Assentamento oferece roteiros de turismo ecológico
2007-03-21
Privilegiado pela natureza, o assentamento agroambiental Alves, Pereira &
Teixeira, no município de Eldorado, em São Paulo, tem no ecoturismo uma das
principais alternativas para a geração de renda. Localizada no entorno do
Parque Estadual Intervales, a comunidade conta com os atrativos da
biodiversidade da mata atlântica e do potencial para esportes ecológicos,
como o bóia-cross.
A iniciativa reúne assentados e moradores do bairro rural Guapiruvu e é
coordenada pela Associação de Economia Solidária e Desenvolvimento
Sustentável do Bairro Guapiruvu (AGUA). São quatro opções de trilhas
ecológicas oferecidas a grupos de turistas que agendam previamente visitas
monitoradas.
Um percurso mais leve, com duas horas de caminhada de ida e duas horas para
a volta, é a trilha da Cachoeira da Forquilha. Já a trilha das Sete Quedas
requer experiência, bom preparo físico e espírito de aventura: são 11 horas
de caminhada. Há também as trilhas da Mina, que percorre uma antiga área de
garimpo, e do Cavalo Magro, que termina em um mirante de 700 metros de
altura.
No bóia-cross, esporte que consiste na descida de rios com a utilização de
bóias, há duas opções de percurso, ambas com cinco quilômetros de extensão.
Uma delas é suave e não oferece restrições, enquanto a outra é mais
acidentada e requer equipamento especial.
Outro atrativo do Guapiruvu é a observação de pássaros. Existem mais de 300
espécies na região, algumas raras, como o curiango-tesourão e o
pica-pau-de-cara-canela. Com sorte, o turista ainda pode avistar espécies da
fauna brasileira ameaçadas de extinção, como o mono-carvoeiro, o maior
primata das Américas.
A comunidade ainda busca consolidar uma estrutura adequada para
possibilitar, entre outras coisas, a hospedagem dos visitantes. Mas, se
ainda não dispõe de todo o conforto de uma pousada, na alimentação já tem
muito para oferecer: no Guapiruvu, os visitantes podem experimentar comidas
típicas da região, como a “coruja”, uma espécie de bolo de mandioca, e uma
grande variedade de sucos naturais.
Luta pela terra
Criado em 2005 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra), o assentamento beneficiou 72 famílias de posseiros que lutavam pela
terra há quase 50 anos. Segundo Alceu Júlio Alves, 43 anos, o bairro
Guapiruvu foi desbravado por seu bisavô, que chegou ao local, navegando rio
acima de canoa, em meados do século XIX. O nome do assentamento é referência
às três principais famílias que ocuparam a região, Alves, Pereira e
Teixeira.
Praticando uma agricultura de subsistência, a comunidade viveu em paz e em
harmonia com o meio ambiente até os anos 60, quando grileiros chegaram ao
local. A partir daí, foram forçados a abandonar suas terras, muitas vezes
por meio de métodos violentos, como ameaças e incêndios criminosos.
“Nós nunca desistimos da nossa terra”, conta Alceu, que já nasceu em meio
ao conflito fundiário. Após várias tentativas de retornar à área da qual
foram expulsos, os posseiros se juntaram à AGUA em 2001. “Percebemos que
faltava organização para dialogar com os órgãos governamentais", explica.
Em 2004, a área reivindicada pelas famílias, a fazenda Boa Vista, foi
declarada de interesse social para fins de reforma agrária por meio de
decreto presidencial. O processo de desapropriação foi concluído no ano
seguinte, com a decisão da Justiça Federal imitindo o Incra na posse do
imóvel. O modelo adotado de PDS foi a solução para as questões ambientais
que caracterizam a região.
Adequado à realidade do assentamento, o Projeto de Desenvolvimento
Sustentável concilia a reforma agrária com a conservação do meio ambiente.
No caso do Vale do Ribeira, que concentra 21% dos remanescentes de mata
atlântica do Brasil, aposta-se na vocação das comunidades tradicionais para
a atuação como agentes de proteção ambiental.
As atividades agrícolas são praticadas por meio de técnicas agroecológicas,
como os Sistemas Agroflorestais (SAF), que aliam a produção comercial ao
plantio de espécies nativas para reflorestamento. No Guapiruvu, já estão
sendo cultivados banana e palmito pupunha por meio de SAF.
“O PDS está dentro do que a gente esperava e, agora, é preciso mostrar que
dá certo”, comenta Alceu, que também coordena o Clube Amigos da Mata, grupo
ligado à associação e responsável por ações de educação ambiental no
Guapiruvu, envolvendo principalmente as crianças. “Nosso trabalho começou
com 12 crianças e hoje temos 60 participando”, completa.
(Assessoria de Imprensa do Incra/SP, 20/03/2007)