A área do Parque de Eventos de Santa Cruz do Sul não é apropriada para a instalação da usina de biocombustível e dos demais empreendimentos pretendidos pela Cooperativa Mista de Fumicultores do Brasil (Cooperfumos). A avaliação é do ex-prefeito e hoje deputado federal Sérgio Moraes (PTB).
Moraes foi o responsável pela compra dos 240 hectares da antiga Fazenda Baumhardt, em Linha Capão da Cruz, para a criação do parque. Ontem (15/3), ele se manifestou contra a doação de 41 hectares para o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). “Não questiono o investimento, que até pode ser positivo. Mas acho que dividir o parque não é adequado. É preciso buscar outra área.”
Revelou que, nos últimos dias, vinha mantendo contatos com o prefeito José Alberto Wenzel (PSDB) e com o secretário do Desenvolvimento Econômico, Milton Theisen, para demovê-los da idéia. Inclusive, disse que se ofereceu para buscar recursos em Brasília para a desapropriação de outra gleba. Ontem, no entanto, o prefeito teria descartado qualquer possibilidade de tentar nova área. “Com isso, estou me declarando contra o projeto que está na Câmara.”
Frisou que, quando adquiriu a fazenda, destinou uma parte para o Parque de Rodeios. Em outra área, foi implantado o autódromo. O espaço que a Prefeitura pretende doar ao MPA, segundo ele, serviria para implantar quadras de esportes, camping e equipamentos de lazer destinados aos trabalhadores e às associações de moradores de bairros. “Conclamo as associações, os sindicatos e os trabalhadores a se posicionarem contra a doação. Há locais mais apropriados para o empreendimento do MPA.”
“Doação até parece deboche”
Na avaliação de Sérgio Moraes, a área do Parque de Eventos será, no futuro, o “pulmão verde” de Santa Cruz do Sul e, por isso, precisa ser preservada. “Duvido que uma licença séria, dos órgãos ambientais, autorize as instalações pretendidas pela Cooperfumos.”
Também questiona o porquê de a Prefeitura ter oferecido 41 hectares para a entidade se, em Rio Pardo, ela pretendia nove. Caso isso se confirme, o autódromo ficaria sem espaço para estacionamento. “Isso até parece um deboche. O atual governo não trata o parque e o autódromo com seriedade.”
O deputado garantiu que recorrerá ao Tribunal de Contas se a doação for concretizada. Segundo ele, a Cooperfumos não apresentou estudo técnico sobre o seu empreendimento. “Tudo é chutômetro. Eles não dizem nem de onde vão obter matéria-prima para viabilizar uma usina de álcool.”
Moraes avaliou que a Prefeitura foi afoita na negociação com a Lerivo e que o mesmo poderá ocorrer agora. Disse que o MPA não tem um grande vínculo com o município e que, de uma hora para outra, a Prefeitura abre suas portas para esta entidade. “Está faltando cautela ao prefeito e aos que apóiam a doação.”
Wenzel não aceita intromissão do deputado
O prefeito José Alberto Wenzel (PSDB) não gostou das manifestações de Sérgio Moraes. “Não aceito intervenção e intromissão nos assuntos que envolvem a gestão do município. A decisão é minha, para isso fui eleito.” E mandou um recado: “O deputado que atenda às suas demandas e deixe o meu governo trabalhar.”
Na avaliação do prefeito, Moraes desconhece o projeto da Cooperfumos. Frisou que o Complexo Agroindustrial e Profissionalizante - Alimentos e Bioenergia do Vale do Rio Pardo é alicerçado na agroecologia, que busca o desenvolvimento socioeconômico e ambiental de forma sustentável. “E é por isso que estamos doando 41 hectares. Mais de 10 hectares vão ser direcionados apenas à preservação do meio ambiente.”
Wenzel disse que quando um prefeito adquire uma área, esta não é de sua propriedade, mas sim da comunidade. “Se estou disponibilizando este espaço, é porque precisamos sair do discurso e, efetivamente, buscar alternativas viáveis de diversificação da economia.” No seu entender, não haveria razões para a compra de uma área, se esta está disponível. “Não temos dinheiro para adquirir outra gleba, pois herdamos milhões em dívidas do ex-prefeito Moraes.”
Lembrou que os 41 hectares que serão doados ao MPA não estão anexos ao Parque de Eventos, pois a RST–471 separou esta área. “Os trabalhadores e as associações de bairros não serão prejudicados. Os espaços de lazer e campos de futebol, que Moraes prometeu e não fez, nós faremos. A comunidade pode ficar tranqüila.”
CICLO – Ele ressaltou que a proposta da Cooperfumos está em consonância com a política brasileira e internacional de produzir biocombustível. “Estamos recebendo uma proposta concreta nesta área e não podemos perdê-la.” Afirmou que acredita no empreendimento. “Queremos manter o fumo. Mas não podemos desperdiçar a oportunidade de ingressarmos em um novo ciclo de desenvolvimento.”
A votação do projeto de doação ao MPA ocorrerá na segunda-feira (19/3). A reunião extraordinária do Legislativo será às 16 horas.
Área é adequada
Na avaliação do prefeito, a área oferecida ao MPA é adequada e, por isso, foi escolhida. Garantiu que jamais desprezou o Parque de Eventos ou o autódromo. “Bem pelo contrário. Viabilizei a utilização do autódromo, sacrificando as finanças do município.”
Sobre a Lerivo, frisou que ela está voltando a operar. E assegurou que é preciso coragem para investir. “E isso eu estou fazendo. A Ceasa Regional, que o Moraes não foi capaz de implementar, está funcionando e com ótimos resultados.”
Wenzel disse que a comunidade pode ficar tranqüila, pois seu governo vem conduzindo as negociações com a Cooperfumos de forma muito responsável. Mesmo apostando no projeto do complexo, lembrou que a lei possui uma cláusula que garante o retorno da área ao município em dois anos se o investimento não for realizado.
(
Gazeta do Sul, 16/03/2007)