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2007-03-19
No dia 8 de março, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, desembarcou em São Paulo para assinar um acordo de cooperação tecnológica com o Brasil para produção e comercialização do etanol, substância obtida a partir da fermentação de açúcares e utilizada como combustível renovável pela indústria automobilística.

Na mesma semana, um grupo de pesquisadores do Projeto Etanol, conduzido pelo Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estava em processo final de elaboração de um detalhado relatório que faz um panorama do futuro energético brasileiro, com dados sobre a importância dos biocombustíveis para a superação da dependência mundial dos combustíveis fósseis.

O documento foi desenvolvido em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e entregue na sexta-feira (16/03) ao Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Os pesquisadores do Nipe estimam que, em 2025, a demanda mundial de gasolina para veículos leves será de 1,7 trilhão de litros, um crescimento de 48% em relação ao 1,15 trilhão de litros consumidos em 2005.

Por conta disso, a principal meta destacada pelo relatório é que, para permanecer entre os maiores produtores mundiais de etanol, o Brasil deverá ter uma produção que seja suficiente para substituir 10% da demanda por gasolina em 2025. O coordenador do Projeto Etanol, o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, acredita que essa é uma meta palpável, desde que o país aumente sua área de cultivo de cana-de-açúcar e adote tecnologias que elevem a produtividade.

“Para atingir essa meta, o país terá que chegar em 2025 produzindo 205 bilhões de litros de etanol por ano. Seriam necessários, desde já, investimentos da ordem de R$ 20 bilhões nos primeiros dez anos de produção, quando o volume de recursos aplicados começaria a cair”, disse Cerqueira Leite.

Segundo o pesquisador, que é professor emérito da Unicamp, atualmente a área plantada de cana-de-açúcar no Brasil gira em torno de 6 milhões de hectares, sendo metade destinada à produção de álcool e metade para a de açúcar. “Precisaríamos também aumentar a área plantada de cana para produção de álcool de 3 para 30 milhões de hectares”, acrescentou.

Outro fator decisivo é o incremento tecnológico das usinas existentes no país. “Contamos hoje com aproximadamente 500 usinas do setor sucroalcooleiro, sendo que pelo menos 200 não têm produtividade satisfatória”, disse Cerqueira Leite. A produção atual de etanol no Brasil gira em torno de 16 bilhões de litros por ano.

“Mesmo com produtividade média de 70 toneladas por hectare, que é considerada alta, recentemente fomos ultrapassados pelos Estados Unidos, hoje o maior produtor mundial de etanol, com 17 bilhões de litros anuais”, explica. Os dois países acumulam cerca de 70% da produção mundial.

Fontes alternativas
Para substituir 10% de toda a gasolina que será consumida no mundo em 2025, os pesquisadores do Nipe apostam também em uma tecnologia complexa, perseguida por países de todo o mundo: o processo de hidrólise, técnica que permite o aproveitamento do bagaço e da palha da cana-de-açúcar para obtenção de biocombustível.

Os estudos se concentram em como transformar a celulose presente nos resíduos agrícolas em açúcares que possam ser fermentados. A perspectiva é que, com o processo de hidrólise, a quantidade de álcool produzido por cana processada seria ampliada significativamente sem aumento da área plantada.

“Além da produção de etanol, o bagaço e a palha também servem para a geração de eletricidade. Mas temos consciência de que a hidrólise é uma tecnologia de longo prazo que demorará pelo menos dez anos para estar disponível”, apontou Cerqueira Leite.

O relatório do Nipe aponta ainda que, com a tecnologia para hidrólise do bagaço da cana adotada na linha de produção, uma usina que hoje produz 1 milhão de litros por dia de etanol obteria mais 400 mil litros por dia em 2025, o que representaria um aumento de 40% na produção.

Um novo relatório, para aprofundar os dados do documento atual, já começou a ser elaborado pelos pesquisadores do Nipe, com previsão de conclusão para o fim do ano.

“Investimentos, vontade política e empresários com coragem serão fatores decisivos para atingir as metas propostas, que inclusive vão subsidiar políticas de governo na área. Certamente, um bom sinal foi dado com a visita do presidente Bush ao Brasil, que, além de tornar evidente o potencial brasileiro para a produção de etanol, aumentou a visibilidade dos estudos realizados e a necessidade de aplicação dos resultados”, disse Cerqueira Leite.
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 19/03/2007)

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