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2007-03-14
A indústria automobilística alemã, que exportou 3,9 milhões de unidades em 2006, grande parte delas para América Latina e México, enfrenta duras críticas por sua incapacidade de produzir motores com baixas emissões de dióxido de carbono e também por negar-se a aceitar ambiciosos projetos de proteção ambiental. No início de fevereiro, esta atitude levou Renate Künast, ministra federal de Ecologia até 2005, a exortar seus compatriotas a “comprarem carros japoneses com motores híbridos, em lugar dos alemães que contaminam o meio ambiente”.

Companhias japonesas produzem e comercializam motores híbridos, que, alimentados por baterias elétricas, combustíveis fósseis ou biocombustíveis, reduziram consideravelmente as emissões de dióxido de carbono. Enquanto isso, a indústria alemã continua produzindo motores tradicionais, de grande consumo de combustível e altas emissões. O Porsche Carrera, por exemplo, emite 300 gramas de dióxido de carbono por quilômetro, contra uma média nacional de 172 gramas. Mas os compradores desses veículos na América Latina não precisam se preocupar muito, pois as exportações alemãs incluem apenas unidades que cumprem os padrões ambientais da região, disseram ao Terramérica fontes da indústria. No entanto, se reconhece que tais padrões são mais flexíveis do que os europeus.

Segundo a avaliação ambiental para 2006/2007 do Clube Alemão do Tráfego, a maioria dos automóveis mais limpos é japonesa. Em uma lista dos dez veículos com menores emissões de dióxido de carbono essa organização inclui quatro modelos da Toyota, dois da Daihatsu e um da Honda. Apenas um alemão consta da relação, o Volkswagen Pólo Blue Motion.

Embora a Associação da Indústria Automobilistca Alemã (VDA) rechace as críticas, parece que começa a mudar de atitude. Na feira do automóvel aberta no dia 6 de março, em Genebra, os fabricantes alemães apresentaram uma nova gama de veículos de baixo consumo e com emissões de dióxido de carbono abaixo dos critérios europeus.

Em janeiro, a Comissão Européia (CE) propôs que os novos carros produzidos em 2012 emitam no máximo 120 gramas de dióxido de carbono por quilômetro, mas o presidente da VDA, Bernd Gottschalk, foi contra. O empresário argumentou que “uma diretriz rígida constituiria uma sanção contra os automóveis de categoria superior da indústria alemã”. Graças à intervenção direta da chefe do governo alemão, Angela Merkel, o critério europeu foi modificado de acordo com os desejos da VDA. O valor máximo das emissões aumentou para 130 gramas por quilômetro e transformado em um valor médio.

Em uma entrevista ao Terramérica, Jürgen Resch, presidente da organização ecológica Ajuda Alemã para o Meio Ambiente, qualificou Merkel de “cúmplice da VDA no assassinato da proteção ao meio ambiente. Com sua oposição aos objetivos da CE, Angela Merkel afetou os critérios ecológicos da política européia de transporte e desacreditou a política ambiental alemã”, afirmou Resch.

O Quarto Informe de Avaliação do Grupo Intergovernamental sobre a Mudança Climática, da Organização das Nações Unidas, cuja primeira parte foi apresentada no dia 2 de fevereiro, estabeleceu que as emissões de dióxido de carbono são responsáveis pelo aquecimento global e pelos dramáticos fenômenos climáticos que isso representa. O transporte é o segundo setor com maiores emissões de dióxido de carbono da Europa, depois da geração de energia.

Segundo um informe da União Européia, divulgado em 2006, o transporte representa 21% das emissões nos 15 países mais industrializados do bloco. Além disso, o transporte é o setor industrial europeu onde as emissões aumentaram mais desde 1990 (26%), contrariando a tendência geral dos demais setores, cujas emissões caíram 5% no período. Sem novas medidas de proteção ambiental, as emissões geradas pelo transporte aumentarão 35% até 2010, de acordo com o informe.

A oposição alemã a objetivos vinculantes de redução de emissões não é nova. Já em 1995, quando a CE propôs reduzir as emissões de novos veículos produzidos na Europa para 120 gramas por quilômetro em 2005, a VDA e o governo alemão da época bloquearam a proposta. A VDA prometeu reduzir “voluntariamente” as emissões de seus veículos novos para 140 gramas por quilômetro em 2008. Doze anos depois, o valor médio das emissões de dióxido de carbono de automóveis alemães novos ainda é de 172 gramas por quilômetro.

Em janeiro, Merkel reconheceu que a “indústria alemã não poderá cumprir os objetivos” anunciados em 1995. Para Wolfgang Lohbeck, porta-voz da organização ambientalista Greenpeace, “o governo federal alemão considera seus cidadãos uns imbecis. Em lugar disso, deveria obrigar a indústria a fabricar automóveis mais limpos e introduzir limites obrigatórios de emissões de dióxido de carbono válidos para 2012, de 100 gramas por quilômetro”. A crítica contra a indústria automobilística e o governo da Alemanha parte das esferas políticas mais altas do país.

Em uma entrevista ao semanário Die Zeit de 28 de fevereiro, o presidente federal Horst Köhler disse que, “na proteção do meio ambiente, a indústria automobilística não escreveu uma página gloriosa. E o governo tampouco tem a coragem de estabelecer critérios ambiciosos”. Segundo o líder do Partido Verde, Reinhard Bütikofer, a crítica é justificada. “A indústria está ignorando novas tecnologias e tendências de consumo no setor”, disse ao Terramérica. Assim, “os fabricantes alemães prejudicam a política ambiental, a urgente inovação tecnológica e a si mesmos”.
(Por Julio Godoy, IPS/Envolverde, 12/03/2007)
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