Um amigo está encorajando o engenheiro químico Luiz Ruppenthal a delatar à Justiça os seus supostos cúmplices no episódio de poluição e mortandade de peixes no Rio dos Sinos. O motivo: em troca, o acusado ganharia benefícios previstos em lei nos 20 tipos de crimes ambientais pelos quais responde na ação civil e no processo criminal de 3,2 mil páginas em tramitação na Justiça de Estância Velha.
Ruppenthal é acusado de ser o principal responsável pelo derrame de produtos químicos nas águas do Arroio Portão, que teria causado a morte de 86 toneladas de peixes no Rio dos Sinos, em outubro. Era o diretor da Utresa, uma organização que trata lixo tóxico no Vale do Sinos. Há 101 dias, figura entre os foragidos no site do Departamento de Investigações Criminais (Deic). A empresa foi denunciada por 17 crimes ambientais.
- Ele (Ruppenthal) tem cidadania alemã, e temos pistas de que possa estar por lá (Alemanha). Estamos procurando tirar a limpo a informação com a colaboração da Polícia Federal - afirma o delegado de Capturas, Guilherme Yates Wondracek, que está no encalço do foragido com o auxílio de policiais de Estância Velha.
O advogado de Ruppenthal, Nereu Lima, refuta a sugestão para delatar supostos cúmplices:
- Confio na inocência dele. O mais importante, agora, é aguardar o nosso pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, para que ele responda (ao processo) em liberdade.
Um parente do acusado, consultado pelo amigo de Ruppenthal sobre a possibilidade de acordo com a Justiça, disse que a atitude poderia pôr em risco a vida do foragido. Logo depois do escândalo da Utresa, Ruppenthal teria sido vítima de dois atentados a tiros. A Polícia investiga o caso.
Para aceitar a delação, o Ministério Público e a Justiça precisariam concordar que as informações de Ruppenthal seriam importantes ao processo. No Ministério Público, suspeita-se de que Ruppenthal, para se salvar, tentaria dividir as responsabilidades pelos 20 tipos de crimes.
Investigação tenta esclarecer falha na fiscalização da Fepam
O foragido poderia, no entanto, elucidar um ponto do processo que é obscuro até para o Ministério Público. Se a Utresa era fiscalizada por técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), como teria ocorrido o desastre no Rio dos Sinos?
- Não tinha como saber que ele estava agindo com dolo - afirma o biólogo Jackson Müller, que, na época, era diretor técnico da Fepam e mantinha amizade de anos com Ruppenthal.
Müller foi nomeado pela Justiça um dos interventores técnicos da Utresa. Também se tornou uma das testemunhas de acusação nos processos contra Ruppenthal.
- Se houver uma denúncia concreta, nós vamos apurar - anunciou o diretor-presidente da Fepam, Irineu Ernani Schneider, ao ser questionado se iria investigar eventual dolo por parte de técnicos da Fundação na fiscalização da Utresa.
Os laudos usados pelo Ministério Público para vincular a Utresa aos crimes ambientais demonstram que dificilmente as irregularidades passariam despercebidas a um fiscal atento. Outra curiosidade sob investigação: a Utresa cobrava de seus clientes em torno de R$ 45 para tratar uma tonelada de lixo. Nos concorrentes, o preço era três vezes maior. Uma diferença considerável para não ser notada.
(Por Carlos Wagner,
Zero Hora, 09/03/2007)