Sempre que as gotas da chuva demoram para cair no solo do Rincão Nossa Senhora Aparecida,
em Arroio do Só, começam as dificuldades dos moradores que vivem no ponto mais alto do
distrito. Lá, a água é um produto escasso. O pouco que se tem está armazenado em
cacimbas, uma espécie de cova espalhada no meio do mato.
Em 2005, as fontes foram sumindo com a estiagem, e a prefeitura teve de distribuir tonéis
de água para amenizar o desabastecimento. No começo deste ano, a situação está sob
controle, graças às chuvas que vêm caindo com freqüência no interior. Ainda assim, na
casa do agricultor Romário Pereira dos Santos, 78 anos, a falta de água já virou rotina.
Há seis anos, ele convive com o problema. Quando não vem água na bomba, ele busca na casa
dos vizinhos mais próximos: os filhos. E quando é Romário que tem água, ele reparte com
quem está de torneira vazia.
- Água é uma coisa que não se nega a ninguém - diz.
Para amenizar o problema, Romário fez três cacimbas em sua propriedade. As bombas, que
puxam água por meio de um motor, estão instaladas em dois poços. Quando uma das cacimbas
começa a falhar, ele aciona a outra bomba para garantir água nas torneiras. Além disso,
tonéis são colocados estrategicamente na beira da casa para armazenar as gotas da chuva.
A água recolhida serve para a limpeza e para matar a sede dos animais.
- A gente sofre bastante pela falta de água. Acho que, com o tempo, terá de ser
construído aqui um açude para que se possa tratar a água - afirma o agricultor.
Água tratada, só para as 200 famílias da sede do distrito
Hoje, só os moradores da sede do distrito de Arroio do Só têm rede de água da Companhia
Riograndense de Saneamento (Corsan), por meio de um contrato entre a empresa e a
prefeitura. As cerca de 200 famílias que moram na vila são beneficiadas com água tratada,
conforme estabelecido no contrato com a Corsan.
No Rincão Nossa Senhora Aparecida, segundo o secretário de Desenvolvimento Rural, Ildo
Callegari, o problema mais grave, que atingia 25 famílias, foi resolvido com a construção
de duas fontes drenadas. Segundo ele, a prefeitura chegou a fazer uma tentativa, com a
ajuda do Estado, de construir poços artesianos , mas o esforço foi frustrado devido à
dificuldade de achar água.
- Por isso partimos para as fontes drenadas como alternativa - afirma Callegari, que diz
que quem depende das cacimbas pode puxar água das fontes.
Falta de esgoto também é preocupação
Além da água, a falta de esgoto também incomoda os moradores de Arroio do Só, conhecido
pela sua produção de cuias. Nem na sede há saneamento básico. O esgoto que sai dos canos
corre a céu aberto na rua, inclusive, em frente à subprefeitura.
Há anos, a comunidade reivindica a rede de esgoto aos subprefeitos que se revezam no
cargo. Para quem ganhar a eleição do próximo dia 25, caberá levar as reivindicações às
autoridades competentes, no caso à prefeitura e à Corsan, e insistir na busca pela
solução dos problemas. Como os distritos não têm orçamento próprio e dependem dos
recursos escassos da Secretaria de Desenvolvimento Rural, muitos pedidos da comunidade
acabam não sendo atendidos.
- Em época de eleição, prometem fazer o esgoto, mas não sai nada - diz a dona-de-casa
Santa Santos, 37 anos, que mora há 20 anos no distrito.
O superintendente regional da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Elias
Pacheco, diz que a iniciativa de fazer a rede de esgoto nos distritos cabe à prefeitura.
Nos outros distritos
- Arroio Grande - Água encanada na sede. No restante das localidades, o abastecimento é
feito por meio de poços artesianos, fontes drenadas e cacimbas. Não há rede de esgoto
- Boca do Monte - Água encanada só na localidade do Passo da Ferreira. Na sede e no
restante do distrito, o abastecimento é feito por poços artesianos e fontes drenadas. Não
há rede de esgoto
- Pains - Água encanada na localidade de Passo das Tropas. Na sede e no restante do
distrito, o abastecimento é feito com poços artesianos. Não há rede de esgoto
- Palma - O abastecimento é feito por meio de poços artesianos. Não há rede de esgoto
- Passo do Verde - O abastecimento é feito por poços. Não há rede de esgoto
- Santa Flora - O abastecimento é feito por meio de poços artesianos. Não tem esgoto
- Santo Antão - O abastecimento é feito por poços artesianos, fontes drenadas e cacimbas.
Não há rede de esgoto
- São Valentim - O abastecimento é feito por meio de poços artesianos e cacimbas. Não há
rede de esgoto
Fontes: Secretaria de Desenvolvimento Rural, subprefeituras e Justiça Eleitoral
(Por Jaqueline Silveira,
Diário
de Santa Maria, 14/03/2007)