A substituição da atual frota nacional de veículos leves por veículos híbridos (veículo que utiliza duas fontes de energia para se movimentar e, geralmente, adota o motor elétrico como fonte alternativa) reduzirá a poluição veicular em até 80% e poderá gerar uma economia de mais de R$ 450 trilhões por ano aos cofres públicos nacionais.
Se a substituição acontecesse apenas na Região Metropolitana de São Paulo, ou seja, em 7,4 milhões de veículos, isso representaria um economia anual de R$ 132,5 bilhões. Essa idéia foi defendida pela engenheira Juliana de Freitas Queiroz, no projeto "Introdução do Veículo Híbrido no Brasil: Avanço Tecnológico aliado à Qualidade de Vida", desenvolvido para a conclusão do curso de mestrado profissional em Engenharia Automotiva da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP), sob a orientação do professor Marcelo Massarani.
Segundo Juliana, cada veículo convencional substituído pela tecnologia híbrida representa uma economia de R$18 mil por veículo durante a vida útil. Este valor considera não só a economia de combustível mas também uma economia em créditos de carbono estabelecidos pelo Protocolo de Kyoto e em gastos com doenças respiratórias pelo sistema de saúde pública. "Receita que, devidamente aplicada em programas sociais, pode contribuir para melhorar a qualidade de vida do brasileiro", acrescenta a engenheira, que apresentou sua dissertação de mestrado no segundo semestre de 2006.
Ela retrata as emissões veiculares como um problema social que se alastra mundialmente. De acordo com estudos internacionais, os veículos híbridos chegam a emitir de 50% a 80% menos poluentes que os veículos convencionais. Em alguns casos, a redução de emissões pode chegar a 90%.
Incentivos
No projeto, Juliana elabora uma análise qualitativa sobre a política externa brasileira referente ao avanço tecnológico e à preocupação ambiental do país, e também realiza um estudo quantitativo, no qual compara o veículo híbrido ao convencional. A engenheira sugere, ainda, propostas de incentivos governamentais para motivar a indústria e a população a utilizarem o veículo híbrido no Brasil.
Na opinião dela, a aplicação da tecnologia híbrida é um dos maiores desafios para a indústria automobilística nacional. Essa categoria de veículo - híbrida - ainda não demonstra ser um projeto lucrativo para as montadoras a curto prazo, já que não recebem nenhum incentivo governamental. Além disso, a carga tributária dos veículos nacionais é uma das mais elevadas do mundo. "O preço final do veículo agrega, em média, 33,3% de impostos como PIS, Cofins, ICMS e IPI. Em países europeus esta carga varia entre 13,8% e 16,7%, e, nos Estados Unidos, o percentual é de 6,6%", compara a engenheira, que sugere a redução de impostos como elemento motivador do desenvolvimento de uma tecnologia híbrida no mercado brasileiro.
Para a pesquisadora, o investimento em marketing e a promoção de diversos incentivos para a compra do veículo híbrido é o melhor caminho para atingir o público-alvo deste tipo de veículo no Brasil. Ela acredita que a participação do governo é fundamental para estimular o desenvolvimento e o uso desses veículos. "Um dos fatores que define a compra para o consumidor brasileiro é o preço, e, nesse caso, o veículo híbrido tem a desvantagem de custar 10% a 20% a mais do que os convencionais. No entanto, o brasileiro preocupa-se em economizar combustível e esse veículo traz esse diferencial. Outra vantagem importante é o valor da consciência ambiental que a tecnologia híbrida tem inserida."
Situação atual e tendências de mercado
O Brasil ainda não fabrica veículos híbridos. No Exterior, este mercado está em expansão. Segundo a pesquisadora, a Toyota anunciou que irá dobrar a produção do modelo híbrido Prius, alcançando 130 mil unidades por ano. Até 2010, a Ford planeja atingir um volume de produção da ordem de 250 mil unidades. A Europa espera uma participação no mercado de veículos híbridos de 2% em 2015, o que representa um volume de 400 mil unidades. Já nos Estados Unidos o volume atual atingiu a ordem de 250 mil unidades comercializados em fevereiro de 2007. "É um mercado a conquistar", visualiza.
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Agência USP online, com informações da Assessoria de Imprensa - POLI/USP - Dep. Engenharia Mecânica, 12/03/2007)