Encontrados em Uruguaiana fósseis de possível nova espécie de capivara
2007-03-10
O coordenador do Laboratório de Geologia e Paleontologia do curso de Ciências Biológicas do Campus Uruguaiana da PUCRS, Édison Oliveira, localizou fósseis do que podem ser uma nova espécie de capivara do gênero Hydrochoerus em pesquisas no Arroio Touro Passo, localizado no município. Além de Oliveira, participam da pesquisa o acadêmico Leonardo Tumeleiro e a professora Joceléia Koenemann. No momento, os pesquisadores comparam com materiais da Argentina para ver se não há descrito animal semelhante. Os fósseis coletados são do último período glacial, o Pleistoceno Superior (estimado entre 12 e 30 mil anos atrás).
Foi identificado um crânio, que, em relação a espécies atuais, difere na morfologia das séries dentárias. O tamanho é similar ao da capivara existente hoje. Se confirmada a nova espécie, será a segunda do gênero Hydrochoerus para a América do Sul. Até então, a única espécie fóssil conhecida nesta região é a Hydrochoerus ballesterensis, descrita em 1934. A capivara é um roedor herbívoro e pertence a uma linhagem da qual fazem parte preá, cutia e ratão-do-banhado, entre outras.
As pesquisas no local se iniciaram na década de 1970 com Miguel Bombin, então pesquisador da PUCRS. Oliveira diz que chama a atenção o porte dos mamíferos que existiam na região há poucos milhares de anos, semelhantes à fauna africana. Nesse sítio paleontológico são encontrados restos de preguiças e tatus gigantes, lhamas, cervídeos e cavalos. Grande parte dessa fauna ("megafauna") se extinguiu entre 8 mil e 12 mil anos atrás, coincidindo com o final do último estágio glacial e o aumento das populações humanas (os primeiros povoadores) na América do Sul.
O Laboratório de Geologia e Paleontologia do curso de Ciências Biológicas do Campus Uruguaiana também se dedica ao estudo de marsupiais (gambás, cuícas, coalas e cangurus). Parte do projeto integrou a tese de doutorado do professor Édison Oliveira. Foram localizados dezenas de restos cranianos, mandíbulas e molares isolados na Bacia de Itaboraí, Rio de Janeiro. A maioria das linhagens que originou essas espécies na Austrália está presente na fauna de Itaboraí (proto-cangurus, dasiurídeos). O trabalho integra o projeto New world marsupials and their extinct relatives: 100 million years of metatherian evolution, liderado por pesquisadores da Universidad Nacional de La Plata (Argentina) e University of California (EUA).
A hipótese defendida por Oliveira é de que, durante a transição Cretáceo-Terciário (há 70-65 milhões de anos), existia uma extensa área biogeográfica que se estendia aproximadamente entre o hoje Estado do Rio de Janeiro e o Sul da América do Sul, atingindo a Antártica, então conectada ao continente australiano. O clima no Hemisfério Sul não era frio, e os marsupiais se distribuíam amplamente nesse local. Fósseis desses mamíferos são encontrados na Austrália e na Antártica, demonstrando uma estreita relação filogenética com os grupos brasileiros. "Antes da transição Cretáceo-Terciário, os continentes estavam em fase de separação, o que havia se iniciado no Jurássico, mas os marsupiais mostram que conexões entre América do Sul, Antártica e Austrália ainda existiam no início do Terciário", destaca o professor. Parte do tema foi publicada no livro Marsupiais do Brasil, lançado este ano pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.
(Assessoria de Comunicação da PUCRS, 08/03/2007)
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