Metas da UE para combater o aquecimento global são enganosas, afirmam cientistas alemães
2007-03-15
Cientistas alemães qualificaram de “enganoso” o novo
compromisso da União Européia de reduzir em 20%, até 2020, a emissão de gases
causadores do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento do planeta, em
relação aos níveis de 1990. O anúncio feito na semana passada na cúpula da UE
foi considerado um marco nas políticas ambientais mundiais. Entretanto,
alguns especialistas alemães dizem que os números não são tão bons quanto
parecem.
“Somente o fechamento de grande parte da indústria nos países da Europa
oriental, que são novos membros da UE, reduziria consideravelmente as
emissões de dióxido de carbono”, disse à IPS o cientista Hans-Joachim
Luhmann, pesquisador do Instituto Wuppertal para o Clima, o Meio Ambiente e a
Energia. “Para a UE como um todo, estas reduções representariam 15% menos de
dióxido de carbono do que em 2012, em relação aos níveis de 1990. Isto
significa que, de concreto, o bloco aceitou reduzir suas emissões em apenas
5%. Esse objetivo não é nada ambicioso. O acordo é enganoso”, acrescentou.
As emissões por atividades humanas de gases como o dióxido de carbono, metano
e óxido nitroso são consideradas as responsáveis pelo aquecimento da Terra e
as conseqüentes transformações gerais do clima. Durante a cúpula da UE,
realizada dias 8 e 9 deste mês, em Bruxelas, os chefes de Estado e governo
europeus também decidiram reduzir o consumo de energia em 20% até 2020. Outra
decisão dos líderes do bloco é aumentar em 10% o uso de biocombustíveis no
transporte dentro dos 27 países do grupo. Os projetos de hidrelétricas e de
energias renováveis, com a eólica e a solar, também terão aumento de 20% no
mesmo prazo.
Mas diante da oposição das nações da Europa oriental, que garantem não poder
abandonar tão rapidamente fontes de energia como o carvão, foi acertada a
criação de “objetivos nacionais diferenciados”, considerando a atual situação
de cada país. Porém, cientistas afirmam que essa diferenciação é um erro. As
fontes de energia renováveis podem dar um impulso econômico ainda maior aos
países do antigo bloco soviético agora membros da UE, disse à IPS a diretora
do Departamento de Energia, Transporte e Meio Ambiente do Instituto Alemão
para a Pesquisa Econômica, Claudia Kemfert. Na Alemanha, as energias
renováveis já criaram 214 mil postos de trabalho, e até 2020 espera-se que
esse número aumento para 330 mil, afirmou Kemfert.
Os líderes europeus também foram criticados por não considerarem uma redução
drástica das emissões no crucial setor dos transportes, a segunda fonte de
dióxido de carbono na Europa e que representa um quinto de todas as emissões
de gases causadores do efeito estufa no ocidente da União Européia. O informe
de 2006 da UE sobre emissões desses gases indica que o transporte não é o
único setor onde as emissões aumentaram desde 1990. A partir desse ano, as
emissões totais diminuíram 5%, mas, as do transporte cresceram 26%. O estudo
também alerta que sem novas medidas ambientais as emissões no setor dos
transportes aumentarão 35% até 2020.
O europarlamentar verde Daniel Cohn-Bendit exortou os governantes da UE a
“informar à população que os aviões e os automóveis contribuem de forma
substância para o aquecimento do planeta”. No entanto, a indústria
automobilística, especialmente da Alemanha, se opõe a compromissos de curto
prazo, tendo rejeitado uma proposta feita em fevereiro pelo comissário de
Meio Ambiente da UE, Stavros Dimas, para o estabelecimento de metas de
redução das emissões de dióxido de carbono nos novos automóveis até 2012.
Dimas propôs diminuir a liberação de dióxido de carbono para 120 gramas por
quilômetro, enquanto o governo alemão sugeriu o limite de 130 gramas, em
média. Atualmente, os automóveis mais novos na Alemanha emitem, em média, 172
gramas por quilômetros, e ainda há os que emitem mais de 300 gramas. “Há
muitas áreas nas quais gastamos energia sem sentido e colocamos uma pesada
carga sobre o clima”, disse Dimas ao jornal alemão Bild am Sonntag.
“Uma medida simples na Alemanha poderia ser a adoção de um limite geral de
velocidade nas autopistas. Os limites têm muito a ver e são completamente
normais na maioria dos Estados da UE. Somente na Alemanha, estranhamente, são
polêmicos”, disse Dimas. Por sua vez, o líder do governante Partido
Social-democrata alemão, Kurt Beck, lembra que os limites de velocidade são
uma “política simbólica”.
“O fato de os carros alemães serem tão poderosos é parte das vantagens
competitivas de nossa economia. As duas coisas (emissões de dióxido de
carbono e motores poderosos de alto consumo) estão relacionadas”, afirmou em
uma entrevista na televisão. Um estudo do Escritório Federal Alemão para o
Meio Ambiente concluiu que com a determinação de um limite de velocidade de
120 Km/h nas autopistas as emissões de gases causadores do efeito estufa
nessas estradas cairiam até 9%.
(Por Julio Godoy, IPS, 14/03/2007)
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