Um relatório de circulação ainda restrita, preparado pela Fundação Estadual de Proteção
Ambiental (Fepam), coloca um novo desafio às autoridades que zelam pelo ambiente da
Região Metropolitana. Embora ainda receba classificação de bom e regular, o ar respirado
por pelo menos 3,7 milhões de gaúchos perdeu qualidade em 2006.
O documento aponta o aumento na concentração na atmosfera da Grande Porto Alegre de
quatro poluidores, responsáveis por provocar complicações respiratórias e ameaçar a
vegetação.
– Estamos assistindo a uma continuidade na degradação do ar. Se nada for feito, teremos
uma situação crítica – alerta o técnico do Departamento de Qualidade Ambiental da Fepam e
coordenador da Câmara Técnica de Gestão de Recursos Atmosféricos e Poluição Veicular,
Antenor Pacheco Netto.
Em mais de cem páginas, o relatório analisa os dados dos últimos dois anos de estações
automáticas que monitoram a poluição em cinco municípios. O ozônio, uma das principais
preocupações de médicos e ambientalistas, integra a lista dos poluidores em alta na
Região Metropolitana. Os pontos registraram 312 ocorrências de ar em estado regular em
2006 por conta do ozônio - 136% a mais do que o ano anterior.
– Resolver a poluição do ar não é uma causa somente ambiental, mas de saúde pública –
afirma o ambientalista Fabio Feldmann.
Ele e outros três especialistas ouvidos por Zero Hora concordam com as causas do
fenômeno. Automóveis, caminhões e outros veículos se tornaram o principal vilão da
atmosfera. Capital de um Estado onde a frota duplicou em 14 anos, Porto Alegre dá uma
dimensão da gravidade do problema: há um veículo para cada dois porto-alegrenses.
– Mundialmente, os veículos automotores geram muito mais poluentes do que outras fontes –
afirma José Eduardo Pereira Neto, professor do curso de Engenharia Ambiental da
Ulbra.
Apesar de a poluição costumar vir dos carros, o relatório levanta a possibilidade de o
fenômeno estar relacionado ao incremento nas atividades da Refinaria Alberto Pasqualini
(Refap), provocadas pela expansão do empreendimento nos últimos anos, e de outras
indústrias não-identificadas. A hipótese ganha força porque duas estações vizinhas ao
empreendimento, em Canoas e Esteio, apresentaram resultados entre os mais
preocupantes.
Em Canoas, o posto registrou uma concentração média anual de dióxido de nitrogênio acima
dos níveis recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1998, apesar de
estar abaixo dos limites avaliados como perigosos pela legislação brasileira,
estabelecida no início da década de 90.
– Precisamos fazer um inventário de todos os emissores para avaliar se é necessário
aumentar as exigências. As pessoas reclamam que somos exigentes, mas o ambiente diz que
precisamos ser mais – afirma Pacheco.
(Por Jaisson Valim,
Zero
Hora, 20/03/2007)