O diretor de Meio Ambiente da Bayer SA, Enio Viterbo, diz que a empresa não foi comunicada oficialmente da representação encaminhada ao Ministério Público Estadual e à Procuradoria da República no RJ. Ele ressaltou ainda que a Bayer mantém uma relação de diálogo com as comunidades, tem pautado a sua atuação pelo respeito à leis em vigor e desconhece problemas ambientais ou de saúde pública decorrentes das suas atividades na Baixada Fluminense. Confira a entrevista a seguir.
Os moradores dizem que a empresa não divulgou informações e nem prestou esclarecimentos à comunidade sobre o acidente, suas causas e ações desencadeadas para evitar contaminação ambiental e problemas de saúde pública.
Enio Viterbo - “A Bayer sempre manteve junto à comunidade uma postura de transparência e respeito desde o início de suas operações, há quase 50 anos. Tanto isto é verdade que foi por sua iniciativa que foi criado o primeiro Conselho Comunitário Consultivo do Rio de Janeiro.Vale ressaltar que não houve omissão de fatos e que todas as providências foram tomadas a fim de evitar qualquer tipo de impacto ambiental. O acidente ocorreu em função de um aumento de temperatura no tanque de envase do defensivo agrícola Tamaron, que foi resfriado com jatos de água para impedir emissões atmosféricas. Toda a água utilizada na ação de resfriamento foi tratada na estação do Parque Industrial de Belford Roxo. Assim, mais uma vez é preciso dizer que não houve vazamento do produto, contaminação ambiental e problemas de saúde. Além das providências internas, a empresa também acionou seu plano de emergência que contou com a participação da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e da FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente).”
Quais foram os procedimentos tomados após o acidente para evitar riscos de contaminação ambiental e à saúde da população da cidade?
Enio Viterbo - “A unidade afetada é a que sintetizava o ingrediente ativo Metamidofós, base do defensivo agrícola Tamaron. O acidente foi ocasionado pelo aumento de temperatura no tanque de envase, que se rompeu por excesso de pressão. Imediatamente, o tanque foi resfriado com jatos de água para o abatimento das emissões atmosféricas. Paralelamente, a empresa acionou seu plano de emergência, que contou com a participação da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e da FEEMA. Toda a água utilizada na ação de resfriamento foi tratada na estação do Parque Industrial de Belford Roxo. Não houve vazamento do produto e a área afetada foi limpa imediatamente. Portanto, a população não foi afetada.”
Que tipo de produtos são fabricados nas instalações onde ocorreu o acidente?
Enio Viterbo - “Em Belford Roxo é realizada a formulação da maior parte dos defensivos agrícolas da Bayer CropScience. No Parque Industrial em Belford Roxo existem fábricas da Bayer CropScience, a produção de polímeros da Bayer Material Science, além de outras empresas parceiras. O acidente afetou somente a unidade da Bayer CropScience, que sintetizava o ingrediente ativo metamidofós.”
Na representação que o Fórum de Meio Ambiente e Qualidade de Vida da Baía de Sepetiba e da Zona Oeste encaminhou ao Ministério Público e à Procuradoria da República no RJ foi pedido levantamento epidemiológico da população local e até a realocação da empresa. Como a Bayer avalia esse tipo de demanda e o que deve fazer em relação à ação movida pela sociedade?
Enio Viterbo - “A Bayer não foi comunicada oficialmente. No entanto, vale salientar que a empresa atua dentro das mais rígidas normas de segurança e de acordo com a legislação brasileira, que é considerada uma das mais rigorosas do mundo. Nunca tivemos o registro de acidentes que prejudicassem a população ao redor. E no caso do acidente recente, todas as medidas cabíveis foram adotadas imediatamente a fim de preservar a segurança e o bem-estar dos colaboradores e da população. Outro fator importante é que a empresa constitui-se numa importante fonte geradora de empregos e recursos para a cidade de Belford Roxo. Atualmente, o parque conta com mais de 2.000 vagas de trabalhos diretas e indiretas, sendo que 70% destas são ocupadas por moradores da região”.
A ação também questiona impactos do Tamaron à saúde e ao meio ambiente. O produto, segundo consta no texto da representação, pode provocar sérios danos cognitivos, sobretudo, nas crianças. Era somente esse o produto contido no tanque que explodiu? Essas informações procedem?
Enio Viterbo - “Primeiro, o acidente ocorreu somente no tanque de envase do Tamaron. Trata-se de um inseticida produzido pela Bayer CropScience e é devidamente registrado pelos órgãos que regulamentam a produção e utilização de defensivos agrícolas no Brasil – Ministério da Agricultura, Ibama e Anvisa. O produto é recomendado para o controle de pragas nas culturas soja, algodão, amendoim, batata, feijão, tomate e trigo e está há anos no mercado brasileiro. O Tamaron possui um odor bastante forte, devido a um de seus componentes que contém enxofre, o que ajuda na detecção do produto. Porém, esse cheiro forte se dissipa rapidamente e desaparece sem causar danos à saúde ou ao meio ambiente. Vale destacar que o Tamaron é um produto de alta importância para a agricultura, sobretudo para o controle de pragas na cultura da soja, que é a principal cultura de exportação do Brasil.”
Como a empresa atua no controle de suas emissões atmosféricas e lançamento de efluentes industriais?
Enio Viterbo - “A empresa atende a absolutamente todos os requisitos da legislação brasileira vigente. Todos os índices estão sob controle, inclusive com o acompanhamento dos organismos de controle ambiental, como a FEEMA.”
Como atua em relação à prevenção de acidentes?
