), não foi permitido que o
documento fosse apresentado para a discussão.
O deputado Elvino Bohn Gass (PT) criticou a ausência de debate sobre o estudo realizado
pela Fepam. “A audiência tinha sido marcada para que a Fepam apresentasse o estudo do
zoneamento, feito com mais de 50 entidades, 200 pesquisadores, universidades. Mas a Fepam
não foi convidada para apresentar estes dados”, disse.
Já o deputado Nelson Härter (PMDB), presidente da Comissão, alegou erro de comunicação
com a Fepam. Criticado pela platéia, ele prometeu realizar nova audiência para debater
especificamente o documento. “Nós encaminhamos à Fepam. Eu fui pessoalmente conversar com
o presidente da Fepam. Agora, se não houve o entendimento neste momento, não há problema.
Possivelmente na semana que vem, nós teremos este debate na comissão, porque é do
interesse dos deputados debater este tema”, ponderou.
No entanto, funcionários da Fepam disseram que foram desaconselhados a participarem da
audiência pela secretária estadual do meio-ambiente, Vera Callegaro. Paulo Mendes,
presidente do Semapi, sindicato que organiza os servidores da Fepam, afirma que existem
pressões para que o documento não seja divulgado. “Nós manifestamos nosso desejo de
estarmos aqui, apresentando o trabalho, mas a secretária do meio-ambiente não nos
estimulou a que viéssemos. Pelo contrário, falou que não tinha o que fazer aqui. O que
nós leva a crer que não existe uma boa vontade, por parte da secretária do meio-ambiente,
que seja dada visibilidade a este trabalho”, afirma.
O documento Zoneamento Ambiental para a Atividade de Silvicultura do Rio Grande Sul é um
estudo de mais de 300 páginas realizado pela Fepam, que por lei precisa regular
empreendimentos que irão gerar grande impacto ambiental. O estudo foi elaborado inclusive
com apoio da Ageflor, entidade representativa das empresas de celulose, que agora se
coloca contrária. A avaliação das empresas é que o Zoneamento cria limitações para os
plantios das monoculturas.
Outra questão polêmica da audiência foi a parcialidade do debate. Três técnicos, da
Universidade Católica de Pelotas (UCPel), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e
da Emater, apresentaram estudos favoráveis às indústrias de celulose. O professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ludwig Buckup, disse que sua
instituição não foi convidada para participar do encontro e criticou os pesquisadores das
universidades, que estão pesquisando com financiamento da Votorantim. “As três que estão
falando aqui hoje estão a soldo das empresas, recebem dinheiro para financiar as suas
investigações. Estão sendo pagas pelas empresas para gerar o conhecimento. O que, além de
tudo, é um atentado ao princípio da função universitária. A universidade é uma
instituição que deve balizar as transformações da sociedade, colocar-se a frente dela.
Mas uma universidade que funciona em temas pelos quais é paga, é uma universidade que
está a reboque da sociedade, não presta nenhum serviço social”, afirma.
O pesquisador da UCPel, Marcelo Duarte, não vê problemas no fato de sua pesquisa estar
sendo financiada pela Votorantim. “Eu não vejo como um problema, porque este talvez seja
o modelo ideal de produção científica na relação entre universidades e empresas. Sabemos
que os recursos públicos para o financiamento de pesquisas são sempre muito limitados.
Desde que o técnico consiga se manter isento, não vemos isso como um maior problema”,
diz.
Além de deputados estaduais, participaram do encontro representantes de universidades,
órgãos públicos e prefeituras da Zona Sul do Estado. Estrategicamente, nenhuma das
grandes empresas de celulose apareceu.
A Fepam tem até o dia 31 deste mês para apresentar o zoneamento ambiental para o Conselho
Estadual do Meio-Ambiente. Até o momento, todos os plantios de eucalipto no Estado estão
sendo feitos de forma ilegal, uma vez que o Termo de Ajustamento de Conduta, que previa o
licenciamento provisório para a atividade, venceu no último dia de 2006.
(Por Luiz Renato Almeida ,
Agência Chasque, 21/03/2007)