Semana passada uma equipe de cinco técnicos e o presidente da Agência
Nacional de Águas (ANA) vieram ao RS dialogar com a Secretaria de Meio
Ambiente (Sema/RS). O objetivo da visita era a busca de soluções para a
crise do Departamento de Recursos Hídricos (DRH) do estado. Especificamente,
achar uma forma de reativar investimentos em projetos do setor como o
Pró-Guaíba.
O programa, iniciado há treze anos, já foi o maior projeto ambiental do
estado. Mas, por conta do desinteresse político, perdeu o principal
financiador, o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Atualmente está
parado, após completar apenas um dos quatro módulos previstos para serem
implementados em duas décadas.
Ao todo, foram investidos US$ 230 milhões no Pró-Guaíba desde 1994. Isso num
plano que dividiu uma área abrangendo 30% do RS, com 250 municípios
responsáveis por 80% do PIB do estado, em nove bacias hidrográficas. É o
chamado Plano Diretor da Região Hidrográfica - o RS está dividido em três
regiões hidrográficas.
A proposta discutida agora pela ANA e o DRH para reativar o programa é
unificar o plano das nove bacias que compõe a região do hidrográfica Guaíba.
O objetivo é agilizar a cobrança do uso da água, permitindo que essa verba
financie algumas ações definidas pelo programa. A idéia de plano único, em
vez de nove planos, é um resgate do Plano Diretor que foi elaborado pelo
Pró-Guaíba. Caso a iniciativa funcione, a proposta poderá se aplicar às
outras duas regiões. A previsão é de que a proposta esteja pronta e
oficialmente formatada até o fim do ano, quando passará pelo crivo dos
comitês de bacia.
Buscando recursos
"É claro que o dinheiro nunca será o suficiente (só o módulo 2 do Pró-Guaíba
foi orçado em US$ 150 milhões), mas essa seria uma fonte permanente, e em
Reais. Se conseguirmos trabalhar politicamente com os comitês de que será
pior esperar a criação dos planos individuais, temos a possibilidade de
discutir imediatamente a cobrança e as agências", afirma o
secretário-executivo do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Paulo Renato
Paim. Ele garante que a decisão sobre a quantia cobrada, e aonde ela será
aplicada, serão da sociedade via comitês de bacia.
O coordenador do Fórum Gaúcho dos Comitês de Bacia Hidrográfica, Luiz
Fernando Cybis, levará a proposta para discussão nos comitês.
A proposta atual pretende dar uma ênfase prática à gestão dos recursos
hídricos do RS. Embora a criação das agências de região hidrográfica e a
elaboração dos planos de bacia estejam previstos desde a aprovação da
lei
estadual 10.350/1994 - que instituiu o Sistema Estadual de Recursos
Hídricos - nenhuma das três agências saiu do papel e apenas quatro dos 25
planos foram feitos (rios Caí, Tramandaí, Pardo-Pardinho e Guaíba).
Para piorar ainda a situação, hoje, o Rio Grande do Sul está impossibilitado
de captar recursos internacionais porque não pode se comprometer com a
contrapartida de aportes, como os que foram feitos pelo BID. Os
investimentos nacionais e estaduais também são insuficientes. “Ajudas como
os R$ 2 milhões (divididos pelos três estados do Sul) que virão dos cofres
federais via Pró-Água/Gestão não são para obras estruturais do porte do
Pró-Guaíba”, enfatiza Paim. Segundo ele, a verba do Pro-Água/Gestão será
destinada à capacitação, estudos e compra de equipamentos.
Por hora, o DRH se comprometeu a institucionalizar o projeto no âmbito do
Conselho de Recursos Hídricos e a ANA garantiu ajudar na organização de um
banco de dados com verbas e bolsistas de mestrado e doutorado pelo CT Hidro
(Fundo Setorial de Recursos Hídricos), do Ministério da Ciência e
Tecnologia. O sistema de informações ficará pronto neste semestre.
Falta estrutura
Apesar do espírito de cooperação, o consenso acontece mesmo quando o assunto
é a falta de pessoal e recursos para levar a cabo a proposta de unificação.
Rosana Garjulli, gerente da Superintendência de Apoio a Gestão de Recursos
Hídricos da Agência, diz que a ANA veio para deixar claro que tem "toda
disposição de ajudar, porque há o reconhecimento de que a sociedade é
organizada, mas a parte institucional está realmente muito
enfraquecida".
O DRH/RS conta com uma minguada equipe de dois técnicos que trabalham com o
Planejamento e dois coordenadores cedidos, além de convênios como o com a
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). Apesar da precariedade,
não há previsão de concurso para a contratação de mais
funcionários.
Para a secretária executiva do Comitê Sinos, Viviane Nabinger, há a
necessidade urgente de aparelhamento do DRH. "Nosso diálogo com a equipe
sempre foi de cooperação, mas falta estrutura", declara.
Fortalecimento político
O interesse da ANA é fortalecer o órgão gestor do Rio Grande do Sul para
que a cooperação entre Estado e União ocorra na prática. Para Paim, a
Agência precisa que o DRH a substitua em algumas das suas atribuições
mediante convênio e seria impossível negociar com um departamento tão
fragilizado. "A ANA precisa de um interlocutor forte. Eles também vieram por
motivos políticos, porque há uma espécie de ranço entre os estados e a
Agência", esclarece o secretário-executivo.
A equipe de técnicos da ANA também prometeu dar suporte aos Comitês de
Gerenciamento de Bacia dos rios Sinos e Gravataí. O seminário Sistema Gaúcho
de Recursos Hídricos nas Bacias Hidrográficas dos Rios Gravataí e Sinos -
Presente e Futuro, que aconteceu na última sexta-feira (9/3), em São
Leopoldo, foi organizado com o intuito de apresentar os projetos e lacunas
dos membros dos comitês.
A prioridade da Agência são os rios de domínio da União, como o rio Uruguai,
por exemplo. Porém, segundo a gerente da Superintendência de Apoio a Gestão
de Recursos Hídricos da ANA, Rosana Garjulli, é possível abrir exceções. Os
dois comitês querem que o órgão ajude na organização dos dados já coletados
para a criação dos respectivos Planos de Bacias e receberam um aceno
positivo. "Contamos com ajuda da ANA e vamos cobrar", diz o presidente do
Comitê da Bacia do rio Gravataí, Maurício Colombo.
(Reportagem de Ana Luiza Leal Vieira - Ambiente JÁ, 13/03/2007)
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