Enquanto o Air Force One e outros seis aviões sobrevoavam a América Latina rumo ao Brasil, trazendo a bordo George Bush e sua comitiva, todas as críticas ao presidente dos Estados Unidos se concentraram em um caldo grosso de revolta, repúdio e desafio que entornou na Avenida Paulista e sacudiu as paredes do centro financeiro do país com uma mensagem clara: Bush não é bem-vindo no país.
O protesto, que reuniu em São Paulo cerca de 20 mil pessoas e que se seguiu à manifestação de comemoração do dia internacional das mulheres, foi palco para os mais variados posicionamentos anti-Bush, como o repúdio às guerras no Oriente Médio, seu enfrentamento com as forças políticas progressistas, principalmente na América Latina de Hugo Chávez (presidente venezuelano) e Evo Morales (Bolívia), seu intento de subordinação da região através de um novo projeto energético – a expansão dos monocultivos de cana para produção do etanol – nos países da América Central e Caribe para consumo dos Estados Unidos etc.
O anfitrião Lula, cujo partido e base aliada (PT, PC do B e PSB) se juntaram aos protestos, também foi foco de críticas. Tanto pelo convite a Bush quanto pelo teor dos acordos (cooperação bilateral na área de biocombustíveis e retomada das negociações da Organização Mundial do Comércio - OMC). Mas a principal acusação ao presidente brasileiro foi a colaboração com um projeto de ocupação do Haiti, onde as tropas brasileiras ainda comando as forças de paz da ONU.
Repressão e violência
De maneira geral pacífica, a marcha foi interrompida por um confronto com a Polícia Militar quando cerca de 60% dos manifestantes já haviam chegado ao MASP, ponto final do protesto. Com cerca de 300 homens da tropa de choque, a PM acabou reagindo a provocações com bombas de gás, balas de borracha e cacetetes, ferindo várias pessoas. Um manifestante foi violentamente espancado por mais de 10 políciais e levado preso para o 27º distrito.
“Estávamos tentando conter a manifestação quando a polícia reagiu desta forma. A polícia de São Paulo se mostrou, mais uma vez, despreparada para isso. A reação foi desproporcional. Houve um excesso brutal. Agrediu jornalistas e pessoas que estavam se manifestando em paz”, afirmou o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, mostrando a perna sangrando, braço e tronco com escoriações de estilhados de bomba e raspões de balas de borracha.
“Isso não vai nos intimidar. Não vamos deixar de nos manifestar porque a polícia reage com violência. Amanhã (hoje, 09/03) nossas atividades seguem normalmente. Vamos fazer o possível para chegar o mais perto de Bush”, avisa Petta.
(Por Verena Glass e Bia Barbosa,
Carta Maior, 08/03/2007)