Enio Viterbo - “As equipes de Belford Roxo passam por rigorosos treinamentos de emergência para agirem rapidamente. Ao mesmo tempo, existe orientação detalhada a respeito de quais organismos públicos devem ser alertados. Todos os procedimentos do Plano de Emergência em caso de crise foram seguidos à risca. Também é realizado anualmente o Simulado de Emergência Nível III. Este treinamento avalia o plano de emergência em um caso de acidente com potencial de transpor as barreiras do Complexo Industrial e atingir a comunidade. A ação preventiva conta com a participação de órgãos externos de apoio, como o Corpo de Bombeiros de Nova Iguaçu, Defesa Civil de Belford Roxo, Polícia Militar, SuperVia e FEEMA, além do PAM (Plano de Auxílio Mútuo), composto por empresas próximas à Bayer.”
Procede a informação de que o Tamaron seja de uso restrito ou proibido na maioria dos países desenvolvidos pelos riscos ambientais e à saúde que possa causar?
Enio Viterbo - “O produto é registrado e utilizado em diversos países do mundo, principalmente para as culturas de soja e algodão. Desta forma, em países onde estas culturas são importantes, ele é registrado e vendido; em regiões onde estas culturas não são expressivas, ele não é necessário. Nos Estados Unidos, por exemplo, país produtor de soja e algodão, o produto é vendido. Na Europa ou em outras regiões estas culturas são praticamente inexistentes. Seu importante uso no Brasil e EUA deve-se, portanto, à forte presença das culturas de soja e algodão nestas duas regiões.”
Os moradores dizem que falta diálogo da empresa com as comunidades vizinhas e que nunca receberam nenhum tipo de treinamento sobre como devem agir em caso de acidentes.
Enio Viterbo - “A Bayer sempre manteve um bom relacionamento com a comunidade e sempre esteve aberta ao diálogo.Tanto que no ano passado foi criado um Conselho Comunitário Consultivo – o primeiro do Rio de Janeiro –, formado por diversos membros da comunidade. Periodicamente este Conselho se reúne com representantes da empresa para debater temas de interesse de ambas as partes, dentre eles a segurança no Parque Industrial e ao redor da empresa. Outro ponto que comprova a transparência da empresa é que, para a manutenção da segurança dos colaboradores e da comunidade vizinha, anualmente é realizado o Simulado de Emergência Nível III. Este treinamento avalia o plano de emergência em um caso de acidente com potencial de transpor as barreiras do Complexo Industrial e atingir a comunidade. A ação preventiva conta com a participação de órgãos externos de apoio, como o Corpo de Bombeiros de Nova Iguaçu, Defesa Civil de Belford Roxo, Polícia Militar, SuperVia e FEEMA, além do PAM (Plano de Auxílio Mútuo), composto por empresas próximas à Bayer.”
Os moradores se queixam que a fumaça que exala das instalações da empresa provoca uma série de problemas de saúde nas famílias que estão mais próximas.
Enio Viterbo - “Não temos conhecimento de nenhum problema ocasionado pela nossa atividade, uma vez que a empresa segue todas as normas de segurança e exerce todas suas atividades dentro da lei estabelecida no Brasil. A empresa é comprometida com as melhores práticas de atuação responsável, com certificados internacionais ISO 9000 e ISO 14000. E o mais importante, periodicamente os colaboradores que trabalham diretamente com os produtos fazem exames. Este monitoramento é importante porque, em caso de poluição prejudicial à população, o público interno é o primeiro a apresentar problemas de saúde, o que nunca ocorreu.”
Há também um questionamento na representação de que as instalações de Belford Roxo seriam antigas e teriam equipamentos ultrapassados, que não seriam utilizados em países desenvolvidos como os europeus. Há quanto tempo a empresa está instalada no local e o que poderia dizer em relação a esse questionamento quanto à eficiência de suas instalações?
Enio Viterbo - “Embora a empresa esteja em Belford Roxo há quase cinqüenta anos, ela tem passado por modernizações e atualizações tecnológicas sistematicamente, O que mantém nossas instalações sempre em pé de igualdade com outras fábricas da Bayer S.A. no mundo. O aterro, por exemplo, atende aos conceitos técnicos mais avançados para a disposição de resíduos químicos. Há anos, são feitas medições e avaliações constantes do lençol freático - em sete poços - por meio das autoridades competentes. Essas análises mostram que o aterro não libera substâncias nocivas (entre elas o mercúrio) para o meio ambiente. Já o incinerador atende todos os padrões mundiais e está listado no cadastro do UNEP (United Nations Environmental Programme). A tecnologia usada aqui é a mesma da matriz, na Alemanha.”
PARA SABER MAIS SOBRE ACIDENTES INDUSTRIAIS:
- MPT conta com mais dois fóruns para garantir a saúde e segurança do trabalhador: http://minerva.pgt.mpt.gov.br/noticias2/setembro2002/427-2anexo2.html
- Segurança química, saúde e ambiente: perspectivas para a governança no contexto brasileiro: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-311X2002000100025&lng=pt&nrm=iso
LEIA TAMBÉM
Dois meses após acidente na Bayer, moradores querem tirar fábrica de agrotóxicos da área urbana de Belford Roxo
Para especialista, poder econômico das corporações torna países pobres vulneráveis a problemas sócioambientais
Bayer só deixa a poluição em Belford Roxo, reclamam moradores
Brasil precisa de registro integrado de acidentes, diz pesquisador da Fiocruz
Por Elizabeth Oliveira
A reportagem de Elizabeth Oliveira constitui um marco diferencial pois foi patrocinada solidária e voluntariamente por diversos jornalistas ambientais que participam da RBJA – Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, sendo veiculada espontaneamente por diversos veículos da mídia ambiental engajados em estimular e exigir maior investimento em jornalismo ambiental investigativo.