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2007-03-13
A mata atlântica brasileira pode perder cerca de 60% de sua área atual se a temperatura média do planeta subir de 3 C a 4 C até o fim deste século. O cálculo é de Carlos Alfredo Joly, botânico da Unicamp, e foi feito com base nas previsões do terceiro relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), divulgado em 2001. Mas o quarto relatório do painel do clima, divulgado em fevereiro deste ano, estima que seja essa a faixa de aumento na temperatura global até 2100.

A íntegra do trabalho científico, apresentado em parte durante o 1º Simpósio Brasileiro de Mudanças Ambientais Globais, encerrado ontem no Rio, será divulgada no meio do ano. E traz projeções desagradáveis. "O palmito, por exemplo, tende a desaparecer por completo", explicou o pesquisador.

Joly adianta que o estudo é uma aproximação. Ele e seu grupo usaram 30 espécies de planta típicas do bioma, o mais ameaçado do Brasil (resta hoje apenas 6,98% da sua cobertura vegetal original).

"A queda de 60%, de acordo com o cenário mais pessimista do IPCC, não significa então que podemos derrubar tudo hoje de vez, já que a perda é inevitável", lembra Joly. "Agora é preciso ter mais cuidado com a floresta ainda", disse.

Visão otimista
A análise da Unicamp é a primeira a tentar relacionar o impacto as mudanças ambientais globais sobre a floresta atlântica. Ela também levou em conta um dos cenários otimistas do penúltimo relatório do IPCC.

Nesse caso, no fim deste século, a temperatura subiria, na média, entre 1,5 C e 2 C.

"A diminuição na área da mata atlântica, nesse caso, seria de 28%. Apenas para algumas espécies, que vivem nas bordas desse bioma, essa situação seria benéfica -elas cresceriam em área de distribuição", disse.

Nas duas simulações, os pesquisadores compararam a situação climática atual com aquela que deverá existir no futuro. "Levamos em consideração a temperatura, a precipitação e a umidade presente no ambiente", explicou.

Nesse cenário, as condições ambientais da região onde hoje se encontra a floresta atlântica mudarão tanto que não serão mais compatíveis com a presença de uma floresta tropical, bioma que depende de uma determinada quantidade de chuvas e de uma determinada faixa de temperatura para existir.

Segundo Joly, não é possível saber o que ocorrerá com a floresta. "Não sabemos se ela vai simplesmente morrer ou virar outra coisa. É certo que apenas em algumas áreas, por causa talvez da topografia, a mata atlântica continuará a existir."

Se a fragmentação acontecer, a mata atlântica estará seguindo a reação à mudança climática de outra floresta tropical brasileira, a amazônica. Um modelo do Inpe estima que parte da Amazônia tende a virar uma espécie de savana com o aquecimento global.

Números
O pesquisador da Unicamp, um dos principais especialistas em ecologia vegetal do Brasil, também comentou os estudos feitos a pedido do Ministério do Meio Ambiente sobre remanescentes vegetais.

A análise do governo federal revelou um crescimento surpreendente da mata atlântica. Pelo novo mapeamento, haveria no Brasil, em vez dos conhecidos 7%, quase quatro vezes mais de área no bioma (27,1%).

Para o botânico, a análise do MMA considera áreas que não podem ser chamadas de mata atlântica. "São capoeiras."

Manguezais podem ser beneficiados
De forma indireta, o aquecimento global pode estar ajudando no crescimento dos manguezais. A hipótese, apresentada ontem por Luís Drude de Lacerda, da UFC (Universidade Federal do Ceará), foi construída com base em um levantamento feito em mais de 50 estuários entre Piauí e Pernambuco.

Ao comparar imagens de satélite e trabalhos de campo feito nas últimas três décadas, Drude identificou um aumento de 40% nas áreas de mangue. "Desse total, 67% das áreas tem uma influência antrópica muito pequena", disse o cientista.

"Sobra então o aquecimento global. O mangue (vegetação que precisa de salinidade para viver) está crescendo ou por causa do aumento médio do nível do mar, que pode ser de milímetros, ou pela diminuição do fluxo de água doce dos rios", explica.
(Por Eduardo Geraque, Folha de S. Paulo, 12/03/2007)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1303200701.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1303200702.htm

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