Iema se recusa a discutir impactos da poluição da Samarco no ES, afirma ONG
2007-03-16
O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) se recusou a pautar discussão sobre a "poluição atmosférica da Samarco nas comunidades vizinhas e o planejamento do Conrema para ordenar a industrialização no sul do Espírito Santo". A denúncia é do presidente Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama), Bruno Fernandes da Silva. A ONG tem sede em Anchieta.
Ao invés de pautar a discussão, a direção do Iema decidiu reunir ordinariamente o Conselho Regional de Meio Ambiente (Conrema IV), em instalações da poluidora. A reunião, a primeira do ano, será na segunda-feira (19/3), no "Centro e Convivência e Educação Ambiental (CCEAM)" da Samarco. A convocação para a reunião é da presidente do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), Maria da Glória Brito Abaurre.
A solicitação de que a poluição produzida pela Samarco fosse tema de pauta chegou a tempo no Iema, mas foi desconsiderada, afirma Bruno Fernandes da Silva.
O presidente do Gama denuncia: "Se pararmos para pensar um pouco veremos que o Conrema IV, até o momento, vem atuando como bancada de confirmação da política antidemocrática do executivo, quando deveríamos planejar o futuro".
Para ele, a determinação do governador Paulo Hartung de "crescimento a qualquer custo" acaba transformando as pautas do Conrema simplesmente "para que o plenário aprove este ou aquele empreendimento ou desflorestamento". Aponta que esta política de "goela" abaixo não dá: "Isso é coisa do passado. Acorde Iema".
O presidente da ONG diz que "o Iema, como sempre omisso, não responde a quase totalidade do que o Gama oficializa. Repare que a solicitação foi enviada para a presidente, para a diretora técnica e ao Consema, que até agora se calaram. Fazem o que Paulo Hartung manda, celeridade a qualquer preço".
A omissão do Iema resulta em poluição atmosférica e hídrica. "As Partículas Totais em Suspensão (PTS) em Ubu estão acima do permitido pela resolução Conama", lembra o presidente do Gama.
Aponta a conivência da presidente do Iema com a Samarco. A empresa assume ao próprio Iema que responde por 68% da poluição na região, mas que o Iema "não percebeu que em Anchieta só tem uma indústria considerada de grande potencial poluidor/degradador, e que justamente a comunidade de Ubu que recebe o vento nordeste trazendo a poluição da Samarco Mineração".
Em 1999, estudo realizado na região como parte de condicionante ambiental, apontou que "inúmeras pessoas encontravam-se doentes". Mas com a chegada de Maria da Glória Brito Abaurre na presidência do Iema, e indicação de sua diretora técnica Sueli Tonini "por incrível que pareça, em reunião secreta com a Cepemar, o Vitor Feitosa, da Samarco, e as duas governantes, as condições indicadas para reduzir o problema não foi cumprida".
Maria Abaurre foi diretora da Cepemar por uma década e saiu para a presidência do Iema. Os estudos de impacto ambiental da Samarco visando ampliação de sua produção são feitas pela Cepemar. A Companhia vale do Rio Doce (CVRD), dona de metade das ações da Samarco, vai transformar Ubu em um polo do porte de Tubarão, na Grande Vitória.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário - ES, 15/03/2007)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2007/marco/15/noticiario/meio_ambiente/15_03_09.asp