Pesquisa apresentada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) aponta que trabalhadores de marmorarias na cidade de São Paulo estão expostos a uma quantidade de sílica cristalina (quartzo) até 54 vezes maior que a tolerada em normas internacionais. O estudo da química Ana Maria Tibiriçá Bon mostra que a sílica na poeira respirável que se desprende das rochas aumenta os riscos de silicose, doença pulmonar incurável.
Ana Maria pesquisou 27 marmorarias, analisou 762 amostras de ar e 122 amostras de matérias-primas. Também foram realizados exames clínicos e radiológicos em 267 trabalhadores. "Entre os acabadores, mais expostos à poeira, a concentração média de sílica cristalina respirável foi de 0,19 miligramas por metro cúbico de ar (mg/m3) durante uo uso de várias matérias-primas ao mesmo tempo", conta. "O valor de referência internacional adotado admite apenas 0,05 mg de sílica por metro cúbico de ar".
A química ressalta que a exposição à sílica cristalina respirável é maior em trabalhos com granito (rochas silicáticas), material mais usado nas marmorarias, e que contém até 30% de quartzo em sua composição.
"A concentração média de sílica cristalina respirável no ar foi de 0,36 mg/m3, mas encontrou-se até 3,55 mg/m3, 70 vezes mais que o valor de referência adotado", relata Ana Maria, pesquisadora da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro). "O teor de sílica cristalina respirável no ar pode chegar a 38% para o quartzito e até a 52% em rochas sintéticas, compostas de quartzo e cimento".
Regulamentação
O contato com a sílica cristalina respirável é maior entre os acabadores devido à técnica empregada para desbastar as rochas a seco. "No caso dos cortadores, a serragem do material é feita com água, para reduzir o desgaste da ferramenta de corte, reduzindo a quantidade de poeira", explica a pesquisadora. "Já os acabadores usam lixadeiras e discos de aço diamantado, fazendo o beneficiamento à seco e aumentando a exposição à sílica".
Entre os trabalhadores pesquisados, 25% referiram ter sintomas de distúrbios pulmonares. "A incidência de silicose chegou a 2%, próxima da média registrada pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, que é de 3%", diz Ana Maria.
Segundo a pesquisadora da Fundacentro, a medida de maior impacto na redução das concentrações de poeira nas marmorarias é o uso de ferramentas pneumáticas ou elétricas (com proteção contra choque), que trabalham com água. “Para estas situações de trabalho a concentração média de sílica cristalina respirável foi de 0,04mg/m3”, aponta. “O custo da implantação desse equipamento nas marmorarias de menor porte varia entre 15 e 20 mil reais, com venda financiada para micro e pequenos empresários”.
Ana Maria defende também uma revisão na legislação brasileira sobre exposição ocupacional à sílica, estabelecida na Norma Regulamentadora 15 (NR-15), anexo 12, do Ministério do Trabalho. "O limite permitido no País varia conforme o teor de sílica cristalina na poeira respirável a que o trabalhador está exposto, equivalendo aproximadamente ao dobro do nível tolerado no exterior". A pesquisa integra o Programa Nacional de Eliminação da Silicose, coordenado pela Fundacentro.
(PorJúlio Bernardes,
Agência de Notícias da USP, 08/03/2007)