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2007-03-16
Estado que mais derrubou florestas nativas no país, o Mato Grosso descobriu na madeira um nicho de mercado altamente rentável. A aposta dos produtores é em uma árvore alta e de folhas largas, originária do sudeste asiático, que encontrou no cerrado brasileiro solo e clima perfeitos para o seu crescimento. "Queremos ser o maior fornecedor mundial de teca", diz Afrânio Migliari, da Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso.

A teca é uma madeira de lei tão cobiçada no mercado quanto o mogno, cujo corte hoje é proibido. Em países ricos, ela é a referência para embarcações devido à sua alta resistência à água - é a preferida para móveis e deques de iates e veleiros. Na Ásia, o maior mercado consumidor, sua popularidade equivale à da embuia no Brasil.

"A classe média indiana coloca soleira de teca na porta de entrada, e os ricos revestem paredes", brinca Luiz Cesar Limo de Oliveira, presidente da Arefloresta (Associação dos Reflorestadores do MT) e da consultoria florestal Nemus.

A teca já representa a 2º maior área reflorestada do Estado - do total de 100 mil hectares, 40 mil são de teca, ficando atrás apenas do eucalipto, com 46 mil hectares.

A palavra mágica que aguçou os mato-grossenses e já chegou a produtores de Tocantins, Goiás, Rondônia e Pará é preço. Vendida jovem custa cerca de US$ 30 por metro cúbico. Mas em sua maturidade, o que ocorre aos 25 anos de vida, chega a US$ 2 mil por metro cúbico no mercado internacional.

"É um projeto de longo prazo", diz Sylvio Coutinho, vice-presidente da Floresteca, que tem a maior área plantada do país, com 22 mil hectares em Cáceres, Tangará da Serra e Jangada. Fundada em 1994, com investimento inicial de US$ 500 mil, a empresa fez em 2005 seu primeiro embarque a Índia, China e Vietnã. "Exportamos US$ 1,5 milhão [em 2006]e 5 mil metros cúbicos de madeira". Para 2007, a idéia é "no mínimo dobrar a receita".

Coutinho e os demais produtores do Mato Grosso - que concentra quase 90% da produção nacional - realizam o desbaste de árvores jovens, com até 12 anos. Por isso, seu principal destino é a Ásia.

É Luis Veit, o filho de alemães que introduziu a espécie asiática no país nos começo dos anos 70, a referência em árvores nobres. Sua Cáceres Florestal é a única com árvores de 35 anos, valiosíssimas no mercado. "Ele fala que não vende, mas leiloa as árvores", diz um concorrente. "O primeiro corte foi em 2001, quando elas tinham 30 anos", conta Veit. Sem abrir dados, ele diz que fornece só para a indústria náutica, la crème de la crème.

O preço sobe não só pela qualidade da madeira. As florestas da Ásia estão exauridas e na América Central, onde também há produção, a área é limitada. "Por outro lado, a Ásia consome muito e conseguimos reduzir o ciclo de corte para 25 anos no Brasil", afirma Ricardo Mastrangelli, da Refloresta.

O holandês Luit Smit, há 20 anos no país, irá estrear no mercado externo em abril, com o embarque de cinco contêineres à Índia. Diretor da Tectona Agroflorestal, ele já tem pedidos da China e Vietnã. "O mercado interno não descobriu a teca. O nosso foco é fora", diz Smit, que tem 1.600 hectares em Tangará da Serra. Para ele, as exportações são interessantes, apesar dos custos. "São US$ 100 por metro cúbico só de frete interno. Mas o comprador paga o transporte de navio."

Diferente dos demais produtores, que em sua maioria investem do próprio bolso, a Floresteca conta apenas com financiamento estrangeiro. "São desde pessoas físicas até fundos de pensão holandeses", diz Coutinho. Segundo ele, é um investimento de risco, mas estratégico. "Eles investem em algo que só lá na frente vão receber - parte da receita com a venda da madeira - , mas é um estoque estratégico. As matas nativas estão acabando e aí é que entra a floresta plantada. Isso nos garante preço".

Do ponto de vista ambiental, a teca tem vantagens sobre outras monoculturas, diz Ricardo Machado, biólogo da Conservação Internacional (CI). Segundo ele, além de usar pouco agrotóxico, é uma árvore que não libera carbono. Isso porque, ao contrário do eucalipto, sua madeira é não é queimada para a produção de carvão vegetal.

"A demanda por mão-de-obra também é alta", acrescenta Oliveira, da Arefloresta. "Enquanto a soja usa três pessoas para cada 500 hectares, a teca emprega 25 pessoas".
(Por Bettina Barros, Valor Econômico, 16/03/2007)

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