Hidrelétricas ameaçam a bacia do Prata
2007-03-20
A bacia do rio da Prata, na América do Sul, está entre as dez mais ameaçadas do mundo, listadas num relatório que a ONG WWF (Fundo Mundial para a Natureza) divulga hoje (20/3). A saúde dos rios da região está ameaçada por 27 projetos de barragens (seis já em construção) e obras de hidrovias.
A bacia do Prata, que abriga cem milhões de pessoas em cinco países, inclui os rios Paraguai, Uruguai e Paraná, entre outros menores, como o Tietê.
Segundo a WWF, a biodiversidade mais afetada será a do Pantanal mato-grossense. Ali, a hidrovia Paraná-Paraguai vai "aumentar a capacidade de drenagem da foz do rio, afetar populações de peixes locais e expor rios a invasões de espécies exóticas por meio de ligações com a bacia do Amazonas".
Na opinião do geógrafo Samuel Barreto, especialista em recursos hídricos do WWF, as obras projetadas, incluídas no PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) -somente na região Sul do Brasil são 15 hidrelétricas- deverão se somar à fragmentação dos rios já causada por hidrelétricas existentes.
"Haverá alteração do balanço hídrico e da dinâmica de espécies", afirmou. "A análise que a gente viu do PAC não faz nenhuma menção a critérios ambientais, o que é um erro estratégico", continuou Barreto.
O presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica, Jerson Kelman, contesta a visão geral da WWF. "A partir da década de 1970, a vazão da bacia do Prata tem aumentado", disse. "Há mais água no rio Paraná e no Prata. O lençol freático de Buenos Aires subiu."
Para Kelman, sem barragens, "haveria prejuízos por causa de enchentes". Ele discorda que o PAC seja omisso com o ambiente. "O Brasil pode ser criticado por excesso [de rigor], não por falta. É o país que mais abdica de fazer obras por conta de restrições ambientais."
O relatório do WWF aponta a construção de barragens e obras para hidrovias como as ameaças mais disseminadas pelo mundo. O excesso de extração de água, as espécies invasoras, a mudança climática, a sobrepesca e a poluição são os outros fatores de pressão.
Para lidar com problemas como os da bacia do Prata, o relatório propõe medidas que minimizem o impacto humano. Seria preciso, por exemplo, "evitar barragens em grandes planícies", "permitir a passagem segura de peixes" e "controlar o fluxo de sedimentos".
O continente com mais bacias hidrográficas ameaçadas listadas no relatório é a Ásia, com cinco.
Enquanto rios como o Indo sofrem com o aquecimento global -suas águas vêm de geleiras que estão minguando-, outros, como o Yangtze, sofrem com poluição e sobrepesca.
(Folha de S. Paulo, 20/03/2007)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2003200701.htm