Países analisam como fazer com que 1,1 bilhão de pessoas tenham água
2007-03-19
Autoridades e especialistas mundiais debaterão e proporão soluções para reduzir o número de 1,1 bilhão de pessoas que, segundo dados da ONU, não têm acesso à água potável, e para que se evite fazer dela um produto comercializável.
A reunião, organizada no Parlamento Europeu pela Assembléia Mundial de Água para Representantes Eleitos e Cidadãos (Amece, em francês), ressaltará a importância de encerrar o debate e dar início a soluções o mais rápido possível, ao lembrar, entre outras coisas, que em 25 anos 60% da população mundial viverá em regiões "com uma profunda escassez de água".
Calcula-se que 34 mil pessoas - das quais 4.500 são crianças - morrem a cada dia por não ter acesso à água potável, da qual diariamente cada cidadão europeu consome uma média de 110 litros.
"É preciso deixar de falar dos problemas e desafios da água, e saber o que queremos fazer para solucioná-los e quais são os compromissos", disse um dos representantes da Amece, Riccardo Petrella. O encontro será realizado de 18 a 20 de março.
A reunião de autoridades, representantes e especialistas, à qual assistirão mais de 600 pessoas de todo o mundo, "se concentrará na exposição dos compromissos", com base em quatro pontos: o direito ao acesso à água, sua percepção como um bem comum, seu financiamento e o papel do cidadão, "que poderá participar hoje (19/3) da assembléia".
Na assembléia, a primeira deste tipo, discursarão 93 autoridades e especialistas - a metade de países da América, da África e da Ásia - de 40 nações, entre eles a ministra do Meio Ambiente brasileira, Marina Silva.
Segundo Petrella, "é preciso crer que os políticos poderão convencer-nos a ir direto" para a implementação de soluções, "que digam o que se está fazendo, com que se comprometem para garantir o direito de acesso à água de todo mundo, a promover sua proteção como bem comum, a sua gestão pública".
Atualmente, apenas 10% da distribuição mundial de água é controlada por empresas privadas, mas em Angola - um país que conta com grandes reservas de água - a população se vê na obrigação de comprá-la importada da Itália, explicou Petrella.
A necessidade de que "não se comercialize nem se privatize o uso da água" e que "tanto um parlamentar belga, como um prefeito sueco ou um sindicalista espanhol" fale sobre isso, é um elemento sobre o qual a Amece quer incidir.
Nos Estados Unidos, onde os recursos hidrológicos "foram superexplorados e o fornecimento de água será um dos grandes problemas nas próximas décadas", os banqueiros e os industriais "estão promovendo a liberalização e a comercialização da água, pensando nos grandes lucros que obterão" importando-a do Canadá.
(O Estado de S. Paulo, 16/03/2007)
http://www.estadao.com.br/especial/global/noticias/2007/mar/16/380.htm