É sabido que o lodo de esgoto, resíduo gerado em estações de tratamento, é riquíssimo em matéria orgânica e nutrientes. É de amplo conhecimento, também, que sua mistura com outros compostos pode ser usada como adubo em plantações de eucalipto e pinus. Entretanto, a engenheira agrônoma Vera Cristina Ramalho Padovani inovou ao utilizar o lodo compostado com casca de arroz e restos de capim roçado, este último usado na produção de mudas de árvores nativas como o ingá, coração-de-negro e mirindiba-rosa, todas largamente encontradas em programas de reflorestamento.
A pesquisadora também testou o adubo em uma espécie exótica, o ipê-de-jardim, muito presente na arborização urbana. Vera explica que os resíduos que compõem a mistura seriam descartados em aterros e não teriam nenhuma utilidade que não fosse a sua transformação. Com a pesquisa, os materiais acabaram ganhando uma finalidade, inclusive com vantagens econômicas e ambientais.
O composto orgânico de lodo de esgoto, que a engenheira batizou de “Cole”, foi testado isoladamente e em mistura com a casca de arroz carbonizada em concentrações diferentes de cada um dos materiais. Foram cinco tratamentos, em níveis de 100% a 60% do composto testado no viveiro da Faculdade Municipal Professor Franco Montoro, em Mogi Guaçu.
A pesquisa de mestrado, orientada pelo professor Durval Rodrigues de Paula Júnior, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), apontou que os tratamentos com maior eficiência no desenvolvimento das plantas foram os que associaram de 70% a 80% do “Cole” e de 20% a 30% de casca de arroz carbonizada.|
Vera realizou uma etapa preliminar que foi a desinfecção do lodo através da compostagem com restos de capim e avaliação dos níveis de metais pesados que, segundo ela, são os principais problemas do resíduo in natura. Antes de avaliar os resultados para a produção das mudas de árvores, ela testou o “Cole” em diferentes misturas do adubo com a casca de arroz carbonizada para o cultivo de mudas de tomate, planta considerada sensível. A próxima etapa da pesquisa será testar o “Cole” em mudas embaladas em sacos plásticos, uma vez que o estudo foi realizado com as espécies plantadas em tubetes.
(Por Raquel Carmo dos Santos,
Jornal da Unicamp, 16/03/2007)