Carros alemães derrapam em matéria ambiental: indústria enfrenta críticas por sua incapacidade de produzir motores com baixas emissões
2007-03-13
A indústria automobilística alemã, que
exportou 3,9 milhões de unidades em 2006, grande parte delas para América
Latina e México, enfrenta duras críticas por sua incapacidade de produzir
motores com baixas emissões de dióxido de carbono, e também por negar-se a
aceitar ambiciosos projetos de proteção ambiental. No início de fevereiro,
esta atitude levou Renate Künast, ministra federal de Ecologia até 2005, a
exortar seus compatriotas a “comprarem carros japoneses com motores híbridos,
em lugar dos alemães que contaminam o meio ambiente”. Companhias japonesas
produzem e comercializam motores híbridos, que, alimentados por baterias
elétricas, combustíveis fósseis ou biocombustíveis, reduziram
consideravelmente as emissões de dióxido de carbono.
Enquanto isso, a indústria alemã continua produzindo motores tradicionais, de
grande consumo de combustível e altas emissões. O Porsche Carrera, por
exemplo, emite 300 gramas de dióxido de carbono por quilômetro, contra uma
média nacional de 172 gramas. Mas os compradores desses veículos na América
Latina não precisam se preocupar muito, pois as exportações alemãs incluem
apenas unidades que cumprem os padrões ambientais da região, disseram ao
Terramérica fontes da indústria. No entanto, se reconhece que tais padrões
são mais flexíveis do que os europeus.
Segundo a avaliação ambiental para 2006/2007 do Clube Alemão do Tráfego, a
maioria dos automóveis mais limpos é japonesa. Em uma lista dos dez veículos
com menores emissões de dióxido de carbono essa organização inclui quatro
modelos da Toyota, dois da Daihatsu e um da Honda. Apenas um alemão consta da
relação, o Volkswagen Pólo Blue Motion. Embora a Associação da Indústria
Automobilistca Alemã (VDA) rechace as críticas, parece que começa a mudar de
atitude. Na feira do automóvel aberta no dia 6 de março, em Genebra, os
fabricantes alemães apresentaram uma nova gama de veículos de baixo consumo e
com emissões de dióxido de carbono abaixo dos critérios europeus.
Em janeiro, a Comissão Européia (CE) propôs que os novos carros produzidos em
2012 emitam no máximo 120 gramas de dióxido de carbono por quilômetro, mas o
presidente da VDA, Bernd Gottschalk, foi contra. O empresário argumentou que
“uma diretriz rígida constituiria uma sanção contra os automóveis de
categoria superior da indústria alemã”. Graças à intervenção direta da chefe
do governo alemão, Angela Merkel, o critério europeu foi modificado de acordo
com os desejos da VDA. O valor máximo das emissões aumentou para 130 gramas
por quilômetro e transformado em um valor médio.
Em uma entrevista ao Terramérica, Jürgen Resch, presidente da organização
ecológica Ajuda Alemã para o Meio Ambiente, qualificou Merkel de “cúmplice da
VDA no assassinato da proteção ao meio ambiente. Com sua oposição aos
objetivos da CE, Angela Merkel afetou os critérios ecológicos da política
européia de transporte e desacreditou a política ambiental alemã”, afirmou
Resch.
O Quarto Informe de Avaliação do Grupo Intergovernamental sobre a Mudança
Climática, da Organização das Nações Unidas, cuja primeira parte foi
apresentada no dia 2 de fevereiro, estabeleceu que as emissões de dióxido de
carbono são responsáveis pelo aquecimento global e pelos dramáticos fenômenos
climáticos que isso representa. O transporte é o segundo setor com maiores
emissões de dióxido de carbono da Europa, depois da geração de energia.
Segundo um informe da União Européia, divulgado em 2006, o transporte
representa 21% das emissões nos 15 países mais industrializados do bloco.
Além disso, o transporte é o setor industrial europeu onde as emissões
aumentaram mais desde 1990 (26%), contrariando a tendência geral dos demais
setores, cujas emissões caíram 5% no período. Sem novas medidas de proteção
ambiental, as emissões geradas pelo transporte aumentarão 35% até 2010, de
acordo com o informe.
A oposição alemã a objetivos vinculantes de redução de emissões não é nova.
Já em 1995, quando a CE propôs reduzir as emissões de novos veículos
produzidos na Europa para 120 gramas por quilômetro em 2005, a VDA e o
governo alemão da época bloquearam a proposta. A VDA prometeu reduzir
“voluntariamente” as emissões de seus veículos novos para 140 gramas por
quilômetro em 2008. Doze anos depois, o valor médio das emissões de dióxido
de carbono de automóveis alemães novos ainda é de 172 gramas por quilômetro.
Em janeiro, Merkel reconheceu que a “indústria alemã não poderá cumprir os
objetivos” anunciados em 1995. Para Wolfgang Lohbeck, porta-voz da
organização ambientalista Greenpeace, “o governo federal alemão considera
seus cidadãos uns imbecis. Em lugar disso, deveria obrigar a indústria a
fabricar automóveis mais limpos e introduzir limites obrigatórios de emissões
de dióxido de carbono válidos para 2012, de 100 gramas por quilômetro”. A
crítica contra a indústria automobilística e o governo da Alemanha parte das
esferas políticas mais altas do país.
Em uma entrevista ao semanário Die Zeit de 28 de fevereiro, o presidente
federal Horst Köhler disse que, “na proteção do meio ambiente, a indústria
automobilística não escreveu uma página gloriosa. E o governo tampouco tem a
coragem de estabelecer critérios ambiciosos”. Segundo o líder do Partido
Verde, Reinhard Bütikofer, a crítica é justificada. “A indústria está
ignorando novas tecnologias e tendências de consumo no setor”, disse ao
Terramérica. Assim, “os fabricantes alemães prejudicam a política ambiental,
a urgente inovação tecnológica e a si mesmos”.
(Por Julio Godoy, Terramérica, 12/03/2007)
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