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2007-03-12
O governo da China busca uma nova fórmula para continuar expandindo esta economia de aceleradíssimo crescimento, mas trata de adotar um modelo de desenvolvimento mais sustentável para consumir e contaminar menos o país e o mundo. Hoje, a economia tem um alto custo para o meio ambiente e aumenta a brecha entre a renda da população. E aí está o dilema. Pequim sabe que o atual modelo de desenvolvimento, impulsionado pelos grandes investimentos e pelas exportações, é insustentável, mas teme que se recalibrar a economia possa aumentar o desemprego e gerar instabilidade política.

Os investimentos aumentam a passo lento e seus efeitos sociais adversos poderiam colocar em risco a legitimidade do governante Partido Comunista, que chegou ao poder há 58 anos com a promessa de maior prosperidade. O primeiro-ministro, Wen Jiabao, declarou na segunda-feira, ao abrir a sessão anual da Assembléia Nacional do Povo (o parlamento chinês) que não abandonaria o modelo de crescimento propiciado pelas exportações e que contribuiu para colocar o país como quarta economia mundial. “Impulsionar o desenvolvimento econômico e aumentar o emprego mediante a expansão do comércio exterior é uma política que manteremos ainda por um longo tempo”, afirmou Wen.

Essas declarações precederam a chegada a Pequim, na quarta-feira, do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, para informar que o governo do presidente George W. Bush está insatisfeito com o enorme excedente comercial a favor da China e sua desvalorizada moeda. O crescimento chinês nos últimos anos dependeu em grande parte do aumento de suas exportações, sendo vulnerável a uma redução da demanda e elevando o risco de reações protecionistas violentas nos Estados Unidos e em outros países.

O auge das exportações aumentou suas reservas em divisas em US$ 1trilhão e causou tensão no vínculo com seus sócios comerciais. As mercadorias chinesas são baratas porque este Pequim mantém desvalorizada sua moeda, o yuan, segundo fabricantes e legisladores norte-americanos e europeus. Paulson alertou na semana passada que existe uma “tendência preocupante” no Congresso dos Estados Unidos no sentido de aceitar a idéia de erguer barreiras comerciais para conter a inundação de produtos chineses baratos. Os chineses estão conscientes de que o crescimento atual, com base em exportações e investimentos, lhes trazem vários problemas no campo internacional e também domestico.

Internamente, o modelo é questionado porque funciona às custas do consumidor privado, enquanto no exterior este modelo é acusado de criar tensões comerciais e exportar contaminação. “Temos que ajustar o equilíbrio entre investimentos e consumo”, disse Wen em seu informe apresentado no Grande Salão do Povo, em Pequim, sede da Assembléia Nacional do Povo. Como o consumo é a principal forma de melhorar os padrões de vida, os especialistas dizem que a dependência chinesa das exportações e dos investimentos freia a prosperidade.

Essa situação fica evidente no campo, onde vivem cerca de 800 milhões de pessoas, ou mais de 60% do mais de um bilhão de habitantes que tem a China. A renda média dos camponeses em 2006 foi de, aproximadamente, US$ 463, menos de um terço dos moradores em áreas urbanas, segundo dados oficiais. Anteriormente, o governo havia prometido elevar o gasto para que a renda no campo não ficasse defasada. Também deu o pontapé inicial para uma medida de “reconstrução rural” que pretende construir maior infra-estrutura nas aldeias e canalizar mais fundos para a saúde e educação.

Wen Jiabao confirmou que seu país continua impulsionando o consumo interno para fazer a economia crescer. “Adotaremos uma série de medidas para aumentar a renda dos camponeses e da população urbana, especialmente daqueles com poucos recursos. Devemos aderir ao princípio de impulsionar a demanda interna nos concentrando no aumento do consumo”, declarou o primeiro-ministro. A longo prazo, o governo pretende oferecer incentivos para que as pessoas gastem mais e economizem menos, estimulando programas sociais como assistência médica e educação, entre outros.

Entretanto, especialistas alertam que isso levará tempo e irá requerer um enorme aumento do gasto do Estado, antes de poder haver um progresso significativo no consumo no âmbito rural. “Neste momento, a medida para a reconstrução rural se orienta para a redução dos problemas que a China causa no exterior com suas excessivas importações e exportações”, disse Wen Tiejun, especialista de trajetória em questões rurais da Universidade Renmin, de Pequim. O veloz crescimento econômico da China, de fato, tem conseqüências internacionais.

É um dos motivos pelos quais o preço do petróleo e de outros produtos básicos aumentou tanto nos últimos dois anos. Por outro lado, o elevado superávit comercial chinês, que chegou a US$ 180 bilhões no ano passado, agrava as relações com seus sócios comerciais. Outro efeito desta situação é a contaminação que origina e “exporta”. A China é o maior produtor e consumidor de carvão e maior emissor de dióxido de enxofre. As emissões desse gás são consideradas responsáveis pela chuva ácida na Coréia do Sul e no Japão. As tempestades de areia na fronteira devido à super-exploração de terras e à desertificação são outros problemas que os vizinhos da China devem enfrentar.

Agora, teme-se que o vento leve para oeste as crescentes emissões tóxicas, pelo oceano Pacífico até a América do Norte. Wen Jiabao estabeleceu em 8% o objetivo de crescimento econômico para este ano, igual a 2006, mas, reconheceu a dificuldade de estabelecer um teto ao seu desenfreado aumento. No ano passado, o produto interno bruto chegou a 10,7%. Pequim procura frear os investimentos e moderar o crescimento, mas os políticos preferem que a economia continue forte para garantir a estabilidade política antes dos Jogos Olímpicos que acontecerão em agosto de 2008 em Pequim.
(Por Análise de Antoaneta Bezlova, IPS, 09/03/2007)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=28870&edt=1

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