Preservação da Amazônia depende de dinheiro de fora
2007-03-19
O Brasil se gaba de ser o principal dono da Amazônia e repudia a idéia que
surge de tempos em tempos de internacionalizar a maior floresta tropical do
mundo. Apesar disso, para manter a selva de pé, o País depende em grande
parte de dinheiro estrangeiro. De acordo com um levantamento feito pelo
jornal O Estado de S. Paulo, Alemanha, Estados Unidos, Japão e Holanda
investem juntos, por ano, R$ 108,9 milhões na preservação da floresta
brasileira.
O dinheiro estrangeiro é mais volumoso que os R$ 96,4 milhões que os nove
Estados da Amazônia Legal (a região Norte mais Mato Grosso e parte do
Maranhão) aplicaram em ambiente em 2005. E é superior aos R$ 58 milhões que
o Ministério do Meio Ambiente destinou aos Estados amazônicos em 2006. Como
comparação, o Central Park, de Nova York, tem US$ 25 milhões (R$ 52,3
milhões) por ano. O gasto do Estado de São Paulo com gestão ambiental em
2005 foi de R$ 824,1 milhões.
"A verba nacional para a Amazônia é irrisória. Temos de pagar juros da
dívida, cobrir os recursos obrigatórios de previdência, saúde, educação...
Veja a questão da segurança pública... O ambiente tem de competir com todas
essas demandas. O que sobra é pouco", avalia Adalberto Veríssimo,
pesquisador da organização não-governamental (ONG) Imazon.
Euros, dólares e ienes entram no Brasil por meio da chamada cooperação
internacional, sistema que os países ricos utilizam para ajudar os países
pobres, com dinheiro ou apoio técnico. A mais conhecida das cooperações foi
o Plano Marshall - no final da década de 40, os EUA bancaram a reconstrução
da Europa, devastada pela 2ª Guerra.
No caso da cooperação destinada à Amazônia, beneficiam-se governos,
empresas, comunidades locais e, principalmente, ONGs. Outro levantamento
realizado pelo Estado mostra que as maiores ONGs injetam R$ 36,6 milhões por
ano na floresta - uma parte do dinheiro vem de suas respectivas sedes no
exterior (quando é o caso); outra, da cooperação internacional.
A filial brasileira do WWF, que tem sede na Suíça e escritórios em uma
centena de países, destina anualmente R$ 10 milhões à Amazônia - 99% dos
recursos são estrangeiros. O Instituto Socioambiental (ISA) é uma ONG
nacional, mas também depende de recursos internacionais. Dos R$ 9,2 milhões
aplicados na região no ano passado, R$ 7,9 milhões vieram de fora.
O secretário do Meio Ambiente do Amapá, Antônio Carlos Farias, cita a
Conservation International e o WWF como os principais parceiros do Estado.
"Quem me dera se o governo brasileiro tivesse a mesma preocupação dos
estrangeiros", diz. O país que mais investe na Amazônia é a Alemanha, com o
equivalente a R$ 85 milhões por ano.
O Ministério do Meio Ambiente reconhece a importância da cooperação
internacional, mas faz uma ressalva. "Esse dinheiro não é uma dádiva. Na
Rio-92, acordaram-se obrigações e valores que os países desenvolvidos
deveriam investir em conservação. Estamos lidando com interesses globais",
diz João Paulo Capobianco, secretário nacional de Biodiversidade e
Florestas. "E sempre existem contrapartidas nacionais."
(Agência Estado/Yahoo Notícias, 18/03/2007)
http://br.noticias.yahoo.com/s/18032007/25/manchetes-preserva-da-amazonia-depende-dinheiro-fora.html