Novo estudo mostra sinais de intoxicação causada por milho
2007-03-14
Ratos de laboratório, alimentados com milho transgênico produzido pela Monsanto, mostraram sinais de intoxicação nos rins e no fígado, de acordo com um novo estudo lançado esta semana pela publicação norte-americana "Archives of Environmental Contamination and Toxicology" (Arquivos de Contaminação Ambiental e Toxicologia). É a primeira vez que um produto geneticamente modificado, liberado para o consumo humano e de animais, apresenta sinais de ter provocado efeitos tóxicos em órgãos internos de seres vivos.
O estudo analisou os resultados de testes de segurança enviados pela
Monsanto para a Comissão Européia quando a empresa buscava autorização para
comercializar a variedade MON863 de milho transgênico na União Européia, em
2005. Os dados dos testes mostram que o milho MON863 traz significativos
riscos à saúde. Mesmo assim, a Comissão Européia licenciou a comercialização
do produto para consumo humano e de animais.
“Esse é o golpe final na credibilidade do sistema de autorização para
produtos transgênicos. Se o sistema desenhado para proteger a saúde das
pessoas e dos animais autoriza um produto de alto risco, mesmo com todas as
evidências sobre seus perigos, precisamos suspender imediatamente esse
procedimento de aprovação e rever todos os demais produtos autorizados”,
afirmou Christoph Then, representante da campanha de engenharia genética do
Greenpeace Internacional.
A evidência sobre os efeitos nas cobaias foi obtida pelo Greenpeace após
uma batalha judicial e foi passada a uma equipe de especialistas para ser
analisada. A equipe foi liderada pelo professor Gilles Eric Séralini,
especialista em tecnologia de engenharia genética da Universidade de Caen,
na França.
“As análises da Monsanto não resistem a escrutínios rigorosos. Para
começar, os protocolos estatísticos deles são altamente questionáveis. Pior,
a empresa fracassou em fazer análises suficientes das diferenças no peso
animal. Dados cruciais dos testes de urina, indicando intoxicação do rim,
ficaram escondidos em publicações internas da empresa”, disse o professor
Séralini numa coletiva de imprensa conjunta com o Greenpeace, realizada na terça-feira (13/03) em Berlim.
Os dados em questão vêm sendo objeto de grande debate desde 2003, quando
foram identificadas mudanças significativas no sangue de animais alimentados
com o milho MON863. Esse milho foi aprovado pela Comissão Européia apesar da
oposição da maioria dos países-membros da União Européia, que levantaram
preocupações sobre a segurança do produto. A análise do professor Séralini
confirma cientificamente essas preocupações. Como afirma o estudo
apresentado, “com os dados existentes, não se pode concluir que o milho
MON863 é um produto seguro”. Apesar disso, o milho geneticamente modificado
da Monsanto foi autorizado para venda e consumo na Austrália, Canadá, China,
Japão, México, Filipinas e Estados Unidos, além da União Européia.
“O mais preocupante é que, assim como esta, outras evidências importantes
sobre os impactos das variedades transgênicas também podem estar sendo
negligenciadas pelas empresas e pelos órgãos responsáveis por avaliar a
segurança dessas variedades”, disse Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha
de engenharia genética do Greenpeace Brasil.
No momento em que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)
está justamente discutindo a liberação de outras variedades de milho
transgênico, o estudo da publicação norte-americana coloca em dúvida todo o
sistema de aprovação comercial de novos transgênicos. Isso porque,
atualmente, a CTNBio não exige uma lista mínima de documentos que as
empresas de biotecnologia sejam obrigadas a apresentar para pedir a
liberação de novos transgênicos; também não há a necessidade de confrontar
os estudos feitos pelas empresas com análises externas e independentes. “Com
isso, as empresas podem apresentar apenas o que lhes for conveniente, sem
ter que prestar contas sobre os impactos dos seus produtos para a população
e o meio ambiente”, alertou Gabriela.
(Por Jorge Cordeiro, Assessoria de Imprensa do Greenpeace, 13/03/2007)