Por Por Dr. Gilberto Casadei de Baptista*
O inseticida metamidofós é comercializado no Brasil há vários anos segundo alguns diferentes nomes comerciais, entre eles: Tamaron BR (Bayer), Hamidop 600 (Arysta), Metamidofos Fersol 600 (Fersol), Metafos (Milenia), Metasip (Sipcam Agro), Dinafos (Cheminova). É um inseticida acaricida organofosforado sistêmico, formulado como concentrado solúvel ou solução aquosa não concentrada, que contém 600 mg do ingrediente ativo metamidofós por litro do produto comercial.
Está autorizado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), do Ministério da Saúde apenas para uso em pulverização foliar nas culturas de algodão, amendoim, batata, feijão, soja, tomate e trigo, via trator, pivô central ou aplicação aérea, evitando-se, assim, maior contato de aplicadores em exposição ocupacional. Na cultura do tomate, seu uso está autorizado somente para tomate rasteiro, com fins industriais (massa de tomate, etc.), sendo seu uso proibido para tomate de mesa.
O ingrediente ativo metamidofós tem sua toxicidade avaliada pela sua dose letal 50 (DL50) aguda oral para ratos de 30 mg/kg, sendo considerado muito tóxico. As formulações de metamidofós foram todas enquadradas pela ANVISA nas Classes toxicológicas I ou II (altamente tóxicas). Do ponto de vista de sua ação tóxica, como qualquer outro organofosforado, também o metamidofós é um éster inibidor da enzima acetilcolinesterase (uma enzima vital para o funcionamento do sistema nervoso), sendo este seu modo de ação, tanto nos insetos pragas, objetos do controle, bem como, assim, também nos demais animais (mamíferos inclusive).
Desse modo, em humanos, quando a exposição é demasiadamente elevada (aplicadores mal protegidos, sem o uso de equipamentos de proteção individual, aplicações sem observação de critérios técnicos) pode causar neuropatias, causando síndrome colinérgica, que se reflete em acúmulo do neurotransmissor acetilcolina nas terminações nervosas (salivação, sudorese, lacrimejamento, paralisia muscular, dificuldades respiratórias, asfixia, etc., e, eventualmente óbito).
O tratamento é feito com o uso de antídotos, tais como sulfato de atropina e oximas. Do ponto de vista de riscos ao meio ambiente, por ser um éster solúvel em água e razoalvemente polar, o metamidofós é degradado com certa facilidade e rapidez, especialmente através da hidrólise da ligação éster. Desse modo, seu uso pode e deve causar ao meio ambiente apenas um efeito adverso localizado, se usado de modo correto e adequado.
O metamidofós como todo agrotóxico, seja de qualquer Classe toxicológica, deve ser adquirido com receita agronômica e usado de modo adequado e de acordo com a boa prática agrícola, respeitando-se o período de carência (que vem obrigatoriamente informado no rótulo ou bula do produto comercial), de modo que, os produtos agrícolas colhidos de lavouras tratadas com esse inseticida sejam saudáveis e com resíduos finais aceitáveis e perfeitamente dentro dos limites máximos de resíduos estabelecidos pela legislação brasileira.
* Professor Titular Aposentado
Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, ESALQ/USP
Laboratório de Resíduos de Pesticidas e Análises Cromatográficas (LARP-USP)
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