Estudo apresentado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) mostra que o desmatamento no território nacional corresponde a mais de 40% de toda a perda líquida de áreas florestais no mundo, entre 2000 e 2005. O saldo confere ao Brasil a liderança mundial, entre 140 nações.
Segundo a FAO, 15.515.000 hectares de florestas brasileiras foram perdidas. Apenas na Amazônia Legal, no mesmo período, foram desmatados 14.206.000 hectares, conforme dados oficiais do sistema Prodes. O resultado do relatório foi calculado considerando-se a área total desmatada no país, menos as áreas reflorestadas no mesmo período, tanto florestas nativas quanto plantações florestais.
Os números mostram ainda que o índice de desmatamento no país aumentou de 0,5% para 0,6% em relação ao período de 1990 a 2000, na contramão de algumas áreas do globo que conseguiram reverter esse panorama. Para Roberto Smeraldi, da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, "É impressionante que o Brasil, na contramão da tendência mundial, se isola na liderança do desmatamento. Significa que estamos desmatando num ritmo de 31, 32 mil km² por ano, principalmente na Amazônia, no Cerrado e na Caatinga".
Dentro da América do Sul, o Brasil responderia por cerca de 70% do total de áreas desflorestadas entre os anos de 2000 e 2005. O principal motivo do avanço sobre as áreas de floresta em toda América Latina e Caribe seria a agricultura e pecuária, grandes pilares da economia de seus países. "Primeiro vem a madeira, depois o boi e depois a plantação de soja e outras culturas. É uma cadeia em que justifica o desmatamento a partir do lucro dessas atividades", diz Smeraldi.
O relatório estima que a área global de florestas no planeta hoje é de cerca de quatro bilhões de hectares, cerca de 30% de toda a superfície do planeta. O desmatamento dessa área durante o período de 2000 a 2005, de acordo com a FAO, seria da ordem de 7,3 milhões de hectares ao ano, sendo pouco mais de 40% desse desmatamento realizado no Brasil.
Balanço mundial é positivo
O estudo aponta que a área total desflorestada no planeta foi menor que em anos anteriores, o que indicaria um avanço em termos de legislação e políticas públicas para reflorestamento e preservação do solo, água e biodiversidade.
Dentre os países que fizeram parte do estudo, 57 deles conseguiram de alguma maneira aumentar sua área total de florestas, com destaque para a China, cuja política de reflorestamento logrou ocupar uma área maior que a área desmatada no continente asiático.
Brasil em descompasso
A participação brasileira na redução global da área de florestas não aparece ressaltada pelo relatório, mas chama a atenção frente à continuidade de sua liderança mundial em desmatamento. No estudo anterior, a perda de áreas de floresta no país correspondia a cerca de 30% do total do planeta. A atual marca de 42% mostra um descompasso em relação à tendência internacional.
(Por Mariane Gusan, com Renata Gaspar e Carolina Derivi,
Amazônia.org, 15/03/2007)