O Movimento dos Ameaçados por Barragens (MOAB) está organizando um ato público no dia 24 de março, próximo sábado, para protestar contra o projeto de construção da barragem de Tijuco Alto no rio Ribeira de Iguape. O ato consiste em uma caminhada pela BR-116 a partir do município de Cajati até o município de Jacupiranga. O início da caminhada está marcado para às 7h no trevo de Cajati e o encerramento ocorrerá na Praça da Matriz, centro de Jacupiranga.
O MOAB pede a todos os participantes que levem faixas, cartazes e bandeiras para chamar a atenção da sociedade para o estrago que a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), dona do projeto de Tijuco Alto, pretende causar ao Vale do Ribeira, região que concentra o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do Brasil. "Este ato, além de ter o objetivo de manifestar nossa indignação contra o projeto de construção da barragem de Tijuco Alto, é uma ação em defesa do meio ambiente e das comunidades tradicionais da região", afirma José Rodrigues da Silva, um dos organizadores.
A mobilização deve contar também com a participação de entidades ambientalistas e movimentos sociais do Paraná, que na semana passada já protagonizaram um importante protesto na Assembléia Legislativa do estado contra a construção de barragem no rio Tibagi. "A construção da usina visa atender a um mercado internacional, põe em prejuízo nossa qualidade de vida, nossa natureza", diz Laura Jesus de Moura e Costa, do Centro de Defesa e Estudos Ambientais (Cedea), que vê riscos semelhantes no projeto de Tijuco Alto.
O projeto de construção de barragens ao longo do rio Ribeira de Iguape, que corta os estados de São Paulo e Paraná, é uma das maiores ameaças ao riquíssimo patrimônio socioambiental do Vale do Ribeira. Estudo de inventário hidrelétrico aprovado pelo governo federal na primeira metade da década de noventa prevê a construção de quatro barragens com o objetivo de geração de energia. No entanto, essas barragens, se construídas, inundarão permanentemente uma área de aproximadamente 11 mil hectares, incluindo cavernas, Unidades de Conservação, cidades, terras de quilombos e de pequenos agricultores, além de alterar significativamente o regime hídrico do rio, o que traria prejuízos difíceis de mensurar.
As barragens estão projetadas para o Médio e Alto Ribeira, regiões com maior presença da agricultura familiar e comunidades quilombolas. As barragens ameaçam também as comunidades que dependem da pesca e do extrativismo marinho no Complexo Estuarino Lagunar de Cananéia-Iguape-Paranaguá, pois vários estudos já apresentados apontam para possíveis alterações na produtividade pesqueira dessa região com a construção das barragens.
Dentre todas as barragens projetadas, a que está em processo mais avançado de aprovação é a de Tijuco Alto. Planejada para o alto curso do Ribeira de Iguape, entre as cidades de Ribeira (SP) e Adrianópolis (PR), pretende gerar 150 MW de energia, a qual seria utilizada exclusivamente pela CBA, empresa do Grupo Votorantim, que detém um complexo metalúrgico localizado a centenas de quilômetros da região, no município de Alumínio (SP), antigo município de Mairinque. A CBA, grande consumidora de energia elétrica, vem construindo hidrelétricas em diversos pontos do país para ampliar suas atividades e aumentar suas exportações, o que traz benefícios duvidosos ao país, na medida em que impacta a vida de muita gente para poder aumentar seus lucros.
Apesar de ainda não estar aprovada, o projeto de implantação da usina de Tijuco Alto já vem produzindo efeitos negativos na região há bastante tempo. Centenas de pequenos agricultores que viviam no local onde seria implantada a barragem venderam suas terras à CBA ao acreditar que o território seria inundado. Muitas famílias que viviam nestas terras, mas não eram proprietárias, foram expulsas de suas casas sem nenhum tipo de indenização, aumentando o êxodo rural na região e gerando um grande passivo social para a empresa.
(ISA, 19/03/2007)