Estudo apresenta os conflitos na expansão da agroenergia no Brasil
2007-03-08
Na semana do dia internacional da mulher, semana de luta dos movimentos sociais contra as monoculturas e o agronegócio, a mesma escolhida pelo Presidente Bush para tratar do tema da agroenergia no Brasil, organizações integrantes do Grupo de Trabalho Energia do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (GTEnergia do FBOMS) lançam estudo sobre os impactos locais nas áreas de expansão de produção de etanol e biodiesel do sudeste e centro-oeste brasileiro.
O estudo, desenvolvido pelos pesquisadores Wendell Ficher Assis e Marcos Cristiano Zucarelli, mestres em sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresenta uma análise de campo do que está acontecendo hoje nas áreas de expansão dos combustíveis chamados "verdes". Na realização da pesquisa foram percorridos cerca de oito mil quilômetros de cinco estados brasileiros e constatado que o avanço de monocultivos energéticos acirra os conflitos relacionados a destinação de terras para a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas e a competição com a produção de alimentos.
Para Zucarelli, as entrevistas com vários atores sociais possibilitaram identificar uma relação direta entre a expansão de cultivos energéticos e o aumento dos conflitos socioambientais. Segundo o pesquisador "a expansão propicia a concentração de terras, expulsa o homem do campo, ao mesmo tempo que pressiona biomas preservados, como regiões do Cerrado e da Amazônia".
Conforme Lucia Ortiz, coordenadora da ONG Amigos da Terra Brasil, os resultados do estudo se somam aos alertas sobre a falsa solução que representa o comércio internacional de biocombustíveis no combate às mudanças climáticas com justiça social e ambiental e "traz um retrato fiel do que as pessoas estão passando no campo com esta onda de expansão do agronegócio a serviço de uma economia que privilegia os automóveis e não as pessoas", enfatiza.
O estudo traz também exemplos de sustentabilidade e gestão democrática dos recursos energéticos, apresentando uma perspectiva de descentralização da produção e consumo, que possibilita a diversificação da produção rural e a permanência da agricultura familiar no campo. Para o membro da coordenação do GTEnergia, Wendell Assis, "estes exemplos desafiam uma lógica hegemônica que perpetua o Brasil como exportador de commodities agrícolas produzidas em larga escala".
(Rios Vivos, 07/03/2007)
http://www.riosvivos.org.br/canal.php?canal=75&mat_id=10318