A União Européia decidiu mudar o curso da política energética do bloco para combater as mudanças climáticas que ameaçam o planeta. Seus 27 países estabeleceram ontem o objetivo unilateral de aumentar o uso de fontes de energia renovável para 20% até 2020.
Durante os dois dias da reunião do Conselho Europeu em Bruxelas, o estabelecimento de uma meta obrigatória para a utilização da energia eólica, solar, biocombustíveis e hidrelétrica foi alvo de controvérsias. Atualmente, somente 6,5% da energia produzida na Europa vêm de fontes alternativas.
"Podemos dizer ao resto do mundo: "A Europa está tomando a dianteira, vocês podem se juntar a nós para lutar contra a mudança climática'", disse o presidente da Comissão Européia, Manuel Durão Barroso.
Os ambientalistas aplaudiram o acordo. Para o Greenpeace, a cúpula européia sobre clima foi "a maior decisão do gênero desde a adoção do Protocolo de Kyoto", em referência ao acordo internacional para reduzir emissões dos gases que aprisionam o calor da Terra na atmosfera (como o gás carbônico), agravando o efeito estufa.
A proposta da UE, presidida pela chanceler alemã Angela Merkel, menciona a importância da energia nuclear, apesar de não classificá-la como renovável. Esse reconhecimento é uma vitória do presidente francês, Jacques Chirac. Ele liderou a oposição a metas para energia renovável porque mais de 70% da eletricidade francesa é de origem nuclear.
Chirac queria a inclusão da energia nuclear, que não emite gases-estufa, na contabilização das energias alternativas. Perdeu por esse lado, mas nações como a França poderão ter metas mais suaves de adoção de energia renovável.
Assim como a França, a Polônia e outros estados menores da UE acabaram dando o braço a torcer, destacando a importância "histórica" da decisão.
Durante o encontro, a Polônia defendeu a perspectiva dos regimes pós-comunistas da UE, para os quais a meta de 20% de energia renovável é impossível de ser atingida.
"Precisaremos da ajuda financeira da Comissão Européia", disse à Folha o ministro da Economia polonês, Piotr Wozniak, evocando a necessidade de adaptação do sistema energético do país aos parâmetros dos países ricos do bloco.
A decisão da UE, no entanto, deverá considerar os diferentes pontos de partida de cada país para aplicar as metas. No documento final divulgado após a reunião, a UE estipula que "os países-membros deverão decidir metas nacionais de fontes de energia renovável para cada setor específico (eletricidade, aquecimento e transportes)".
Para a chanceler alemã, a aprovação das metas demonstra unidade no bloco europeu e serve para pressionar grandes poluidores como EUA, China e Rússia a adotarem medidas contra o aquecimento global. "Com o acordo, a Europa poderá assumir uma posição de liderança exemplar", afirmou a chanceler, na quinta-feira (08/03).
O acordo segue uma decisão da Comissão Européia, que já havia sido referendada pelos ministros do Ambiente, de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em no mínimo 20% até 2020. Se países industrializados como a China e os Estados Unidos concordarem, a meta pode chegar até 30%.
O acordo também ambiciona melhorar a eficácia e o aproveitamento da energia, diminuindo o consumo dos países da UE em 20% até 2020. Nesse contexto, a Comissão Européia deverá determinar diretrizes para a redução do consumo na iluminação pública, casas e escritórios. As lâmpadas incandescentes, que gastam mais energia, poderão ser banidas do continente em 2010.
A meta de 20% na redução de gases-estufa foi calculada em relação a 1990. O acordo de Kyoto objetiva reduzir as emissões de gases-estufa da UE em 8% até 2012. Até agora, só 1,2% da meta foi cumprida.
(Por Renate Krieger,
Folha online, 11/03/2007)