Os clientes que levam o carro à oficina de Vanderlei Becker, na Rua Felix Hoppe, têm sempre uma pergunta em comum: cadê a
graxa? À primeira vista, o local parece tudo, menos uma mecânica. Isso graças à limpeza e organização. Mas esse nem é o
diferencial do estabelecimento. O aspecto visual é apenas resultado de uma preocupação ecológica que começou em dezembro de
2003, com a inauguração.
A graxa, que os clientes notam a falta, existe sim por lá – e em grande quantidade. Porém, todos os efluentes são tratados
para que a água utilizada na oficina chegue aos canos de esgoto limpa e livre de produtos químicos. O trabalho é feito
através de um sistema que realiza a decantação, separando todos os resíduos.
“Conheci esse processo em Dois Irmãos, onde eu tinha mecânica antes. Lá, todos os estabelecimentos que trabalham com óleo e
graxa são obrigados por lei municipal a cuidar dos efluentes, mas aqui não existe nada disso”, explica. Com o conhecimento
adquirido nos vários locais em que trabalhou, Becker reuniu uma série de ações com objetivo ecológico que agora estão sendo
aplicadas por ele e pela equipe de empregados.
A principal é essa de dar fim adequado aos dejetos. Como o tanque de decantação separa a sujeira da água, a graxa fica
armazenada em um outro recipiente, que é limpo a cada ano por uma empresa especializada. O sistema ainda conta com outros
canos e pequenas câmaras, por onde o líquido passa até ser despejado, cristalino, no sistema subterrâneo de coleta de esgoto.
“A água não fica própria para beber, mas sai limpa o suficiente para não poluir”, afirma.
O sistema foi aprovado e reconhecido pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Com o órgão, é possível obter
cópia do projeto. O custo, segundo o mecânico, é viável se confrontado com os benefícios, além de rapidamente diluído. “É
muito fácil de construir e o material não é complicado de encontrar por aqui. Fizemos o tanque de concreto, mas já há
fabricantes que disponibilizam o equipamento pronto em fibra.”
TOALHAS – Na mecânica de Vanderlei, a Auto Solução, até as toalhas são recicladas. No fim de cada semana, o material é
recolhido por uma empresa especializada, que devolve limpo e ainda dá destino correto aos resíduos que se desprendem dos
panos. Já o piso verde da oficina não chama atenção só pela cor. O chão tem função especial. “O piso possui inclinação e
pintura com tinta diferenciada, que facilita o escoamento dos resíduos”. Para completar, o lixo produzido é separado e, o que
dá para vender, é doado a um rapaz que faz a coleta semanalmente.
Na opinião de Vanderlei, são as futuras gerações que vão agradecer por esse investimento no ambiente. “Sempre tive uma
preocupação ecológica. Principalmente agora, que a gente vê a natureza sendo muito atacada”, diz. “Temos que começar a pensar
que a água potável vai acabar um dia. Eu não vou sentir os efeitos, mas meus filhos e netos, sim. Tomo essas atitudes desde
agora para que tenham um futuro digno.”
(
Gazeta do Sul, 08/03/2007)