A Câmara de Vereadores de Santa Cruz aprovou ontem (19/3), em sessão extraordinária, a
doação de uma área integrada ao Parque de Eventos para a instalação do Complexo
Industrial e Profissionalizante – Alimentos e Bioenergia do Vale do Rio Pardo. No
entanto, por emenda do vereador Carlos Augusto Gerhard (PMDB), aprovada pela casa, fica
estipulado que o município faça o repasse de apenas metade dos 41 hectares previstos. A
outra parte ficaria condicionada ao sucesso do empreendimento, a médio prazo.
Dos dez vereadores eleitores, sete foram favoráveis à votação. Apenas Osvaldo Schmidt
(PMDB), Rui Baierle (PDT) e André Scheibler (PTB) foram contra. Este último ainda
apresentou uma emenda, também aprovada, que proíbe a organização de manifestações ou
acampamentos de qualquer natureza estranha aos propósitos do projeto no local. A proposta
vai agora à apreciação do Executivo, que irá avaliar as alterações anexadas ao texto
original.
A área será doada à Cooperativa Mista de Fumicultores do Brasil (Cooperfumos), vinculada
ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). O projeto de construção da microusina de
biocombustível e outros produtos foi rejeitado pelo município de Rio Pardo antes de ser
acolhida pela Prefeitura santa-cruzense.
O vereador Hildo Ney Caspary (PP) destacou, durante a reunião, o crescimento do mercado
da energia alternativa no Brasil. Para ele, a proposta do MPA garante a inserção de Santa
Cruz nesse contexto, além de colocar o município em um possível contato para
investimentos da Petrobras. Carlos Gerhard, autor da principal emenda, questionou se a
entidade terá estrutura para gerenciar o empreendimento.
EXAGERADA – Osvaldo Schmidt achou exagerada a quantidade de terras descrita no projeto
original, uma vez que, em Rio Pardo, a solicitação era de um terreno entre 8 e 10
hectares. Para ele, o Executivo foi afobado ao oferecer essa proporção de área. Rui
Baierle afirmou que a maioria das entidades que se assemelham ao MPA já fizeram
“badernas” no Estado. “Tivemos muita desordem apoiada pelos mesmos grupos que hoje
reivindicam essa área em Santa Cruz. Não queremos acampamentos aqui”, falou na tribuna.
Ari Thessing (PT) achou precipitada a possibilidade de realização de
manifestações.
Já o líder do governo na Câmara, César Cechinato, lembrou que o investimento é uma janela
que se abre para que Santa Cruz possa se incluir em um grande negócio com vistas para o
futuro. Na opinião dele, se a proposta não fosse ligada a uma entidade formada por
agricultores, e sim a uma empresa privada, não geraria tanta polêmica. “O risco faz parte
de qualquer atividade humana. A Prefeitura foi ousada, sim, e está pensando na próxima
geração”, concluiu.
O coordenador do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Wilson Rabuske, disse que o
importante foi que os vereadores aprovaram a doação do terreno. Agora, a entidade irá
analisar a viabilidade de estruturação dentro da área prevista pela Câmara – metade do
inicialmente proposto. Para ele, pior foram as considerações de alguns vereadores,
referindo-se à possível formação de manifestações e até de acampamentos no terreno, o que
garante que não faz parte da filosofia de atuação do MPA. “Foram pensamentos que partiram
de mentes retrógradas. Um absurdo”, avaliou.
(
Gazeta do Sul, 20/03/2007)