No Chile, a presidente Michelle Bachelet dá uma guinada em favor do nuclear
2007-03-12
A presidente socialista chilena, Michelle Bachelet, anunciou a intenção do
seu governo de estudar a viabilidade da construção de uma central nuclear
nos dez ou quinze próximos anos, como uma nova fonte de energia no Chile. A
decisão foi bem recebida em Santiago, tanto pela coalizão governamental de
centro-esquerda (a Concertação Democrática) quanto pela oposição de direita.
Foi, no entanto, criticada pelas organizações ecológicas.
A ministra das Minas e Energia, Karen Poniachik, anunciou em 1º de março a
criação de uma comissão de dez especialistas que será encarregada de
apresentar, em setembro, um primeiro relatório sobre o nuclear como
alternativa eventual à carência de energia que ameaça o Chile. Este estudo
permitirá que um "futuro governo possa decidir se isso é viável ou não, e
dentro de quais condições se poderia impulsionar esta alternativa", explicou
a ministra Karen Poniachik.
"Não é possível vislumbrar uma opção nuclear antes de ao menos quinze anos",
estima o físico Jorge Zanelli, que está à frente da comissão governamental.
"É um fato positivo, esse de o governo preocupar-se com esta questão",
declarou o presidente da Comissão para a energia da Câmara dos deputados, o
socialista Jaime Mulet. A oposição também apóia esta iniciativa: "O Chile
precisa se abrir para novas fontes de energia", afirmou o deputado de
direita Julio Ditborn.
Em 2005, durante a campanha eleitoral, Michelle Bachelet havia se
comprometido a que no decorrer do seu mandato de quatro anos (2006-2010), o
Chile não construa nenhuma central nuclear. A ministra Karen Poniachik
reafirmou este compromisso. As organizações ecologistas criticam o estudo
empreendido pelo governo, acusando-o de ceder à pressão de companhias
estrangeiras.
"No momento em que a energia nuclear já entrou em decadência no mundo
inteiro, essas empresas buscam novos parceiros nos países da América Latina,
que seguem políticas mais permissivas em matéria de proteção do
meio-ambiente", garantiu Rodrigo Herrera, um representante da organização
Greenpeace no Chile.
Sara Larrain, a candidata ecologista na eleição presidencial de 1999,
considera que "existe um interesse do governo francês em vender tecnologia
nuclear para o Chile". No curto prazo, ela se mostrou satisfeita com o fato
de a ministra da energia ter insistido no desenvolvimento de energias
renováveis, entre as quais a energia geotérmica, até o final do mandato da
presidente Bachelet.
A idéia de uma alternativa nuclear surgiu em Santiago em setembro de 2006,
depois de a Argentina ter anunciado a retomada do seu programa nuclear, com
investimentos de US$ 3,5 bilhões (R$ 7,37 bilhões) destinados a concluir a
sua terceira central, construir uma quarta e retomar a produção de urânio
enriquecido, que foi abandonada em 1983.
A Argentina é o principal fornecedor do gás natural que o Chile utiliza para
as suas usinas elétricas, mas, nos últimos três anos, Buenos Aires reduziu
as suas entregas para Santiago, com o objetivo de privilegiar a sua demanda
interna e sustentar o seu forte crescimento.
"O governo está preparando as bases para convocar uma concorrência
internacional", informou o porta-voz do governo chileno, Carlos Maldonado. O
Chile dispõe de reservas financeiras importantes, graças ao aumento
considerável do preço mundial do cobre. A poderosa companhia Codelco
(Corporação do Cobre do Chile), que pertence ao Estado, obteve em 2006
lucros recordes, que alcançam o montante de US$ 9,2 bilhões (R$ 19,36
bilhões). Os lucros aumentaram em 88,8% em relação aos de 2005.
(Por Christine Legrand, UOL, 10/03/2007)
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2007/03/10/ult580u2397.jhtm