Para Ongs, reduzir em 20% emissões da UE não é suficiente
2007-03-13
Chefes de Estado e de governo da União Européia
concordaram reduzir em 20% as emissões de gases causadores do efeito estufa
até 2020, em relação aos valores de 1990. A Cúpula da Primavera da UE,
realizada na quinta e sexta-feira em Bruxelas, também estipulou para 2020 o
objetivo de gerar 20% da energia primária total a partir de fontes
renováveis, como a eólica, solar e hidrelétrica. Organizações ambientalistas
alertaram que estas medidas não são suficientes.
A chefe de governo da Alemanha, Angela Merkel, que neste semestre preside o
Conselho Europeu, máximo organismo de tomada de decisões da UE, qualificou a
redução “unilateral” de “um grande passo adiante”. No contexto do Protocolo
de Kyoto, convenção internacional assinada em 1997 para reduzir as emissões
de gases causadores do efeito estufa, a União Européia está obrigada a
reduzir em 8% suas emissões até 2012, em relação a 1990. As negociações para
reduzir ainda mais as emissões depois dessa data apenas começaram.
“A UE está despertando diante da ameaça da mudança climática”, disse Jan
Kowalzig, da Amigos da Terra Europa. “Aplaudimos a adoção pela União Européia
de medidas vinculantes (obrigatórias). Mas os compromissos são muito leves.
Pensamos que uma cota de 25% de energia renovável para 2020 seria razoável”,
acrescentou. A meta de reduzir 20% das emissões dos gases que provocam o
efeito estufa “certamente não é suficiente. A UE admite que é necessário
diminuir pelo menos 30% até 2020 para evitar uma catastrófica mudança
climática”, afirmou.
Alcançar um acordo para combater a carga e as obrigações específicas
(aumentar a eficiência energética, os biocombustíveis e a energia renovável)
parecia difícil durante as negociações. O principal ponto de discussão foi um
objetivo vinculante para as energias renováveis. A França propôs um objetivo
de “carbono baixo” em lugar de fontes de energia renováveis, para incluir a
equação da contribuição “positiva” da energia nuclear. Por sua vez, os
Estados-membros da UE do leste do continente que ainda dependem do carvão
como fonte de energia não querem ser obrigados a realizar fortes
investimentos em caras mudanças de infra-estrutura.
Finalmente chegou-se a um consenso sobre “objetivos gerais nacionais
diferenciados” para as energias renováveis, “considerando diferentes pontos
de partida nacionais”. O plano de ação energética adotado na cúpula também
reconhece a contribuição da energia nuclear para “atender as crescentes
preocupações sobre a segurança no fornecimento energético e com a redução de
emissões de dióxido de carbono”. Trata-se de uma concessão à França e ao
BusinessEurope, grupo empresarial de pressão que quer aumentar o uso de
energia nuclear para melhorar a competitividade das indústrias de energia
intensiva. Porém, o texto também enfatiza que “a segurança nuclear” tem um
papel importante no processo de tomada de decisões.
Os líderes europeus também determinaram um objetivo comum de 10% no uso de
biocombustíveis no setor dos transportes até 2020. A UE ainda precisa decidir
a distribuição exata da carga entre os 27 países-membros do bloco em matéria
de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. Prevê-se que
isto demore pelo um ano em negociações. Para nações densamente povoadas e
muito tráfego de veículos, com a Bélgica e Holanda, o novo objetivo é muito
mais difícil de cumprir do que para outros países. Estados da União Européia
no leste do continente, como Polônia e República Checa, que são relativamente
pobres e dependentes da indústria pesada e do carvão, também enfrentam
problemas importantes.
Ao acelerar medidas vinculantes para deter o aquecimento global, a UE espera
comprometer outros grandes contaminadores, como Estados Unidos, China e
Índia. A UE propôs reduzir em 30% suas emissões “desde que outros países
industrializados se comprometam a fazer reduções comparáveis e que nações
economicamente mais desenvolvidas contribuam de maneira adequada”. Kowalzig,
da Amigos da Terra, considera que isto é “uma opção estratégica equivocada”,
porque “é muito importante que os Estados Unidos estejam afinados com os
esforços europeus”.
Em círculos científicos existe consenso quanto à necessidade de reduções
ainda maiores para limitar a mudança climática. Em um documento de janeiro
que delineava caminhos futuros para a pesquisa energética, a Comissão
Européia, braço executivo da União Européia, admitiu que as emissões globais
de gases que causam o efeito estufa devem ser reduzidas em 50% para
restringir as elevações da temperatura global a um máximo de dois graus. Isso
implicaria reduções de 60% a 80% até 2050 nos países da Europa e em outras
nações industrializadas.
(Por Peter Dhondt, IPS, 12/03/2007)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=28955&edt=1