Atrás de comida, golfinhos convivem com a poluição no ES
2007-03-16
Os golfinhos que já habitam às águas oceânicas do Espírito Santo estão resistindo à poluição. Atrás de comida, eles vivem em regiões poluídas como o Complexo de Tubarão, e, segundo especialistas, um estudo já está em andamento para definir as conseqüências que essa presença em locais poluídos poderá gerar à espécie.
Segundo Lupércio de Araujo, da Organização Consciência Ambiental (Orca),
já são feitas coletas de amostras de tecidos dos golfinhos Sotalia guianensis, que freqüentam em áreas com alto grau de poluição como a Barra do Piraqueaçu, o Complexo Siderúrgico em Vitória, entre outras regiões do litoral capixaba. A experiência é feita em todo o País com o objetivo de avaliar o grau de contaminação desta espécie e as conseqüências.
Esses animais enfrentam a poluição de metais pesados e outros elementos que poluem o mar quando saem em busca de alimentos. Enfrentam o perigo de embarcações e até a pesca predatória, em busca de peixes como o espada, o robalo, entre outros.
Apesar de as conseqüências não poderem ser avaliadas a curto prazo, em tartarugas já há um acompanhamento feito neste sentido. Foi descoberto que as tartarugas verdes desenvolvem um tipo de câncer chamado fibropapilomitose, que pode ser causado pela poluição dos oceanos.
Quando um golfinho é encontrado morto, através de amostra é analisado o nível de metais pesados, encontrados em abundância na Baía de Vitória devido ao Complexo Siderúrgico na região, para tentar descobrir o grau de contaminação do animal.
Ainda é cedo para concluir as conseqüências do contato dos golfinhos com os poluentes, segundo explicou Lupércio.
"Precisaremos de muito tempo para dizer algo sobre as conseqüências", ressaltou. Os biólogos e ambientalistas alertam para os perigos mais urgentes. Com boa vontade e consciência, eles podem ser evitados.
A contaminação por plásticos entre os golfinhos, inclusive gerando morte, é alarmante. A pesca predatória também. Ao todo, 68% das mortes dos botos no Estado são causadas pelas redes utilizadas de forma ilegal.
Desta forma, ou os animais morrem ao ingerir plástico ou quando ficam presos nas redes finas, resistentes, que os mantêm presos até a morte. No mundo, estudos apontam que mil golfinhos morrem por dia devido às redes de pesca. Para Lupércio, os números podem ser ainda mais altos.
No Espírito Santo, o Sotalia guianensis é encontrado com maior freqüências em quatro pontos do Estado: Piraqueaçu, em Santa Cruz; nas áreas próximas à Foz do rio Doce; nos arquipélagos de Guarapari como as Três Ilhas, Ilha Rasa, entre outros, e no Complexo Siderúrgico da Baía de Vitória.
Este golfinho mede entre 1,80 m e 2,10 de comprimento e é a espécie mais comum do litoral brasileiro. No estado, ficam agrupados em número de oito a no máximo dez. Têm cor cinza-escuro no dorso e branco rosado no ventre. Este animal pode viver até 30 anos.
Antigamente, a espécie Sotalia guianensis era encontrada com freqüência em grande parte da Baía de Vitória. "De uns anos pra cá isso não ocorre mais, eles já não são mais vistos. Com sorte, pode-se avistar algum próximo à Ilha das Cobras, em frente ao morro do Jaburuna, apenas", ressaltou.
Mesmo sem estudos sobre as conseqüências da poluição crescente na Baía de Vitória, a diminuição dos botos é fato. Isso porque eles não encontram mais alimentos nessa região, onde há muitas embarcações e pesca predatória, além de a região ter se tornado mais estreita. Mesmo assim, o ambientalista ressalta que com um pouco de paciência os capixabas poderão ter o privilégio de ver a espécie, principalmente no verão, quando os cardumes dos peixes espadas são fartos e atraem os golfinhos.
(Por Flávia Bernardes, Século Diário - ES, 15/03/2007)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2007/marco/15/noticiario/meio_ambiente/15_03_08.asp