Camponeses se associam a elefantes no Sri Lanka: esforços para trasladar as manadas não tiveram sucesso
2007-03-15
Após décadas de inúteis esforços em Sri Lanka para
afastar os elefantes das zonas habitadas por agricultores pobres, as
autoridades colocaram à prova um original plano para conseguir a convivência
entre esses animais e os humanos. A cada ano morrem entre 50 e 60 pessoas
neste país por causa de incidentes com elefantes que chegam às zonas de
cultivo em busca de alimento. A maioria das vítimas é de camponeses pobres
que se dedicam ao corte e queima de florestas para obter novas terras ou para
destruir a vegetação que cresceu em épocas de descanso.
Os esforços para trasladar as manadas para parques naturais, longe das áreas
habitadas pelo homem, não tiveram sucesso. As últimas pesquisas em Sri Lanka
concluíram que, em lugar de enfrentar esses paquidermes, o homem deveria
tentar se relacionar com ele e protegê-lo. Milhares de pessoas pobres se
aventuram na selva e plantam sem autorização em terras do governo, geralmente
habitadas por elefantes, que encontram nelas uma fonte ideal de alimentos.
Apesar de a prática de corte e queima ser ilegal, o governo tolera a situação
considerando a grande escassez de emprego que afeta este país da Ásia
meridional.
Essa prática de desmatamento é condenada por ambientalistas. A grande
quantidade de dióxido de carbono que desprende contribui para o efeito
estufa, causador do aquecimento do planeta, enquanto o desaparecimento das
árvores destrói os ecossistemas e agravas as inundações, segundo cientistas.
O Departamento de Conservação de Fauna e Flora do Sri Lanka embarcou em um
projeto-piloto para conseguir a convivência entre elefantes e agricultores.
Prithiviraj Fernando, do Centro de Conservação e Pesquisa, disse à IPS que
resolver este conflito é o maior desafio da nova Política Nacional para a
Conservação dos Elefantes Selvagens.
Segundo o programa, os animais serão estimulados a aproveitar a grande
quantidade de alimento existente fora das áreas cultivadas durante a estação
das chuvas. Ao mesmo tempo, se protegeria os campos plantados com valas ou
cercas eletrificadas. Depois da colheita, as terras ficariam abertas aos
elefantes, enquanto os agricultores obteriam renda através de diversas
iniciativas turísticas. Assim, os camponeses se beneficiariam diretamente da
proteção dos animais. Além disso, a criação de um cinturão de áreas
cultivadas garantiria alimento constante para os elefantes e, dessa forma, os
manteria longe dos centros habitados.
No entanto, Fernando destacou a necessidade de os camponeses terem facilitado
o acesso a empréstimos e vias de comercialização de seus produtos. O
projeto-piloto será lançado em áreas vizinhas ao Parque Nacional da província
de Yala, o maior do país, informou o diretor-geral do Departamento de
Conservação de Fauna e Flora, Dayananda Kariyawasam. Os elefantes têm
dificuldade em sobreviver na selva densa porque não podem alcançar a parte
superior das árvores em busca de alimento, enquanto a grama é escassa.
As terras submetidas ao desmatamento e queimada, por sua vez, contam com uma
vegetação que se regenera, por isso são aproveitadas pelos animais. O projeto
faz parte de uma nova política de conservação de elefantes lançada no ano
passado. Não há cifras exatas sobre a quantidade destes animais no Sri Lanka,
mas, estima-se que sejam cerca de quatro mil. Kariyawasam disse que a
campanha evitou que os agricultores matassem e mutilassem muitos animais. As
medidas adotadas, talvez, não sejam o melhor método, mas, é uma opção
temporária que deve ser considerada.
A maioria dos elefantes que atacam os moradores é de machos adultos que se
separam da manada, buscam comida e perambulam sozinhos. “Estes machos
solitários são mais agressivos e atacam as aldeias e plantações. É raro uma
manada de fêmeas arrasar um lugar”, explicou Kariyawasam. Porém, nem todos os
conservacionistas estão convencidos da eficácia do plano. “Em sua forma
atual, o plano somente incentivará a prática de uma agricultura de
subsistência e a degradação do habitat”, alertou a Fundação Ambiental. Para
esta organização ambientalista, a mais importante do país, a política
implementada irá incentivar a transformação de áreas selvagens em terras
degradadas.
(Por Feizal Samath, IPS, 14/03/2007)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=29055&edt=1