Tartarugas-gigante nascem sem proteção em praia do ES
2007-03-08
Os ovos de dois dos ninhos de tartaruga-gigante encontrados em Praia Formosa, no município de Aracruz, já eclodiram. Sem acompanhamento, muitos dos filhotes se guiaram pela iluminação e deslocaram em direção ao continente, sendo esmagados por carros. Os outros ninhos estão abandonados, o que está revoltando os moradores.
O relato é do cineasta e artista plástico Tião Fonseca. Ele critica o Ibama e o Projeto Tamar, que abandoaram os ninhos. Exige que os órgãos se manifestem e protejam os ninhos restantes. Afirmou que um dos ninhos está sem identificação: a placa colocada pelo Tamar sumiu.
A desova da tartaruga-gigante, também conhecida como tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) em Praia Formosa é inédita. Os únicos locais conhecidos de reprodução da espécie no país são as praias de Comboios e Povoação, no município de Linhares. Fora esses locais, apenas um registro foi feito de desova da tartaruga-gigante em Jacaraípe, na Serra, na temporada de 2002/2003.
Segundo Tião Fonseca, cinco ninhos da tartaruga-gigante foram localizados em Praia Formosa. A tartaruga foi avistada durante a desova por uma moradora da região, durante uma caminhada na praia.
Nas áreas de desova de tartarugas marinhas é necessária a adaptação da iluminação, pois em postes convencionais ela desorienta os animais, entre outras providências.
Tião Fonseca indaga o que está acontecendo com as tartarugas marinhas, considerando que as desovas ocorrem fora dos locais de ocorrências tradicionais. "Por quê as tartarugas estão entrando ali? O que é preciso fazer para protegê-las?", quer saber o cineasta.
Ele tomou conhecimento de um outro caso ocorrido na região, na atual temporada. Uma tartaruga-gigante buscava desovar no mangue de Piraquê-açu. Um morador de Santa Cruz, que é biólogo, reorientou a fêmea, que voltou ao mar.
Tião Fonseca afirmou que a opinião corrente na região é que o registro de desova de tartaruga-gigante na Praia Formosa é um reforço à proposta de criação do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Santa Cruz e a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa das Algas, que estão sendo criados no litoral de Aracruz.
Essas unidades preservarão um ecossistema de importância planetária, que vem sendo destruído pela pesca predatória e outras atividades realizadas ilegalmente. O Revis e a APA não prejudicarão atividades industriais na região, como a exploração de petróleo. Tampouco afeta a navegação e as atividades do Portocel.
Animal pode pesar até 700 quilos
O site do projeto Tamar informa que o Espírito Santo "abriga o único ponto no Brasil com concentração de desovas da tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea), a espécie mais ameaçada de extinção em território brasileiro e uma das dez espécies de animais marinhos mais ameaçadas no mundo, e o segundo maior ponto de concentração de desovas da Tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta)".
Registra que a tartaruga-gigante é encontrada em todos os oceanos tropicais e temperados do mundo e seu habitat é principalmente alto-mar, sendo eventualmente encontrada em baías e estuários, durante a desova. Seu tamanho é de até 2 metros de comprimento curvilíneo de carapaça, com peso médio de 500 quilos, podendo atingir até 700 quilos. É cinzenta-escura ou preta, com pontos brancos e se alimenta essencialmente de medusas.
No Espírito Santo, ainda que em menor quantidade, também se reproduzem as tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata) e oliva (Lepidochelys olivacea). O estado é ainda importante área de alimentação da Tartaruga-verde (Chelonia mydas"). Existem sete espécies de tartarugas marinhas, agrupadas em duas famílias - a das Dermochelyidae e a das Cheloniidae. Dessas, cinco são encontradas no Brasil.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário - ES, 07/03/2007)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2007/marco/07/index.asp