Especialistas afirmam que evitar catástrofe climática é financiável
2007-03-09
Segundo o Relatório sobre Mudanças Climáticas da ONU, a humanidade tem até 2020 para evitar uma catástrofe climática. Especialistas acreditam que as medidas necessárias são possíveis com custos relativamente baixos. Em matéria de proteção climática, já está mais do que na hora de se tomar providências.
Temores que medidas drásticas possam vir a prejudicar a conjuntura não têm fundamento, segundo afirma um dos autores do relatório, Ottmar Edenhofer, economista-chefe do Instituto de Pesquisas de Impacto Climático de Potsdam. "Economias de mercado reagiriam de forma absolutamente flexível, se houvessem novos desafios", declarou Edenhofer ao jornal Frankfurter Rundschau (23/02). "Não é verdade que a redução de CO2 significa prejuízos para o desenvolvimento", acrescentou o economista.
"Proibir lâmpada incandescente não tem sentido"
Os custos das medidas de proteção climática na indústria, domicílios, transporte, uso e aproveitamento da terra são estimados por Edenhofer em 1% do Produto Nacional Bruto (PNB). "As medidas são possíveis com custos relativamente baixos", afirmou o economista ao Frankfurter Rundschau, advertindo que os governos deveriam iniciá-las o mais rápido possível. Para outros pesquisadores climáticos da ONU, segundo o relatório da organização, estes custos se elevariam até 4% do PNB.
A discussão sobre "desistir da desistência" da energia atômica é criticada por Edenhofer como "debates hipócritas". A energia atômica "não pode contribuir para proteção climática", afirmou Edenhofer à TV pública ARD, acrescentando que "ela irá, também futuramente, apenas preencher um nicho".
Para evitar a catástrofe climática que se anuncia, três outros passos são mais importantes: o aproveitamento de energias renováveis, a melhoria da eficiência energética dos edifícios e a separação e depósito subterrâneo dos CO2 liberado pelas termelétricas. A proibição de lâmpadas incandescentes, como na Austrália, é comentada por Edenhofer como "completamente sem sentido".
"Estratégia multigás"
Segundo a terceira parte do Relatório de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, divulgado parcialmente na quarta-feira (21/02), a emissão de gases do efeito estufa tem que diminuir, substancialmente, até 2020, para que processos irreversíveis sejam evitados, como o derretimento da camada de gelo da Groenlândia e a acidez dos oceanos. Até 2030, 16 trilhões de dólares (12 trilhões de euros) devem ser investidos, especialmente em tecnologias de baixo CO2.
O relatório afirma que a comunidade internacional não deve somente se concentrar no gás prejudicial ao clima CO2. Em vez disso, uma "estratégia multigás" deve restringir o aumento de metano, óxido nitroso e outros gases do efeito estufa na atmosfera. Com isto, não somente carros e termelétricas estariam na mira dos pesquisadores climáticos, diplomatas e políticos. Metano e óxido nitroso provêm, sobretudo, da pecuária, do cultivo do arroz irrigado, respectivamente, da aplicação de adubos de nitrogênio na agricultura.
Combustíveis orgânicos e automóveis híbridos
Segundo os pesquisadores, a concentração de CO2 na atmosfera deve ser estabilizada em, no máximo, 420 ppm (partes por milhão de molécula de ar). Atualmente, este valor é de 383 ppm e aumenta, anualmente, em 2,5 ppm. A advertência do Conselho sobre o Clima da ONU: esta meta só pode ser atingida "se agirmos da forma mais conseqüente possível", conseguindo assim controlar o aumento do aquecimento global em, no máximo, dois graus Celsius.
A ultrapassagem deste limite de temperatura deve ser evitada, segundo os cientistas, pois as conseqüências das mudanças climáticas se tornariam incontroláveis. Segundo os autores do total de seis estudos, até 2050, a redução dos valores da emissão de gases deve ficar entre 48% e 86%, tendo como base os valores do ano 2000.
O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), colegiado internacional de cientistas, reunidos pelas Nações Unidas, recomenda ainda uma série de medidas. A elas pertencem o aumento do emprego de biocombustíveis, de automóveis híbridos, de novas usinas atômicas, mas também a reorganização do cultivo do arroz para espécies que não precisam de água para crescer, diminuindo assim a produção do gás prejudicial ao clima metano.
(Deutsche Welle, 08/03/2007)
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