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bayer passivos da indústria química
2007-03-15
Maria Regina Inácio, 37 anos, mora em Jardim Anápolis, ao lado das instalações da Bayer em Belford Roxo. Além das ruas esburacadas, da falta de área de lazer e dos serviços precários de transporte coletivo, ela reclama também dos problemas de saúde. Conta que sente irritação nos olhos, enjôo e dores de cabeça freqüentes.

Maria Regina reclama de uma fumaça branca que sopra constantemente de uma chaminé localizada nas instalações da fábrica. “Durante o dia essa fumaça deixa todo mundo com enjôo. À noite a situação piora e o odor fica insuportável. A gente tem que fechar todas as portas e janelas antes de anoitecer pra suportar o mau cheiro que vem de lá”, diz a moradora apontando para a chaminé nas instalações da Bayer que pode ser vista da sua calçada. “Eu não tive como comprovar até hoje, mas como moro aqui há 37 anos, suponho que tenha a ver com a poluição gerada pelas instalações que estão aqui do lado", diz a técnica em edificações. Sua suspeita aumenta porque outros vizinhos reclamam dos mesmos sintomas.

O artesão Igor de Oliveira Silva, 34 anos, é outro morador do Jardim Anápolis que reclama das atividades da Bayer. Segundo ele, muita gente da comunidade sente irritação nos olhos provocada pela fumaça. “Quem vê essa fumaça que sopra durante o dia precisa conhecer a situação à noite, quando o mau cheiro incomoda muito mais”. Silva considera que falta mobilização dos moradores deste e de outros bairros mais próximos das instalações da Bayer em Belford Roxo. Para ele essa é uma das razões pelas quais as comunidades não têm acesso a mais informações sobre a atuação da empresa e sobre os potenciais riscos em decorrência de sua atuação.

Denúncia Boca a Boca
Os dois dizem que a população do entorno ficou ainda mais temerosa depois da explosão de janeiro, que pôde ser ouvida a 5 quilômetros de distância. “Soubemos da gravidade do acidente pelos amigos que se informaram pelas notícias que circularam nos jornais. Faltou comunicação por parte da empresa para a comunidade", lembra Maria Regina. "A gente queria saber mais sobre os riscos que envolvem a produção dessa empresa e sobre os perigos desse produto que tava no tanque que explodiu, mas ninguém fala nada, nem os órgãos públicos e nem a própria companhia”, afirma.

“As informações sobre os riscos são abafadas. A gente já soube inclusive que as atividades da empresa já provocaram a contaminação do lençol freático, o que obrigou muitas famílias a lacrarem poços artesianos de onde tiravam água pra consumo diário”, reforça Igor. O artesão informa que essa situação foi verificada no Gogó da Ema, um bairro da cidade famoso pelos altos índices de violência. Ele também lamenta que esse tipo de boato não tenha sido investigado a fundo para confirmar ou descartar a suspeita de contaminação, notícia que segundo ele, circulou de boca em boca pelo município.

A dona de casa Maria do Carmo Barreto dos Santos, 36 anos, é outra que se queixa da falta de informações e dos problemas de saúde. “Há nove anos eu moro nesta rua e não vejo a situação melhorar por aqui. A gente está ao lado de uma grande empresa e olha a situação da nossa rua”, diz apontando para a falta de calçamento, de arborização e de outros cuidados urbanísticos no local. “Como se não bastassem todos os problemas que temos aqui, acidentes como o que ocorreu na Bayer, aumentam ainda mais a desvalorização dos nossos imóveis. Ninguém quer comprar uma casa do lado da fábrica. Um vizinho tentou vender a casa dele recentemente e não conseguiu.”, conta a dona de casa.

Mais Mobilização
“Eu reconheço que a gente precisa se unir e exigir mais transparência na atuação dessa empresa. A gente quer ter mais informação sobre esse produto que provocou a explosão que estremeceu as nossas casas. Além disso, está mais do que na hora de sermos submetidos a exames médicos para avaliar se estamos sofrendo impacto da poluição industrial. Eu queria ser a primeira a ter a saúde avaliada”, afirma Maria do Carmo.

Morador de Belford Roxo há 24 anos, o eletricitário aposentado Antônio Jorge Machado Soares, reconhece que nem sabia da representação no Ministério Público e na Procuradoria da República, pedindo a transferência da planta da Bayer e o levantamento epidemiológico das comunidades. O artesão Antônio da Silva Medeiros, que mora há 12 anos em Belford Roxo, também reclama da falta de comunicação. Vivendo a quatro quilômetros da área industrial, ele lembra da explosão que ouviu no bairro onde mora. “A gente tem pouca informação sobre essa empresa e as coisas erradas que acontecem a gente não fica sabendo porque a imprensa pouco divulga”, queixa-se Antônio Medeiros.

Auditoria Independente
“Eu bato na tecla de que esse tipo de acidente além de um crime ambiental deve ser considerado um crime corporativo. Quem nos garante que o meio ambiente e a saúde humana não foram afetados com a explosão?”, questiona o ambientalista Sérgio Ricardo. Na ação encaminhada ao Ministério Público e à Procuradoria da República foi pedida uma auditoria independente nas instalações da Bayer, em Belford Roxo.

“Tenho certeza que se isso for feito vai ser determinado o fechamento das instalações dessa empresa que no seu país-sede (a Alemanha) não teria permissão pra funcionar. Tecnologia de incineração em centro urbano não é adotada em nenhum país desenvolvido. Se pode no Brasil isso já evidencia uma situação de racismo ambiental, o que garante aos grandes grupos econômicos explorar atividades altamente poluidoras em regiões periféricas, onde a população é formada por maioria negra, pobre, com baixos níveis de escolaridade e de mobilização social”, acrescenta o ambientalista.

O ambientalista Davson das Virgens Bragança concorda com as avaliações de Sérgio Ricardo. Na condição de morador de Belford Roxo ele também se diz preocupado com o risco de acidentes nas instalações da Bayer e pretende contribuir na organização do abaixo-assinado que reforçará o pedido de auditoria independente nas instalações da empresa, além de levantamento epidemiológico das comunidades. “Essa empresa não deveria estar mais funcionando aqui, em pleno centro urbano de Belford Roxo”, ressalta.

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Por Elizabeth Oliveira
A reportagem de Elizabeth Oliveira constitui um marco diferencial pois foi patrocinada solidária e voluntariamente por diversos jornalistas ambientais que participam da RBJA – Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, sendo veiculada espontaneamente por diversos veículos da mídia ambiental engajados em estimular e exigir maior investimento em jornalismo ambiental investigativo.

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